A Amnistia Internacional alertou para o facto de o bairro do 2.º Torrão, na Costa da Caparica, Almada, continuar cheio de entulho, oito meses depois das primeiras demolições de habitações, o que está a provocar uma infestação de ratazanas.

Em comunicado, a Amnistia Internacional refere que na quinta-feira foram feitas novas demolições no bairro do 2.º Torrão, com o realojamento de cinco famílias que ainda permaneciam em habitações construídas em cima de uma vala.

Em outubro de 2022, algumas casas do bairro foram demolidas, tendo a Câmara de Almada justificado a ação com o risco de derrocada das construções situadas numa linha de água que atravessa o bairro. Depois dessas primeiras demolições, algumas famílias permaneceram na zona na sequência de providências cautelares interpostas por dois advogados que tem feito o apoio jurídico aos agregados.

Bairro 2º Torrão. “Não houve inação ou indiferença”

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Já a 19 de abril, durante uma audição numa comissão da Assembleia da República, em Lisboa, moradores do bairro, entre os quais alguns dos que agora foram realojados, pediram ajuda, acusando a Câmara de Almada, no distrito de Setúbal, de ter levado a cabo um processo “de desalojamento” no bairro do 2.º Torrão e de atentar contra os direitos humanos.

Agora, oito meses depois das primeiras demolições, a Amnistia Internacional identificou problemas no realojamento que aconteceu a semana passada.

“Pouco mudou na área onde aconteceram as demolições há oito meses. Há muito entulho e também há mais lixo. Os vizinhos falam de várias infestações na zona”, refere a AI.

Além da questão do entulho que permanece no bairro, a AI salienta que entre as preocupações apontadas pelos moradores está o curto espaço de tempo entre a comunicação e o realojamento, bem como o facto de as novas casas não terem em consideração problemas de mobilidade. Na nota, a AI relata o caso de uma jovem, que tem um bebé com 20 dias, e que indicou que a casa que lhe foi atribuída não tem condições e estava suja, mas que não teve hipótese de escolha.

Outra moradora, que tem problemas de mobilidade e uma filha doente oncológica, contou à AI que a nova habitação, na freguesia do Feijó, tem apenas um quarto e três lances de escada.

Outros moradores, segundo a AI, vão ser realojados no concelho da Moita e temem perder os empregos na Costa da Caparica, uma vez que começam a trabalhar muito cedo, a uma hora em que ainda não há autocarros. Na nota, a AI adianta que questionou a Câmara Municipal de Almada sobre os problemas apontados, mas não obteve resposta.