Quase um mês depois do aviso que deu ao Governo, o Presidente da República mantém a posição, que é como quem diz: João Galamba devia ter sido substituído do Ministério das Infraestruturas e o Governo continua debaixo de “fiscalização ainda mais apertada”. Acrescenta agora que esta mesma avaliação também está a ser feita sobre a oposição. Quando questionado sobre o envolvimento de figuras sociais-democratas em processos judiciais, Marcelo disse que “não se concentra apenas no prestígio das instituições ligadas ao poder mas também no prestígio das instituições ligadas à oposição“.

À margem do evento “Músicos no Palácio de Belém”, o Presidente diz que se mantém no mesmo compasso, ainda que a melodia económica soe mais positiva nos últimos dias. “Por toda a Europa e em Portugal, há sinais positivos”, respondeu Marcelo. Mas continua a fazer “o acompanhamento da situação económica, social e política”, avisa, detalhando: “Pode haver situação económica muito boa, a situação social ser pacífica e a situação política não o ser. O Presidente tem de acompanhar as três”, diz sem valorizar uma sobre as outras.

Não fala sobre o que tem ouvido na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, mas vai marcando os tempos, ao dizer que “até hoje” não viu razões “para mudar o pensamento traduzido diretamente aos portugueses no dia 4 de maio“.

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A minha posição de substância sobre o problema é a que disse no dia 4. Disse o que pensava da composição do  Governo e sobre as ilações que tirava disso. Não mudei”. Nessa altura defendia — e mantém — a saída do ministro João Galamba, afirmando que “um governante sabe que, ao aceitar sê-lo, aceita ser responsável por aquilo que faz e não faz. E também por aquilo fazem e não fazem aqueles que escolhe. E nos quais é suposto mandar.” Entretanto, na comissão de inquérito o ministro das Infraestruturas apresentou uma nova versão do reporte do Governo ao SIS (em comparação com a que apresentou 29 de abril, em conferência de imprensa).

Sobre este ponto concreto, Marcelo nada acrescenta. Dá a entender que quem o contactou sobre o assunto foi o primeiro-ministro e que “ao longo deste período” concentrou “contactos numa só entidade oficial“. E que “desde o início do conhecimento do processo” que sempre achou o que disse a 4 de maio: que o ministro devia sair.

Desde então prometeu atenção aos tais três planos, económico político e social, e isso, diz agora, nada tem a ver com os resultados eleitorais que vierem no caminho — há regionais na Madeira e Europeias. Confrontado com as declarações de Montenegro, que desvalorizou uma eventual derrota eleitoral por “dois ou três pontos”, Marcelo atirou apenas que “o Presidente deve acompanhar a atuação do Governo e não tem a ver com a eleição A, B ou C, tem que ver com a situação económica, como evolui a situação social e a situação política, isto é, o prestígio das instituições.”

E, neste ponto, Marcelo diz que as “instituições devem ser permanentemente prestigiadas” para que “não haja descolagem dos portugueses em relação às instituições democráticas” — também diz que isso “pode ser provocado por problemas em qualquer hemisfério“.  E a sua avaliação permanente envolve a oposição, com Marcelo a ser questionado sobre o regresso ao Parlamento de Pinto Moreira, o social-democrata arguido na Operação Vórtex (contra a vontade da direção do partido) e a dizer que também está concentrado “no prestígio das instituições ligadas à oposição” e não só a quem está no poder.

Também desvia ligações no plano nacional ao que se passa em Espanha. Para Marcelo, “a situação espanhola é muito específica e está noutra fase do ciclo politico. Não darei importância significativa a não ser nisto: é fundamental que a presidência espanhola [da UE] corra bem”, afirmou.

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