Este podia ser mais um episódio da saga “O que torna uma tenista de 22 anos tão especial”. Iga Swiatek tornou-se na quarta jogadora mais jovem de sempre a alcançar a terceira final em Roland Garros. A polaca chegava à final frente a Karolina Muchova com dois títulos conquistados no Grand Slam francês (2020 e 2022), numa sequência de 13 vitórias consecutivas no torneio e com a possibilidade de renovar o título. Até já lhe apontam um legado igual ao de Nadal (vencedor de 14 títulos em Roland Garros). “Sou uma pessoa que tenta fazer o seu melhor todos os dias e esperar pelo melhor. O que o Rafa fez e continua a fazer é incrível. Nunca pensei se isso seria possível para mim. Está fora do meu controlo, se é que posso dizer isso. Ele jogou muito bem ao longo de vários anos, não sei se isso vai ser possível para mim. Estou a tentar manter-me bem de ano para ano e levar tudo passo a passo”, disse Swiatek.

Após ter eliminado na meia-final Beatriz Haddad Maia – 6-3 e 7-6 (9-7) -, Iga Swiatek expressou a dúvida que sentiu perante as manifestações no público. “Era Bia ou Iga?”, referiu mal o jogo terminou. A verdade é que o court Philippe-Chatrier sabe bem quem é a a número 1 do mundo com uma percentagem de 95,2% de vitórias em Roland Garros à entrada para este encontro. “Honestamente, é difícil jogar um torneio tão longo. Estou muito feliz por jogar de forma consistente. Todos os anos tenho bons resultados aqui. Estou muito entusiasmada para este sábado. Vamos ver como corre”, afirmou em jeito de antevisão à final contra Karolina Muchova. “Não há que mudar nada. Se estás na final, significa que a tua rotina durante todo o torneio funcionou. Óbvio que vai ser um pouco diferente, é sempre um pouco diferente”.

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Karolina Muchova entrou no Grand Slam francês como a terceira melhor checa e como a terceira tenista fora do top 40 a participar na final de Roland Garros. Com a chegada ao encontro decisivo, garantiu o regresso ao top 20 do ranking e, em caso de vitória contra Swiatek, a jogadora de 26 anos podia estrear-se no top 10. Para chegar aqui, Muchova teve de defender um match point e virar um 5-2 no terceiro set diante de Sabalenka: 7-6 (7-5), 6-7 (5-7) e 7-5.

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Era evidente a vontade de Muchova brilhar num grande palco ainda que a convicção que metia nas pancadas se traduzisse em força excessiva. Lances em que a checa tinha conseguido clara vantagem acabavam com a bola muito para lá dos limites do campo. Iga Swiatek aproveitava isso para comandar, muito embora também tenha estado longe de ter um jogo perfeito principalmente na concretização de pontos na rede. Muchova colocava muito mais tensão nas direitas e muito slice nas esquerdas a uma mão. A polaca tentava deslocar mais a adversária numa alternância constante da direção.

Perante um início em que mais parecia ela a estreante em finais de Grand Slams, tal o resguardo que apresentou, Swiatek não perdeu as estribeiras. A proatividade de Muchova jogava contra si e, embora o seu ténis ágil valesse momentos de grande espetacularidade, acabou por perder por perder o primeiro set por 6-2.

Swiatek fazia-se valer do conhecimento que tinha da adversária. Apesar de só se terem defrontado uma vez, em 2019, treinam várias vezes juntas. Para o que faltava jogar no encontro, havia ainda o historial de Muchova em conseguir reviravoltas e a percentagem de 66,7% de vitórias da checa contra adversárias do top 10.

A número 43 do mundo colocava muitos primeiros serviços, mas concretizava pouco pontos nessas situações, como se a força e a colocação que dava à bola fosse semelhante à que normalmente se aplica nos segundos serviços. Muchova precisava de complicar o jogo da Swiatek e esperar por um milagre visto que a tenista de 22 anos ganhou 53 das 54 vezes que conquistou o primeiro set, contando apenas jogos disputados em terra batida. De qualquer modo, a única vez em que isso não aconteceu foi contra a checa.

Para que tal se verificasse, Muchova tinha que diminuir o número de erros não forçados para fazer valer a quantidade de winners que conseguia. Iga Swiatek não conseguiu descolar no segundo set. Um break para cada lado, e 4-4 no marcador, a checa dispôs de um break point. A polaca sentiu o peso do momento e cometeu uma dupla falta que deixou a adversária no comando do parcial. Era o momento mais importante do jogo até então. Muchova tinha serviço para forçar o terceiro set, mas cometeu três erros não forçados e permitiu o empate. Podia ter perdido ali a final, mas foi capaz de ter uma reação rápida e obteve novo break e nova oportunidade para ganhar o set.

Foram precisos três set point, mas Muchova conseguiu mesmo prolongar o encontro (7-5) fruto do desempenho da linha se serviço. Nesta fase, tinha-se tornado óbvio que a checa assumiu o papel de protagonista maior. Swiatek perdeu pela primeira vez um set nesta edição do Roland Garros.

No terceiro e decisivo parcial, as jogadoras trocaram breaks. Quem mais vantagem parecia ter retirado disso foi Muchova que fez o 4-3. No entanto, Iga Swiatek conseguiu quebrar o serviço da checa e garantir o 5-4 que a deixava muito perto de revalidar o título em Roland Garros. Muchova sentiu o momento e, com uma dupla falta no serviço que a salvou nos momentos mais delicados, acabou por entregar o troféu à adversária (6-4).

Iga Swiatek, com a sétima vitória em 16 torneios de terra batida em que marcou presença, tornou-se na primeira jogadora desde 2007 a conseguir revalidar o título de campeã de Roland Garros. Este é o quarto Grand Slam da carreira da tenista, o terceiro em Roland Garros. Num artigo publicado no The Players Tribune em que se descrevia de “introvertida”, Swiatek dizia “nada te pode preparar para vencer o teu primeiro Grand Slam”. Pois bem, já está mais do que habituada e o court Philippe-Chatrier já decorou o hino da Polónia.