Os Estados Unidos estão preparados para respeitar os limites estabelecidos pelo acordo de não-proliferação New START com Moscovo em relação ao número de ogivas nucleares “desde que a Rússia faça o mesmo”, disse esta um conselheiro da Casa Branca.

Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Presidência norte-americana, afirmou que, apesar das tensões, o executivo norte-americano está pronto para discutir a não-proliferação nuclear com a Rússia e a China “sem condições prévias”, embora tenha salientado que Pequim “não mostrou vontade” de o fazer até à data.

Sullivan sublinhou que a administração liderada pelo Presidente Joe Biden “está pronta” para falar com a Rússia sem condições sobre um futuro quadro de controlo de armas nucleares, mesmo tomando medidas de resposta à decisão do Kremlin de suspender o último tratado de controlo de armas nucleares entre os dois países.

Em fevereiro, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que iria suspender a cooperação da Rússia com as disposições do Tratado New START relativas às inspeções de ogivas nucleares e mísseis, numa altura em que as tensões se agravaram após a invasão da Ucrânia por Moscovo. A Rússia assegurou, então, que respeitaria os limites do tratado sobre armas nucleares.

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Numa intervenção na reunião anual da Associação de Controlo de Armas norte-americana, Sullivan disse que os Estados Unidos da América (EUA) estão empenhados em aderir ao tratado se a Rússia também o fizer, e que Washington quer abrir um diálogo sobre um novo quadro para a gestão dos riscos nucleares quando o tratado expirar em fevereiro de 2026.

“Não é do interesse de nenhum dos nossos países abrir a competição nas forças nucleares estratégicas. E em vez de esperarmos para resolver todas as nossas diferenças bilaterais, os EUA estão prontos para envolver a Rússia agora para gerir os riscos nucleares e desenvolver um acordo pós-2026″, disse Sullivan.

Os Estados Unidos, prosseguiu o conselheiro, estão dispostos a manter os limites das ogivas até ao fim do tratado, admitindo porém que a definição de pormenores sobre um quadro pós-2026 será “complicada” devido à tensão entre os Estados Unidos e a Rússia e pelo crescente poder nuclear da China.

A China possui atualmente cerca de 410 ogivas nucleares, de acordo com um inquérito anual da Federação de Cientistas Americanos.

Em novembro, o Pentágono (Departamento de Defesa dos EUA) estimou que o número de ogivas da China poderia aumentar para 1.000 até ao final da década e para 1.500 por volta de 2035.

A dimensão do arsenal chinês e o facto de Pequim estar ou não disposta a encetar um diálogo substantivo “afetarão a futura postura de força” dos Estados Unidos e a capacidade de Washington para chegar a um acordo com os russos, afirmaram fontes da administração Biden, citadas pela agência noticiosa Associated Press (AP).

As relações entre os Estados Unidos e a China têm sido tensas devido ao abate de um balão espião chinês este ano, depois de ter atravessado o território continental dos Estados Unidos.

Por outro lado, há também as tensões sobre o estatuto da ilha autónoma de Taiwan, que a China reivindica como sua e ainda sobre os controlos de exportação dos Estados Unidos destinados a limitar o equipamento avançado de semicondutores da China, entre outras questões.

“Em termos simples, ainda não vimos a vontade da China de compartimentar a estabilidade estratégica das questões mais amplas da relação”, disse Sullivan.

A pressão da Casa Branca sobre Moscovo em matéria de controlo do armamento nuclear surge um dia depois de a administração Biden ter anunciado novas medidas em resposta à suspensão da participação da Rússia no tratado.

O Departamento de Estado norte-americano afirmou que deixaria de notificar a Rússia de quaisquer atualizações sobre o estado ou a localização de “itens que são objeto do tratado”, tais como mísseis e lançadores.

Por outro lado, acrescentou que revogaria os vistos norte-americanos concedidos aos inspetores russos do tratado e aos membros da tripulação aérea e deixaria de fornecer informações telemétricas sobre os testes de lançamento de mísseis balísticos intercontinentais e de mísseis balísticos lançados por submarinos.

No início deste ano, os Estados Unidos e a Rússia deixaram de partilhar os dados semestrais sobre armas nucleares exigidos pelo tratado.

O tratado, que os então Presidentes Barack Obama e Dmitri Medvedev assinaram em 2010, limita cada país a um máximo de 1.550 ogivas nucleares e 700 mísseis e bombardeiros, e prevê inspeções no local para verificar o seu cumprimento.

As inspeções têm estado inativas desde 2020 devido à pandemia de covid-19. As discussões sobre o reinício deveriam ter decorrido em novembro de 2022, mas a Rússia cancelou-as abruptamente, invocando o apoio dos EUA à Ucrânia.