Chegou a dizer que era “ilegítimo” e a pedir uma investigação. Mas agora, Augusto Santos Silva recua na sua posição relativamente ao vídeo gravado na Assembleia da República no 25 de Abril, em que era ouvido a criticar a Iniciativa Liberal e o Chega, e reconhece que esta é uma prática recorrente no Parlamento há anos, não tendo havido “qualquer infração” da parte dos funcionários parlamentares.
A súmula da última conferência de líderes parlamentares, que aconteceu a 7 de julho, revela que o Presidente da Assembleia da República partilhou nesse dia com os líderes das bancadas as conclusões do inquérito que mandou abrir a propósito do tal vídeo, em que era possível ver e ouvir conversas que teve com António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa nos intervalos da sessão solene. E, depois de informar os deputados sobre essas conclusões — “não houve alterações face a práticas ocorridas na AR em anos anteriores, pelo que não se verificara qualquer infração por parte de funcionários parlamentares” –, “concordou” mesmo com essas conclusões.
Ora esta é uma posição bem diferente da que o Presidente da Assembleia República tomou a 27 de abril, depois de o Observador ter noticiado o trecho de vídeo que estava disponível para quem assistisse à emissão do canal do Parlamento, a ARTV. No plenário, Santos Silva recusava-se então a pedir desculpas aos dois partidos que criticava nessa conversa e dizia pedir desculpas “em nome do Parlamento” apenas aos “representantes de órgãos de soberania que foram escutadas ilegitimamente nesta casa há 48 horas”.
Na altura, Santos Silva determinou “aos serviços da AR, a abertura de um processo de averiguação de que condições foram divulgadas aquelas imagens e aqueles sons para que se saiba quem autorizou”, atitude que irritou os serviços parlamentares, e descreveu o aconteceu como “uma violação gravíssima de direitos e liberdades individuais e desrespeito da AR com outros órgãos de soberania.”
Agora, o Presidente da Assembleia da República veio dizer aos líderes das bancadas parlamentares que as conclusões do inquérito sugerem que se alterem as normas sobre a tomada de imagem e som em “espaços mais reservados”, e por isso pediu uma proposta sobre o assunto ao secretário-geral do Parlamento, para que haja novas regras aplicáveis “a partir da próxima sessão legislativa”, ou seja, depois do verão. Até lá, “as gravações no gabinete e na sala de visitas do PAR carecem de autorização expressa”, lê-se na súmula da reunião.
Na mesma reunião, Santos Silva informou ainda os deputados, como foi entretanto noticiado, que fez uma participação à Procuradoria-Geral da República sobre o comportamento do youtuber Tiago Paiva, que esteve no Parlamento a convite da Iniciativa Liberal e acabou por insultar António Costa enquanto visitava a sala das sessões, momento que ficou registado em vídeo.
Depois da notícia do Observador, a AR TV apagou o vídeo onde o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro e o Presidente da República comentavam o ralhete de Augusto Santos Silva ao Chega na sessão de boas-vindas ao Presidente do Brasil, Lula da Silva.
O Observador já tinha também escrito que verificando as gravações captadas pelo mesmo canal nos últimos anos, durante as sessões do 25 de Abril, é possível comprovar que a mesma câmara está sempre colocada na sala das visitas do Parlamento todos os anos, a captar vídeo e som. Em anos anteriores é aliás possível perceber que houve conversas entre as principais figuras do Estado sobre o meteorologia, futebol ou cortes de cabelo.
Desta vez foi diferente, porque após o ralhete de Santos Silva ao Chega, que protestou e interrompeu o discurso de Lula da Silva, os três estiveram à conversa e falaram, desta vez, de política. “Não era para menos. Esta minha fúria, é a fúria de um tipo gelado. E mesmo assim….”, dizia Santos Silva, como é possível constatar no vídeo, continuando depois a comentar o momento e juntando a isto críticas à atitude da IL, que deixou as suas cadeiras vazias durante a interveção do Presidente brasileiro: “Aquilo que a Iniciativa Liberal decidiu fazer não é nada”. Marcelo Rebelo de Sousa foi concordando.