Dois linces-ibéricos serão acolhidos, até ao final do ano, no Parque Biológico de Gaia, no âmbito de um protocolo com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), revelou esta quarta-feira à Lusa a Câmara Municipal.

Os animais chegarão de Silves, no Algarve, desconhecendo, para já, a autarquia do distrito do Porto se será um casal e qual a idade de ambos, revelou fonte do município, que deu conta de o pedido ter sido de “um macho e uma fêmea”.

Ate lá, a autarquia está a construir as “instalações necessárias dentro dos princípios do bem-estar animal”, num investimento de cerca de “377 mil euros, com um prazo de execução de 120 dias”, pelo que deverá estar concluído “em meados de outubro”, indicou a fonte.

O local onde está a ser construído no Parque Biológico “insere-se numa área em que estão localizadas outras espécies que coabitam o ecossistema do lince-ibérico, como os javalis e os corços, sendo que também as espécies vegetais ali existentes são as mais adequadas para os animais em questão”, lê-se ainda.

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Construído próximo do percurso de descoberta do Parque Biológico, “os visitantes poderão aceder ao observatório por um caminho específico, podendo os linces ser vistos através de um vidro”, assim limitando “a exposição dos animais ao ruído exterior”.

“Também não existirá qualquer cercado de animais a menos de vinte metros de todos os limites, de forma a provocar o menor stresse ambiental possível para os novos hóspedes do parque. O cercado exterior terá 506 metros quadrados, respeitando todas as diretivas em vigor”, indica a autarquia.

No local em construção, os animais ficarão com “uma boa exposição à luz solar, com algumas sombras provocadas pela vegetação existente”, sendo que o “observatório será construído” para que haja “o mínimo possível de efeito de contraluz”, continua o documento.

O espaço de acolhimento incluirá “uma sala de isolamento pensada para o caso de ser necessário afastar um dos espécimes (…) e outra sala de apoio (veterinário) que permitirá a lavagem de taças de alimentação, a preparação de alimentação e a localização de outros equipamentos, como sistemas de videovigilância”, descreve a município.

O censo sobre o lince-ibérico feito em 2022 indica a existência de mais de 1.600 exemplares na Península Ibérica, a grande maioria (84,3%) em Espanha, tendo Portugal 261 indivíduos (15,7%).

De acordo com os dados divulgados a 19 de maio, os 1.407 linces em Espanha e os 261 em Portugal estão distribuídos por 15 núcleos populacionais, um deles em Portugal. O ICNF recordou, nessa data, que desde o início deste século foram feitas ações de conservação do lince-ibérico, graças às quais a população atingia em 2020 os mil exemplares.

O lince-ibérico, uma espécie considerada em Portugal “criticamente em perigo”, prefere habitats de características mediterrânicas, concretamente bosques, matagais e matos densos, continua o comunicado da autarquia.

A dieta da espécie tem por base o coelho-bravo, que representa entre 75% a 95% da sua dieta. Em épocas e regiões de menor abundância, esta presa é substituída por roedores, lebres, cervídeos e patos-bravos, lê-se ainda.

Entre as principais ameaças para a extinção, os cientistas destacam a perda de habitat e a fragmentação da paisagem, a regressão vertiginosa das populações de coelho-bravo nas décadas mais recentes e a mortalidade induzida pelo ser humano, nomeadamente no que se refere à caça ilegal, envenenamento e atropelamento, descreve a nota de imprensa.