Moscovo e Kyiv voltaram hoje a trocar acusações desta vez sobre a destruição parcial da barragem hidroelétrica de Kakhovka, no sul da Ucrânia, com ambas as partes a pedirem uma condenação internacional.

“Pedimos à comunidade internacional que condene as ações criminosas das autoridades ucranianas, que são cada vez mais desumanas e representam uma séria ameaça à segurança regional e global”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia em comunicado.

Moscovo pretende levar a questão ao Conselho de Segurança da ONU, à Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e a outras organizações internacionais, acrescentou.

A destruição parcial desta barragem — localizada no limite das posições entre as partes beligerantes no rio Dniepre –, ocorrida hoje na sequência de uma explosão, provocou inundações que afetaram tanto as áreas controladas por Kyiv como as ocupadas pelas tropas russas.

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Moscovo indicou “danos colossais infligidos à agricultura da região e ao ecossistema do estuário do Dniepre”, além de problemas no abastecimento de água da Crimeia, península anexada em 2014 pela Rússia.

O ministério russo acusou Kiev de ter “planeado com antecedência e deliberadamente para fins militares” a destruição desta barragem.

“Kiev não só submeteu a central hidroelétrica de Kakhovka a um bombardeamento massivo, como também elevou deliberadamente o nível da água da albufeira de Kakhovka a um nível crítico ao abrir as comportas da central hidroelétrica de Dnipropetrovsk”, disse ainda.

A Ucrânia, por sua vez, acusa as forças russas de terem explodido a barragem para impedir qualquer ofensiva na área.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também pediu hoje que “o mundo reaja” à destruição desta barragem.

Já ao fim do dia, o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano emitiu um comunicado, no qual descreve que “as forças russas explodiram a barragem de Kakhovka no território ocupado no sul da Ucrânia”, acrescentando que “essa enorme estrutura de betão continha 18,3 quilómetros cúbicos de água” e que a população civil e o ambiente a jusante do rio Dniepre “já estão a sofrer danos tremendos como resultado das inundações”.

Segundo o comunicado da diplomacia de Kyiv, Volodymyr Zelensky convocou imediatamente o Conselho Nacional de Segurança e Defesa e “os serviços de emergência ucranianos estão a trabalhar arduamente para mitigar as consequências e salvar vidas”.

O ministério indicou também que a Ucrânia convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas e vai levar “a questão do ato terrorista russo” ao Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atómica.

“Também cooperaremos com o Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia [UE] e outros mecanismos internacionais para mitigar as consequências e responsabilizar a Rússia”, segundo o documento, que considera que, “à luz dos acontecimentos no campo de batalha, o ato terrorista deliberado e há muito planeado da Rússia transformou a inundação provocada pelo Homem numa arma”.

De acordo com as autoridades ucranianas, ecossistemas inteiros estão a enfrentar danos irreversíveis e de longo prazo por causa das inundações, referindo que os animais do jardim zoológico de Nova Kakhovka já morreram com a subida das águas, e “este é apenas o começo” do que considera “um ecocídio numa escala regional, não apenas ucraniana”.

“O desastre de Kakhovka é mais uma prova de que a Rússia é um Estado terrorista. Todos os países, parlamentos e organizações internacionais devem reconhecer a Rússia como tal — sem demora”, apelou o documento, que pediu à UE e aos Estados-membros do G7 (grupo das sete maiores economias) que imponham “novas sanções devastadoras” à Rússia, incluindo à sua indústria de mísseis e esfera de energia atómica.