O novo formato das Assembleias Gerais do Sporting, ao fim de semana e não durante a semana e com um período aberto para votações do início ao final da reunião magna (antigamente os pontos só eram votados após apresentação e discussão), teve o condão de alterar aquilo que se assistiu ao longo de vários anos e em diferentes períodos da vida do clube. Ainda assim, a maior ou menor agitação que possa ter depende sempre de eventuais catalisadores internos do quotidiano leonino que pudessem fazer mexer mais as opiniões. Nesta fase, não era o caso. A campanha do futebol foi a pior da era Rúben Amorim mas há muito que a época acabou. As modalidades tiveram uma época abaixo das anteriores mas terminaram da melhor forma com a vitória do futsal. A vida interna dos leões continua a ter pontos de discórdia mas são os mesmos que existiam. Por tudo isso, e tomando em linha de conta a vaga de calor que assola o país, a participação foi bem menor.
Nem todos concordaram com o que estava em causa. À semelhança do que já acontecera noutras ocasiões, o movimento “Hoje e Sempre Sporting” mostrou-se contra a colocação nos pontos da ordem de trabalhos a aprovação das contas consolidadas do clube nos últimos cinco anos do clube ao mesmo tempo do Orçamento de 2023/24, algo teria o condão de “facilitar” a sua passagem. Outros acrescentavam uma outra questão: as contas consolidadas tinham de ser aprovadas agora em bloco com que finalidade depois de cinco anos sem haver essa preocupação nem nos atos nem nas palavras? De uma ou outra forma, Frederico Varandas, líder do conjunto verde e branco, foi respondendo às questões que entendia ser pertinentes de esclarecer, sendo que, admitindo a má época no futebol, destacou sempre que o mais relevante é o caminho traçado.
“Apesar da boa carreira europeia e da boa qualidade exibicional, não conseguimos materializar essa qualidade de jogo em pontos e troféus tendo terminado aquém das nossas expectativas e não por motivos externos ao clube. A análise interna foi feita, as lições foram aprendidas e o planeamento de uma nova época já está em marcha, com a expectativa de regressarmos ao sucesso desportivo do passado recente. Mas mais importante do que os títulos conquistados este ano, mais importante do que os títulos vencidos no passado recente no futebol, mais importante do que o quarto lugar deste ano, é o rumo traçado e o rumo esse que o clube não vai parar de percorrer. Foi um rumo de estabilidade, recuperação financeira e redução do passivo, aumento das receitas e mais sucesso desportivo que no passado”, destacou Varandas, citado pelo jornal Record nesta parte do discurso, na primeira abordagem que teve na Assembleia Geral.
“Queremos mais. Queremos que o nosso Estádio José Alvalade seja um estádio que orgulhe os sportinguistas. Queremos continuar a fazer crescer o clube. Queremos um clube mais moderno e digital, mais próximo do sócio, sustentável, forte competitivamente e ganhador. A única coisa que queremos que se mantenha é a nossa forma de estar: com integridade, com dignidade, com honra e com princípios”, salientou mais uma vez, entre os anúncios consagrados no Orçamento e no Relatório e Contas que terá de ser aprovado até ao mês de setembro como o primeiro ano com mais de dez milhões de euros de quotização, o recorde de receita de Gamebox com bilhética (apesar da diminuição do número médio de espectadores em comparação com a época anterior, de acordo com os números da Liga Portugal) ou as inscrições nas modalidades do clube.
“Temos crescido uma média de 12 mil novos sócios/ano. Isto não são opiniões, são factos. E mais que factos, são os melhores sinais que demonstram o crescimento do clube e a vitalidade da militância da nossa massa associativa. Este orçamento mantém a mesma matriz dos últimos anos: sustentabilidade, formação e modernização do clube, sempre com um único propósito: assegurar a competividade a médio e longo prazo”, salientou ainda na primeira intervenção na Assembleia que começou por volta das 10h da manhã. Mais tarde, Frederico Varandas acabou por estar algum tempo fora do Pavilhão João Rocha mas sempre muito próximo do recinto: primeiro marcou presença na habitual entrega dos emblemas de 25 e 50 anos de sócio do clube, a seguir passou pelo Multidesportivo onde assistiu ao encontro de ténis de mesa masculino contra o São Roque que valeu o oitavo Campeonato consecutivo e o 40.º da história (a que junta 34 Taças e 17 Supertaças).
No regresso à Assembleia Geral, e até por se tratar de uma reunião magna do clube e não da SAD, houve algumas perguntar sobre as modalidades num dia em que o clube já emitira um comunicado desmentindo o guarda-redes de futsal Guitta, que se queixou na despedida de ter recebido uma proposta abaixo do que tinha nesta altura como vencimento. Assim, e depois do futebol de praia, também o hóquei em patins feminino vai ser extinto (algo que já tinha sido comunicado pelas próprias jogadoras após o último encontro da época) mas existem hipóteses de regresso do basquetebol feminino sénior, no primeiro ou terceiro escalões.
Contas feitas, e ao longo de mais de oito horas, passaram pelo Pavilhão João Rocha pouco mais de 1.100 associados (um número muito reduzido face ao que se passara nas últimas Assembleias Gerais ao sábado), com todos os pontos aprovados com uma percentagem favorável entre os 72,5% e os 76,4%. Os pontos 1 (Orçamento de 2023/24) e 6 (contas consolidadas de 2021/22) foram os que tiveram menos expressivo entre a aprovação com 72,76% e 72,46%, respetivamente, ao passo que os pontos 2 (contas consolidadas de 2017/18, ainda com Bruno de Carvalho) e 5 (contas consolidadas de 2020/21) foram as mais votadas a favor com 76,42% e 73,10%, respetivamente entre os 1.113 sócios que exerceram o direito de voto.
“Gostaria de sublinhar a forma cordata e serena como decorreram os trabalhos, foi bonito ver sócios acompanhados dos filhos. Isto não se deve à Mesa da Assembleia Geral, antes aos sócios que se sabem comportar. 1.113 sócios a marcar presença na Assembleia Geral é um número expressivo. Resultados? A aprovação por larga maioria significa que o clube está estabilizado”, comentou no final João Palma, líder da Mesa da Assembleia Geral do Sporting, à margem do anúncio dos resultados globais.