Talvez tenha sido um ótimo dia para um troféu se sentir inútil por não valer por si só. A final da FA Cup viveu um ambiente mais parecido com uma semi-final, com as sensações divididas pelo que podia acontecer esta tarde em Wembley e o que pode vir a acontecer no próximo sábado em Istambul. Para o Manchester City, a Taça de Inglaterra era isso: uma ponte para o treble.

Ultrapassando o Manchester United e já com a Premier League no bolso, os citizens ficavam à distância da modesta tarefa de conquistar a Liga dos Campeões para alcançarem um feito que só não é inédito em Inglaterra, porque o rival do lado vermelho da cidade o conseguiu em 1999 com Sir Alex Ferguson. Não deixa de ser irónico que fossem os red devils a terem nos pés a possibilidade de impedirem o City de fazer o combo campeonato-taça-Liga dos Campeões.

“Queremos ganhar a Taça. Não se trata de parar o Manchester City. É sobre ganharmos a taça, temos uma grande oportunidade”, lançou o treinador do United, Erik ten Hag, que esta época já arrecadou a Carabao Cup. “Merecemos a oportunidade de estar na final da Taça e enfrentar o City”. Deste modo, o técnico neerlandês descartou que existisse especial motivação para tentar travar o rival. “Os jogadores querem coroar a temporada, o que os pode motivar mais?”.

Pep Guardiola evitou pensar no que quer que fosse além da final da FA Cup.”As finais dependem de como jogas no momento, não do que se fez no passado”, explicou o treinador do Manchester City. “Não é importante pensar no passado, é um jogo. Temos que fazer o nosso melhor”.

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Num jogo arbitrado por Anthony Taylor, árbitro muito criticado por José Mourinho e pelos adeptos da AS Roma devido à prestação na final da Liga Europa, Pep Guardiola tinha todos os jogadores à disposição e apresentou como novidade Ortega na baliza, guarda-redes que tem sido opção para a baliza nas partidas da FA Cup. Erik ten Hag, por sua vez, não contou com o lesionado Anthony.

O que aconteceu depois soou à despedida perfeita de alguém que passou sete épocas em Inglaterra e está em vias de rumar a Espanha para representar o FC Barcelona. Ainda as mãos dos jogadores estavam quentes do aperto de mão do Príncipe Harry e Gündoğan (1′) marcava o primeiro golo naquele que pode ter sido um dos pontapés de saída mais bem sucedidos de sempre.

Se Pep Guardiola é dos principais defensores da ideologia do “bola no chão” que tanto se tenta incutir aos jovens quando começam a jogar futebol, foi contra os próprios princípios que o Manchester City voltou a marcar e de novo por intermédio de Gündoğan (51′). Canto de Kevin De Bruyne e o alemão bisou de pé esquerdo sem deixar cair a bola num golo nada estético, mas altamente valioso.

No meio de um dia que foi de Gündoğan, Bruno Fernandes (34′) tentou travar o embalo do Manchester City da mesma maneira que quebrou o ritmo a que correu para a bola na hora de bater Ortega da marca de grande penalidade. Como tantas vezes aconteceu esta época, o esforço do português acabou por ser solitário perante um que City acabou o jogou a fazer da entreajuda um seguro de vida. O defesa dos citizens, Stones, já em período de compensação, acabou por usar a cabeça para cortar um remate de Bruno Fernandes, num lance em que acertou meio na bola, meio na barra.

As lágrimas de Guardiola, que vieram com a confirmação do 2-1 e com a conquista da sétima FA Cup dos citizens, são de quem pensa na história como algo que está para chegar e não como um conjunto de acontecimentos passados. Tudo porque poucos fizeram o que este Manchester City está a um passo de fazer. Quando na antevisão ao jogo com o Sheffield United, também para a FA Cup, perguntaram ao treinador espanhol pela possibilidade de conseguir o treble a “apenas 11 jogos do fim”, o técnico ironizou. “Hey, hey, hey, só 11 jogos…”. Está a um de o conseguir.