Otávio, o até agora médio do FC Porto, foi mesmo vendido ao saudita Al Nassr por 60 milhões de euros — a que se vai somar um salário que triplica à razão de 13 milhões por época. A notícia já foi oficializada pelos dois clubes e Otávio junta-se assim à lista de jogadores que têm engrossado as fileiras do clube saudita, que tem neste momento no plantel Cristiano Ronaldo.

Chegou miúdo, tornou-se referência, sai (literalmente) em grande: Al Nassr anuncia contratação de Otávio ao FC Porto por 60 milhões

O Al Nassr quis festejar a notícia e, por isso, fez um vídeo de boas-vindas para o jogador, como é habitual. Mas incluiu um outro ingrediente: elogios de uma família portuguesa não só ao clube, mas também ao país para onde Otávio vai jogar.

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No vídeo, divulgado nas redes sociais do clube esta terça-feira, é possível ver um pai com o jovem filho, que tem uma camisola do FC Porto vestida, em frente à televisão. Ao verem uma peça que fala na possível ida do jogador brasileiro para o Al Nassr, a criança pergunta: “Pai, achas que o Otávio vai mesmo para a Arábia Saudita?”

O pai diz que “é difícil saber”. Mas apressa-se a deixar elogios ao possível destino. “Mas, se for, a Arábia Saudita é um grande país com uma grande visão. Todos os que foram para lá estão felizes“, diz, acrescentando: é preciso apoiar “o nosso menino” Otávio na sua escolha.

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O vídeo causou polémica nas redes sociais, com vários utilizadores a invocarem o termo sportswashing, que se refere ao ato de usar o desporto para promover ou limpar a reputação de um país. A acusação é frequentemente apontada à Arábia Saudita — que, não por acaso, tem atualmente em curso um grande programa económico intitulado “Visão 2030”.

A Arábia Saudita é uma monarquia absolutista que segue as regras da sharia (lei islâmica) e que é classificada como um país “não-livre” pela Freedom House, que destaca a perseguição a opositores políticos, a discriminação sobre mulheres e minorias e a exploração laboral sobre vários imigrantes que acontecem no reino.

O exemplo do golfe, a Visão 2030 e a mudança de paradigma com Rúben Neves. O que é que a Arábia Saudita quer do futebol?

O país é também responsável por bombardeamentos sobre civis no Iémen, onde a Arábia Saudita intervém militarmente numa guerra desde 2014.

A ONG Human Rights Watch acusa diretamente a Arábia Saudita de “gastar milhares de milhões de dólares a organizar eventos de entretenimento, culturais e desportivos para desviar a atenção do mau histórico do país em relação aos direitos humanos“.

Apesar disso, vários futebolistas de nível mundial têm escolhido clubes sauditas nos últimos anos. Para além de Cristiano Ronaldo e de Otávio, também Neymar rumou este ano a Riade para jogar no Al Hilal, treinado pelo português Jorge Jesus.