As duas jornalistas que revelaram o caso de Mahsa Amini, a jovem curda que morreu sob custódia policial depois de ser detida por usar de forma considerada incorreta o véu islâmico, estão a ser julgadas pela justiça iraniana, podendo vir a enfrentar pena de morte.
Realizados à porta fechada, os julgamentos tiveram início na segunda-feira, avançou a Al Jazeera. Por terem feito a cobertura jornalística da morte de Amini, as duas jornalistas estão a ser acusadas de serem agentes estrangeiras da CIA — colaborando com o governo dos EUA —, de cometerem crimes contra a segurança nacional do Irão e de participarem em atividades de propaganda contra o regime.
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Niloofar Hamedi, do diário Shargh, foi a primeira jornalista a publicar imagens de Amini no hospital, quando ainda estava em coma, e dos pais abraçados, depois de terem sido informados da sua morte.
Niloofar Hamedi, one of the Iranian journalists who broke the Jina #MahsaAmini story, will be in court today.
She faces charges that could result in execution, simply for doing her job.
Please continue to be her voice. Journalism is not a crime.@tagesschau @heutejournal @BILD pic.twitter.com/T0RzbD1K4k
— Tschakawak Flory (@TschakawakFlory) May 30, 2023
No Twitter, o marido da jornalista partilhou o início do julgamento, adiantando que a sua mulher se declarou inocente e que, ao noticiar o caso de Amini, “cumpriu o seu dever enquanto jornalista de acordo com a lei”.
The first session of the court for Niloufar Hamedi was held today in Branch 15 of the Revolutionary Court, chaired by Judge Salavati, and was conducted in camera. In this session, Niloufar denied all the charges against her and emphasized that she had acted within the framework… https://t.co/Zxwx5MiMha
— Karim (@Vakil_e_Roaya) May 30, 2023
Detida a 21 de setembro, cinco dias depois da morte da jovem curda, Hamedi passou os últimos meses presa em regime de isolamento. Durante o julgamento, os seus advogados não tiveram a oportunidade de defendê-la e os membros da sua família não foram autorizados a assistir à sessão.
A segunda jornalista, Elahe Mohammadi, do diário Ham Mihan, cobriu o funeral de Amini, em Saqqez, no Curdistão. Foi detida em casa, a 22 de setembro.
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“O julgamento de Elahe Mohammadi correu bem. Estamos à espera que o tribunal anuncie a data da próxima sessão”, declarou o advogado da jornalista, Shahabeddin Mirlohi, citado na Al Jazeera, criticando ainda a justiça iraniana por não ter podido falar com a sua cliente — que também se declarou inocente — até dois dias antes do julgamento.
A organização Repórteres Sem Fronteiras exigiu, através de uma publicação no Twitter, a libertação das duas jornalistas: “Denunciamos esta farsa de justiça e exigimos a sua libertação.”
????????️Incarcérées en #Iran depuis 9 mois, Niloofar Hamedi et Elaheh Mohammadi doivent être jugées à partir des 29 et 30 mai, mais elles n'ont toujours pas pu s’entretenir avec leurs avocats ! RSF dénonce un simulacre de justice et demande leur libération.????https://t.co/rbx1p1XSwy
— RSF (@RSF_inter) May 28, 2023
A morte de Mahsa Amini desencadeou os maiores protestos contra o governo e o sistema teocrático do Irão em décadas. Ao longo dos meses, as manifestações foram diminuindo devido à forte repressão do governo que causou a morte a 500 pessoas. Milhares foram detidas, tendo havido ainda sete execuções, uma delas em praça pública.
Hamedi e Mohammadi são duas das centenas de jornalistas presos por cobrirem o caso de Amini. Segundo o jornal El Mundo, 13 jornalistas continuam em prisão preventiva.