As duas jornalistas que revelaram o caso de Mahsa Amini, a jovem curda que morreu sob custódia policial depois de ser detida por usar de forma considerada incorreta o véu islâmico, estão a ser julgadas pela justiça iraniana, podendo vir a enfrentar pena de morte.

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Realizados à porta fechada, os julgamentos tiveram início na segunda-feira, avançou a Al Jazeera. Por terem feito a cobertura jornalística da morte de Amini, as duas jornalistas estão a ser acusadas de serem agentes estrangeiras da CIA — colaborando com o governo dos EUA —, de cometerem crimes contra a segurança nacional do Irão e de participarem em atividades de propaganda contra o regime.

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Niloofar Hamedi, do diário Shargh, foi a primeira jornalista a publicar imagens de Amini no hospital, quando ainda estava em coma, e dos pais abraçados, depois de terem sido informados da sua morte.

No Twitter, o marido da jornalista partilhou o início do julgamento, adiantando que a sua mulher se declarou inocente e que, ao noticiar o caso de Amini, “cumpriu o seu dever enquanto jornalista de acordo com a lei”.

Detida a 21 de setembro, cinco dias depois da morte da jovem curda, Hamedi passou os últimos meses presa em regime de isolamento. Durante o julgamento, os seus advogados não tiveram a oportunidade de defendê-la e os membros da sua família não foram autorizados a assistir à sessão.

A segunda jornalista,  Elahe Mohammadi, do diário Ham Mihan, cobriu o funeral de Amini, em Saqqez, no Curdistão. Foi detida em casa, a 22 de setembro.

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“O julgamento de Elahe Mohammadi correu bem. Estamos à espera que o tribunal anuncie a data da próxima sessão”, declarou o advogado da jornalista, Shahabeddin Mirlohi, citado na Al Jazeera, criticando ainda a justiça iraniana por não ter podido falar com a sua cliente — que também se declarou inocente — até dois dias antes do julgamento.

A organização Repórteres Sem Fronteiras exigiu, através de uma publicação no Twitter, a libertação das duas jornalistas: “Denunciamos esta farsa de justiça e exigimos a sua libertação.”

A morte de Mahsa Amini desencadeou os maiores protestos contra o governo e o sistema teocrático do Irão em décadas. Ao longo dos meses, as manifestações foram diminuindo devido à forte repressão do governo que causou a morte a 500 pessoas. Milhares foram detidas, tendo havido ainda sete execuções, uma delas em praça pública.

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Hamedi e Mohammadi são duas das centenas de jornalistas presos por cobrirem o caso de Amini. Segundo o jornal El Mundo, 13 jornalistas continuam em prisão preventiva.