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Quatro crianças e um adulto foram feridas num ataque com uma faca, na manhã desta quinta-feira, em França. De acordo com a imprensa internacional, um homem deslocou-se a um parque infantil na zona de Annecy, na zona leste do país, cerca das 9h45 (menos uma hora em Lisboa) e atacou várias pessoas que se encontravam no local.

Entre as vítimas do ataque encontram-se uma criança com 22 meses, uma com dois anos e outra com três anos. Duas das quatro crianças ainda estavam esta sexta-feira de manhã em situação crítica, com um prognóstico reservado, revelou Olivier Véran, o porta-voz do governo.

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Uma das crianças é britânica, como confirmou entretanto o governo do Reino Unido. Outra criança é neerlandesa.

Ainda não há informações claras sobre as motivações para este ataque. Os meios de comunicação social franceses dão a indicação de que o autor do ataque, identificado como Abdalmasih H., teria cerca de 33 anos e de seria de origem síria, tendo já um percurso por vários países europeus.

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A procuradora de Annecy, Line Bonnet-Mathis, divulgou em conferência de imprensa já por volta das 16h30 (em Lisboa) que o suspeito está detido e que não há qualquer indício de motivação terrorista, não sendo por isso ainda conhecido o motivo. Assim, ficará em prisão preventiva durante 48 horas.

Henri, o “herói da mochila” que enfrentou o atacante do parque infantil em Annecy

A investigação está em curso e Abdalmasih H. será indiciado por tentativa de homicídio com arma branca (a procuradora precisou que era um canivete). Há um segundo inquérito a decorrer pela utilização de arma de fogo pela polícia que feriu uma outra pessoa. A arma permitiu deter “em flagrante” o autor que, segundo precisou a procuradora, não estava sob o efeito de estupefacientes nem sob o efeito de álcool, mas o seu estado de saúde é “extremamente frágil”.

Chegou a haver notícias que dariam conta de haver um segundo possível atacante, mas a procuradora afastou essa versão. Para já há um único suspeito detido. “Não há razão para crer que há um segundo autor a monte”, declarou na conferência de imprensa.

Antes da conferência de imprensa e ao início da tarde, em declarações aos jornalistas no local do ataque, a procuradora tinha adiantado já que o suspeito ficara em prisão preventiva, não estando em causa, “aparentemente”, uma investigação por terrorismo, mas por tentativa de assassinato.

A primeira-ministra Élisabeth Borne, que já tinha falado num “ataque selvagem”, acrescentou que o suspeito tinha pedido asilo em França mas que isso não seria possível porque já teria há dez anos estatuto de refugiado político na Suécia. Não terá antecedentes “criminais nem psiquiátricos” e não está ferido. Os jornais franceses falavam em possibilidade de problemas do foro psiquiátrico, alvo que a procuradora não confirmou, mas também não afastou.

O parque infantil foi, entretanto, reaberto.

O Le Monde acrescentou mais informações entretanto: o suspeito está casado com uma cidadã sueca e têm um filho de três anos. Fez o pedido de asilo (que viu recusado) em França em novembro do ano passado, mas este só foi recusado a 26 de abril e foi notificado disso, eletronicamente, esta semana, no dia 4 de junho. A procuradora acrescentou que o autor é refugiado político e que estava sem domicílio fixo desde outono 2022.

Já o Libération conseguiu chegar à fala com uma cunhada, irmã da mulher do suspeito, que contou que este não estava “bem” na Suécia e partiu para França há cerca de oito meses. “Nunca mais ouvimos falar dele. Não sabemos porque é que se foi embora. Foi sem levar nada com ele. Tentámos ligar-lhe mas nunca atendeu”, relatou ao jornal francês.

As pessoas presentes no ataque já estarão a receber acompanhamento psicológico, acrescentou na tarde desta quinta-feira a procuradora. “Hoje é o tempo da união e da emoção”, rematou a primeira-ministra, pedindo serenidade para que decorra a investigação.

Uma das testemunhas do ataque, citada pela France Bleu, descreve o momento do ataque: “Vimos uma pessoa atacar as crianças que estavam a brincar, os pequenos, era claramente esse o alvo. Depois, algumas pessoas tentaram travá-lo, ele afastou-se e a polícia interveio. Falava inglês. No início, pensámos que fosse alguma situação ensaiada, mas depois ouvimos os gritos e percebemos era uma situação real. Ele estava confuso.” Entretanto, um vídeo consultado pelo Le Monde indica que o suspeito se apresentou como cristão e disse que estava a agir “em nome de Jesus Cristo” no momento do ataque.

Quem também estava perto do local era o antigo jogador do Liverpool Anthony Le Tallec, que estava naquele momento a correr no mesmo parque, ao pé de um lago. Como mostra o vídeo publicado aqui pela CNN, o antigo jogador conta que estava a correr e viu “dezenas de pessoas a correr no sentido contrário”.

“Perguntei-lhes o que se passava e alguém disse: “Fuja, fuja! Há alguém a esfaquear toda a gente que está perto do lago. Esfaqueou crianças. Fuja!”. Apanhado de surpresa, Le Tallec continuou em frente. “E então eis que vejo o tipo à minha frente. Estava a ser perseguido por cinco ou dez polícias, que vinham atrás dele sem conseguir apanhá-lo. Ao ver aquilo, afastei-me um pouco. Afastei-me e dirigiu-se para um grupo de idosos”, conta no mesmo vídeo.

No momento do ataque, havia várias crianças no parque. Uma turma de um jardim de infância da escola Quai Jules-Philippe, junto àquele local, foi imediatamente afastada do parque e conduzida para o interior da escola. O Libération relata o “choque” no local, perto do qual há uma escola primária onde pais estão agora a ir buscar os seus filhos, no rescaldo do ataque.

Macron denuncia “cobardia absoluta”

O Presidente francês Emmanuel Macron denunciou, entretanto, aquilo que definiu como um “ataque de cobardia absoluta”.

“Crianças e um adulto estão entre a vida e a morte. A nação está em choque”, afirmou o Emmanuel Macron, numa publicação no Twitter. “Os nossos pensamentos estão com as vítimas, as suas famílias e as forças mobilizadas”, acrescentou o Presidente francês.

Os deputados à Assembleia Nacional cumpriram, ainda esta manhã, um minuto de silêncio pelas vítimas do ataque. O antigo Presidente Nicholas Sarkozy também já se pronunciou, classificando o ataque como “tão inqualificável quanto imperdoável”.