O primeiro-ministro já respondeu à carta do líder do PSD sobre a secretária-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa e a gestão do caso do Ministério das Infraestruturas. No documento a que o Observador teve acesso, António Costa acusa Luís Montenegro que não pretender “qualquer esclarecimento, mas tão só fazer combate político ao Governo, ainda que a custa do Sistema de Informações da República Portuguesa.” E responde ao pedido de demissão: “Obviamente não irei demitir a Secretária-Geral do Sistema de Informações da República, Embaixadora Graça Mira Gomes.”

No texto, o primeiro-ministro recorda a Montenegro que a 8 e 18 de maio manifestou a sua “total disponibilidade, assim como a da Secretária-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa” para prestar “pessoalmente toda a informação que tivesse por conveniente sobre a atuação do Serviço de Informações de Segurança”. E diz também que esse encontro foi sempre recusado por Montenegro. Agora, envia-lhe “dois documentos classificados confidencial, em que o Diretor do Serviço de Informações de Segurança enquadra juridicamente e descreve detalhadamente a atuação dos serviços” naquela “ocorrência”, escreve Costa.

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Para o chefe do Governo, da documentação enviada “resulta claro que o Serviço de Informações de Segurança não agiu sob ordens, instruções ou orientações de qualquer membro do Governo, mas por decisão própria – e correta – da sua direção, em articulação com a Secretária-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, pelo que é absolutamente infundada a acusação de abuso de poder por parte do Governo, de qualquer dos seus membros ou colaboradores.”

Esta sexta-feira, o Presidente da República revelou que o líder do PSD lhe tinha enviado a carta, no entanto não se alongou sobre o conteúdo. António Costa fez questão que se soubesse, através de um post scriptum na missiva que enviou de volta, que também ele iria deu conhecimento ao Presidente da sua resposta.

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Costa reafirma agora que a chefe de gabinete do ministro João Galamba “agiu corretamente” ao reportar o ocorrido no Ministério às secretas e que o SIRP “agiu adequada e proporcionalmente no âmbito das suas competências de natureza preventiva face à atual avaliação do quadro de ameaças sobre infraestruturas criticas e perante o alerta de quebra de segurança de documentos classificados no Ministério das Infraestruturas.”

Lembra também que o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações  decidiu por unanimidade pela legalizada da ação das secretas neste caso e atira, mais uma vez, a Montenegro que “é sempre possível melhorar os mecanismos de fiscalização. O que não é aceitável é que ponha em causa a seriedade e fiabilidade do mecanismo que propôs e aprovou só porque… não validou uma narrativa falsa sobre a atuação dos Serviços”.

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Termina a carta no mesmo tom acusatório, considerando “lamentável” que Montenegro “ponha em causa, sem qualquer fundamento e contra toda a factualidade apurada e documentada, a probidade do ministro das Infraestruturas, de eventuais outros membros do Governo, e de mim próprio, na relação com os Serviços de Informação”. E diz ser “inaceitável” que ponha em causa a “independência, isenção e profissionalismo da Senhora Secretária-Geral do Sistema de Informações da República Portuguesa”, que volta a elogiar como noutras ocasiões.

Também diz que os próprios Serviços de Informações “não executariam seguramente uma ordem, indicação ou orientação para a prática de ato ilegal.”