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Primavera Sound Porto. “Ainda não somos aquele festival de circo”

Este artigo tem mais de 6 meses

Em 2023, o Primavera Sound Porto chegou às 10 edições. Falámos com José Barreiro, diretor do festival, sobre o "crescimento sustentável" e os desafios dos próximos anos.

Em 2012, quando o Primavera Sound chegou ao Porto, ainda havia algum mistério sobre o que esperar deste irmão mais novo do festival de Barcelona, então a cumprir 12 anos. Na primeira edição ouviam-se mais idiomas estrangeiros do que o português, vendiam-se bilhetes diários a €35 e passes gerais a €99 e o Parque da Cidade recebia 20 mil pessoas por dia. Hoje a realidade mudou muito: o recinto cresceu, o público também, os ingressos ficaram mais caros, os cachets dispararam e o Primavera Sound depara-se com uma questão sensível: como continuar a ser um festival de média dimensão e, ainda assim, crescer de forma sustentável?

“Temos que encontrar aqui um equilíbrio que ainda procuramos, mas uma coisa temos como garantida: tudo o que fizermos não prejudicará aquilo que construímos”. As palavras são de José Barreiro, diretor do Primavera Sound Porto que, ao fim de 10 anos, deixou cair o name sponsor que o acompanhava desde o início. A medida, garante, é para ficar. “Está mais do que assumido que se chamará Primavera Sound Porto. Agora, temos que trabalhar mais e melhor no futuro para encontrar outros parceiros”.

Esta mudança deu-se, paradoxalmente, numa edição que quase duplicou o orçamento da anterior: em 2023, a organização investiu 13 milhões de euros, contratou mais 20 bandas do que a média habitual, subindo para as atuais 75 do cartaz e expandiu o recinto em quase cinco hectares, esperando receber 45 mil pessoas por dia.

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

José Barreiro justifica este “risco calculado” com um planeamento a médio-longo prazo, admitindo que para ganhar em uns anos é preciso perder noutros. Em cinco, seis anos, o objetivo do Primavera Sound é receber 60 mil visitantes diários, assume. “Acredito que este modelo de festival nunca será um grande negócio, financeiramente falando, mas será um festival que, quando encontrar o seu equilíbrio, pode gerar o suficiente para manter a estrutura de produção a trabalhar o ano todo e para fazer com que todas as empresas que trabalham connosco possam ser remuneradas devidamente”.

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Se, por um lado, o investimento tornou o recinto mais fluído (já não apanhámos as filas e os engarrafamentos das edições anteriores), por outro apresentou uma solução de palco principal tudo menos consensual: demasiado grande, de difícil visibilidade e, acrescido o fator chuva, demasiado lamacento. Barreiro admite que há melhorias a fazer, nomeadamente na recolocação dos bares e da régie – a ilha central cortou a visibilidade a grande parte do público – e de drenagem. “Há algumas entropias que têm de ser solucionadas e que já estão a ser trabalhadas para a próxima edição”. Sobre o odor nauseabundo que se sentiu no terceiro dia de festival, a organização explicou que se deveu aos fertilizantes e matérias orgânicas usadas aquando a colocação da relva, em março deste ano, e que, devido à chuva que revolveu os solos, acabou por libertar “algum cheiro”.

Apesar destas contrariedades, José Barreiro acredita que a aposta foi ganha. “[Com este palco] demos uma possibilidade logística de não estragar o Parque da Cidade, porque as bandas trazem cada vez mais camiões e comitivas maiores (a maior de todas foi a de Rosalía, com 75 pessoas). Os caminhos do parque não aguentam essa logística.” Só Pet Shop Boys trouxe sete camiões, diz, num total de 50 que atracaram no palco Porto, o que, segundo José Barreiro, seria um pesadelo se se tivessem mantido os concertos principais no anterior palco, que há precisamente nove anos recebeu Blur. Os mesmos Blur que hoje vão atuar para 35 mil pessoas.

MELISSA VIEIRA/OBSERVADOR

A banda, pesando alguns lançamentos novos, é a mesma, mas o cachet não. “Por contrato, estou proibido de divulgar valores, mas entre 2014 e 2023 houve um aumento de 40% no cachet”, revela Barreiro. A tendência, explica, é a da indústria da música tentar rentabilizar cada vez mais os seus artistas e isso, analisando a evolução dos últimos dez anos, traduz-se num aumento médio de 200% do valor de contratação. “Temos que ser humildes o suficiente para perceber que com 20 mil pessoas num espaço não conseguimos ser um festival atrativo. Temos que acompanhar esta tendência de crescimento, sem nunca ir para um festival de 100 mil pessoas”.

A expansão da marca Primavera Sound, que em 2022 chegou ao mercado da América Latina e este ano estreou a edição madrilena, a decorrer paralelamente à do Porto, é uma resposta a estes novos desafios do mercado. “Em termos de Primavera, a nível global, dá uma capacidade de contratação de artistas que neste momento estão concentrados no quase monopólio da Live Nation, um gigante americano que compra artistas em pacote. A estratégica de expansão de marca é a única forma de competir com estes monopólios”.

Isso e a manutenção do “ADN de culto” do Primavera Sound. “É aqui que temos que investir muito, no sentido de não deixar a nossa idiossincrasia.” A receita passa por continuar a ter artistas de nicho, mas também nomes que “atraem massas”, como Kendrick Lamar ou Rosalía, que trouxeram ao Parque da Cidade 38 mil pessoas nos seus respetivos dias (ainda assim, devido à chuva, abaixo das 42 mil espectáveis). De uma coisa, José Barreiro tem a certeza: “ainda não somos aquele festival de circo igual em todos os países da Europa. Basta ver as programações de julho para ver que os festivais portugueses são mais ou menos iguais aos festivais espanhóis, os espanhóis iguais aos alemães, que por sua vez são iguais aos holandeses. Acho que aí continuamos a ser um festival em que as pessoas sabem que vêm ouvir boa música e vão ser surpreendidas com as apostas que fizemos”, conclui.

A décima edição do Primavera Sound do Porto encerra este sábado com New Order e Blur como cabeças de cartaz. Ao longo dos quatro dias, passaram pelo recinto cerca de 140 mil pessoas. Em 2024, o festival regressa de 7 a 9 de junho.

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