Fernando Medina apelida de afirmações de natureza estética e até incompreensíveis as declarações de Luís Montenegro sobre o Orçamento do Estado para 2024. E, sem ter visto qualquer crítica do líder do PSD ao conteúdo orçamental, o ministro das Finanças, em entrevista à Antena 1, diz que agora até fica com a expectativa de que o principal partido da oposição possa abster-se ou votar a favor da proposta do Orçamento do Estado para 2024.

Luís Montenegro disse que o Orçamento é “uma espécie, mais uma vez, de um orçamento pipi, de um orçamento que aparece bem vestidinho, muito apresentadinho, mas que é só aparência, é assim muito betinho, parece que faz, mas não faz, apresenta objetivos, apresenta ideias, mas depois não concretiza nada”.

Perante estas declarações, Fernando Medina à Antena 1 atira: “Preciso de tradução para essa afirmação. Acho incompreensível que o líder da oposição tenha uma afirmação dessa natureza”. Mas depois acrescenta a sua explicação política para as afirmações. Para Medina, Montenegro “nada tem a dizer sobre o conteúdo do orçamento e ficou sem palavras perante o orçamento”. E pelo que Medina diz ser a inexistência pelo PSD de uma crítica substantiva ao orçamento em qualquer matéria por parte de Montenegro, “a expectativa é que o PSD irá abster-se ou a votar a favor. A apreciação é só de natureza estética e não de conteúdo, possivelmente vai votar a favor”.

Já sobre as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, que deu a sua bênção ao Orçamento, nomeadamente à prudência nele contida, Medina (que segundo disse ainda não tinha, quando foi feita a entrevista, ouvido a intervenção do Presidente), registou-as “com agrado”.

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Governo não cede na contagem de serviço aos professores

E volta a criticar o PSD, mais à frente na entrevista, quando se fala dos professores e da recusa do Governo de ceder na contagem integral dos tempos de serviço que tem levado a várias greves neste setor.

PSD propõe pagamento do tempo de serviço dos professores faseado por cinco anos

“O PSD como está atrás nas sondagens e Luís Montenegro ao fim deste tempo ainda não descolou entrou numa nova fase da sua estratégia, que é: à segunda feira promete descer o IRC a todas empresas; à terça reduzir IRS a todos, mesmo aos que têm maiores rendimentos que é quem o PSD mais defende; ao terceiro dar tudo aos professores; ao quarto possivelmente dar tudo aos médicos”. Para Medina, “este é um problema do PSD, que é uma estratégia absolutamente irresponsável de procurar tentar captar simpatias em todos os segmentos do eleitorado, mas não é forma de governar nem sinal de confiança que transmite”.

E, por isso, também Medina recusa ceder aos professores, afinando pelo mesmo argumento de António Costa. Não cede aos professores “por uma questão de justiça. Nos tempos da troika, todas as carreiras estiveram congeladas, não progrediram. O tema é esse. Acha justo o governo fazer a valorização de uma só carreira e esquecer todos os outros trabalhadores? Os polícias ou os enfermeiros são menos importantes? Os trabalhadores das forças armadas são menos importantes só por não terem sindicato com tanta força? Devemos ceder à lei dos mais forte?”, quetiona Medina.

E fala do que diz ter sido garantido aos professores: acelerador de progressão e em relação ao sistema de colocação. “Nós procuramos e definimos um acelerador à carreira docente que permitiu gerir situações diferenciadas”, tendo sido aprovado um acelerador semelhante para as carreiras da administração pública. “Deve um governo ceder a um processo reivindicativo de um determinado grupo profissional só porque é mais vocal do que outros? É este o critério?”, deixa novamente a questão, garantindo que gera a pensar no interesse público, no bem público, e na ponderação de justiça.

“Ter contas certas e orçamentos equilibrados ou com saldos positivos quando economia cresce é boa política”

Mais uma vez Fernando Medina reforça a necessidade do caminho das contas certas, nomeadamente em alturas em que a economia cresce, para quando houve sobressaltos poder haver margem para apoios.

“Ter contas certas e orçamentos equilibrados ou com saldos positivos quando a economia cresce é boa política”, garante à Antena 1. E assume: “quero ter saldos orçamentais positivos sempre que a economia esteja a crescer para poder ter margem quando estiver a crescer muito pouco ou em recessão. Não temo esse cenário, mas é um cenário que temos de estar preparados para acontecer”, diz, para acrescentar: “não há dogma com ter saldos positivos todos os anos, muito menos pode haver dogma de ter défices todos os anos”.

Garante que o primeiro-ministro é também um defensor das contas certas. E por isso diz ser fácil negociar o orçamento com o primeiro-ministro. Sobre o seu futuro, diz não querer especular. Mas não será no Parlamento Europeu, garante.