Representantes dos trabalhadores da antiga refinaria da Galp em Matosinhos, no distrito do Porto, disseram esta terça-feira no parlamento que a vida dos ex-funcionários “continua muito precária”, sem soluções de futuro e com o subsídio de desemprego a acabar.

“O certo é que hoje temos cerca de 55 trabalhadores que estão ainda inscritos no fundo de desemprego. Eles são mais: como sabem, muitos deles já acabaram o fundo de desemprego e devem ter saído dos registos, mas a vida deles continua muito precária, para não irmos a termos mais penosos”, disse esta terça-feira Mário Matos, dirigente da Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas (FIEQUIMETAL).

O responsável sindical falava na Comissão de Ambiente e Energia da Assembleia da República, em Lisboa, onde a FIEQUIMETAL foi ouvida, a par com a Comissão Central de Trabalhadores (CCT) da Petrogal, a pedido do grupo parlamentar do PCP.

Segundo Mário Matos, os trabalhadores da unidade industrial que encerrou em 2021 “não veem quaisquer soluções”, sendo essa a pretensão dos representantes dos trabalhadores, que criticam o não envolvimento destes no encerramento da refinaria, “debaixo do ‘chapéu’ de uma transição justa, que de justa nada teve”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O sindicalista criticou “os anunciados pregões em que com a transição justa ninguém ia ficar para trás”, considerando que o que se constatou foi que os “trabalhadores da Petrogal ficaram para trás e não têm qualquer perspetiva de futuro”.

“Alguns deles poderão dizer que já resolveram a sua vida, mas tiveram que resolver pelos seus próprios meios, e quiçá, num número que não temos apurado, alguns deles tiveram que emigrar do país e levar todo o know-how [competências] que tinham para fora”, lamentou.

Já Hélder Guerreiro, presidente da CCT da Petrogal, questionou “qual foi a pressa de encerrar a refinaria” se a transição justa para os trabalhadores estaria, teoricamente, assegurada.

“Não encontramos [justificação], mas vamos continuar a perguntar, pode ser que alguém, algum dia, nos saiba dizer porque é que se encerrou a refinaria do Porto. Não há um argumento válido que sustente o encerramento”, disse o presidente da CCT.

Trabalhadores da antiga refinaria da Galp em Matosinhos “deixados para trás”, diz sindicato

Mais tarde, Hélder Guerreiro disse que não estava em causa “uma transição energética”, nem “um processo de descarbonização”, uma questão que considerou “bastante clara”.

“É possível fazer a transição energética com os empregos? Completamente. Nós não entendemos que haja aqui uma dicotomia”, defendeu.

Hélder Guerreiro considerou ainda que a formação de maquinista proposta a alguns ex-trabalhadores da refinaria “não resolve” os problemas, porque tudo “está a ser colocado tardiamente” e implica processos de recrutamento e seleção.

Assim, a solução visada é a reintegração, defendendo o responsável que “a Galp e a Petrogal têm todas as condições para reintegrar estes trabalhadores”, sendo “fundamental que o Governo assuma, de uma vez por todas, que é isso que quer”.

O encerramento da refinaria foi comunicado pela Galp em dezembro de 2020 e concretizado no ano seguinte, num processo muito criticado pelas estruturas sindicais.

A Câmara Municipal de Matosinhos constituiu um Comité Científico e um Conselho Consultivo sobre a Reconversão da Refinaria, e em fevereiro de 2022, a Galp, a autarquia e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N) adiantaram que a antiga refinaria daria lugar a uma cidade da inovação ligada às “energias do futuro”.

Já este ano foi anunciada a instalação de um Centro Internacional de Biotecnologia Azul no local, que contará ainda com a colaboração da Fundação Oceano Azul.