Alina Kovaliova, uma adolescente ucraniana de 15 anos, foi enganada pela mãe pró-russa de um amigo e levada para a Rússia, entrando na lista de milhares de crianças levadas da Ucrânia em troca de benefícios financeiros.

Segundo os dados do Ministério da Reintegração da Ucrânia, desde o início da invasão, mais de 19 mil crianças foram deportadas para a Rússia. Destas, quase 13 mil foram localizadas e 370 regressaram ao seu país — Alina foi uma delas.

Casos de menores ucranianos deportados para a Rússia são pelo menos 19.400

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aos 15 anos, a jovem vivia com a família na região de Kherson, ocupada pela Rússia, no sul da Ucrânia, juntamente com Yvgenia, a mãe pró-russa do seu melhor amigo. Através de mentiras e manipulação, a mulher conseguiu fazer com que Alina concordasse quando esta lhe propôs que fugissem para a Rússia à procura de segurança.

[Ouça aqui o segundo episódio do podcast “Piratinha do Ar”, a história real do miúdo de 16 anos que sequestrou um avião da TAP com 82 passageiros a bordo. Se perdeu o primeiro episódio, pode encontrá-lo aqui]

“Esta mulher mentiu à Alina”, disse Svitlana Popova, a mãe da jovem, ao jornal  The Guardian. “Ela disse-lhe: ‘Como tu falaste com soldados russos durante a ocupação e levaste comida e água depois da libertação, os soldados ucranianos vão torturar-te e matar-te. Temos de fugir porque estamos em perigo”, explicou.

Apesar das tentativas de Svitlana para fazer a filha perceber que era tudo mentira, Alina não acreditou e, em outubro de 2022, roubou a certidão de nascimento e fugiu com a mulher pró-russa.

Com Alina ao seu cuidado, Yvgenia viu aí uma forma de conseguir dinheiro e um apartamento melhor na Rússia. No país, há um registo de famílias russas adequadas para acolher crianças ucranianas. Por cada uma que obtenha a cidadania, as famílias recebem uma boa quantia de dinheiro — até 1.000 euros (cerca de 932 euros) se forem crianças com deficiências, de acordo com a Associated Press.

A luta incessante dos pais e mães que atravessam meio mundo pelos filhos “presos” na Rússia

A 1.500 quilómetros de casa, Alina passou meio ano em Mordóvia antes de a mãe a localizar através das redes sociais. Quando Svitlana a contactou, percebeu que a filha estava a ser mal tratada.

“Eu estava tão assustada”, disse a jovem ao The Guardian. “A Yvgenia era tão amigável quando eu estava na Ucrânia, mas ela enganou-me. Quando soube que eu estava a falar com a minha mãe ficou chateada e bateu-me. Ela estava obcecada com o dinheiro e com o que conseguia ganhar das autoridades ao tomar conta de mim”, contou.

Com a ajuda da organização não-governamental Save Ukraine, Svitlana viajou até à Rússia onde, junto dos serviços sociais, fez uma declaração formal em como a jovem era sua filha. Se tivesse chegado quatro dias mais tarde, teria sido o tempo suficiente para Yvgenia terminar o processo de adoção e arranjar um bilhete de identidade russo para Alina. “Nessa altura, ela seria russa e não havia nada que eles pudessem fazer”, explicou a mãe da jovem.

De acordo com Mykola Kuleba, CEO da Save Ukraine, tal como Alina, são várias as crianças ucranianas raptadas e levadas para a Rússia em troca de dinheiro.

“Um rapaz que resgatámos de uma escola russa disse que tinha estado com outro rapaz de Mariupol que tinha sido colocado numa família muito pobre de alcoólicos. Ele era ignorado e passava fome todos os dias. Para mim, isto sugere que eles o adotaram para ganhar dinheiro para comprar álcool”, contou, citado no The Guardian.

Desde o início da invasão russa, a organização não-governamental efetuou seis missões à Rússia para ajudar familiares de crianças ucranianas deportadas a encontrá-las e trazê-las de volta ao seu país.