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“Em dez livros, acabo dois”: as revelações de João Tordo, Geoff Dyer e Carla Madeira no Folio 2023

Este artigo tem mais de 6 meses

Ministro da Cultura esteve em Óbidos no arranque do primeiro fim-de-semana do festival literário Folio, que este ano celebra a memória de José Pinho.

Geoff Dyer e João Tordo foram dois dos autores convidados em destaque
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Geoff Dyer e João Tordo foram dois dos autores convidados em destaque

Geoff Dyer e João Tordo foram dois dos autores convidados em destaque

Foi entre sol e chuva que a oitava edição do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos arrancou para o seu primeiro fim de semana. O evento, que até 22 de outubro deverá concentrar centenas de atividades e escritores e milhares de visitantes na vila de Óbidos, teve o seu arranque oficial na quinta-feira, dia 12, e, se o rebuliço que esta sexta-feira já se notava na localidade é indicador, a azáfama só deverá aumentar em torno da Tenda Vila Literária, palco dos eventos centrais do festival.

João Tordo, Geoff Dyer, Carla Madeira e Mariana Enriquez foram alguns dos principais nomes em destaque no arranque, num evento que é cada vez mais uma referência a nível nacional e internacional. Facto que motivou também a presença do ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, que, durante a tarde, aproveitou para conhecer os vários pólos de interesse do festival.

Geoff Dyer: em princípio, isto é o fim

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O tema “Fim” foi o ponto de partida para a conversa entre João Tordo e Geoff Dyer, escritor inglês que lançou recentemente em Portugal o livro Os Últimos Dias de Roger Federer (Qetzal). Foi precisamente sob esse mote — do fim dos livros, das leituras e da vida — que o autor português aproveitou para fazer uma confissão: “Em dez livros acabo dois, a maioria não passo da página 50” disse, tentando desmistificar a ideia pré-feita de que todos os livros que se começam têm de se acabar. “Enquanto escritor, sei como o trabalho é feito, portanto sei ver quando algum livro me vai surpreender. Claro que às vezes leio coisas que são como comer McDonald’s: um policial ou um livro mais leve, para o verão… coisas que sei que me vão dar satisfação e que vou ler até ao fim”, acrescentou.

Também Geoff Dyer rejeitou a ideia de leituras obrigatórias e revelou que, se aos 65 anos se encontra numa fase de releitura, os seus gostos continuam a não ser compatíveis com certos gigantes literários. “Recentemente pensei para comigo ‘ok, estou pronto, finalmente, para ter a experiência de ler Virginia Woolf’… e tive exatamente a mesma inabilidade em ler a ficção dela do que a que tive quando estava a estudar” admitiu. “Nunca consegui acabar As Ondas”, respondeu Tordo.

Do “Fim” para o “Amor”, a jornalista Isabel Lucas conduziu à noite uma conversa com as autoras Carla Madeira e Mariana Enríquez, numa Tenda Vila Literária praticamente cheia de admiradores, cuja presença nem a chuva forte que se abatia sobre Óbidos foi capaz de demover.

Carla Madeira: “Tudo é Rio” e os 14 anos de bloqueio que guardaram a obra da escritora mais lida do Brasil

E se, como diz a velha frase, tudo o que fazemos em vida é uma forma de sermos amados, será que a motivação para que o escritor escreva é também conquistar o amor do público? A autora brasileira do recente Tudo é Rio (Particular Editora) rejeitou a hipótese. “Escrever para ser amado é perigoso. Acho que querer ser amado é anterior ao escritor. É um desejo de todo o mundo. Mas quando estou escrevendo, essa não é a minha visão. Embora a gente queira que aconteça, não pode ser a preocupação. É preciso, isso sim, escrever amando o que se está escrevendo”, disse Carla Madeira.

Mariana Enríquez concordou e foi mais longe. “A Mariana, quero que gostem dela. Agora os livros da Mariana? Não sei” defendeu, antes de partir ao ataque da cultura do fan service e daqueles autores que escrevem para agradar. “O final de A Guerra dos Tronos é um exemplo perfeito: quiseram agradar a toda a gente e acabou uma porcaria. Creio que a pessoa quer que gostem dela, mas o escritor tem outra margem de manobra, e ainda bem”, defendeu.

Da esquerda para a direita: Carla Madeira e Mariana Enríquez, numa conversa conuduzida por Isabel Lucas

Mariya Shupenya

Quem também marcou presença no festival durante a tarde foi o ministro da Cultura. Aos jornalistas, Pedro Adão e Silva sublinhou a importância daquele que, para si, é um dos mais vitais “redutos” da liberdade de expressão. “A ideia de construirmos uma festa em torno do livro é uma forma de preservarmos a leitura e a relação quase afetiva com os livros, que é das formas mais perenes de civilização e de liberdade”, disse, após quase três horas de uma visita guiada onde se fez acompanhar pelo presidente da Câmara Municipal de Óbidos, Filipe Daniel (e que deu até tempo para comprar um livro).

O autarca de Óbidos, por sua parte, manifestou satisfação com a presença do ministro, reforçando assim a importância de Óbidos no panorama cultural e literário do país. Ao Observador, Filipe Daniel, que é autarca municipal desde 2021, traçou um retrato desse crescimento: “No início foi extremamente penoso, foi uma fase muito difícil porque, para termos aqui autores de referência, tínhamos de fazer uma espécie de ‘pesca à linha’. Hoje é completamente diferente: há tanta gente que quer vir a Óbidos mostrar aquilo que de melhor se faz no país e no mundo, que temos de escolher, edição após edição”.

Ministro da Cultura marcou presença no Folio esta sexta-feira

Nuno Conceição

Sublinhando o grande investimento feito pelo município – cerca de 400 mil euros – para organizar o certame, Daniel reconheceu os benefícios que um eventual apoio do Estado teria para o seu crescimento. A autarquia já terá até enviado uma solicitação formal – facto que Adão e Silva disse aos jornalistas desconhecer.

“O que o ministro nos disse é que há coisas que, muitas vezes, não lhe chegam diretamente, portanto não teria conhecimento”, explicou Filipe Daniel, que lembrou o sinal de vontade política demonstrado pela tutela na última edição do Folio. “O ministro disse-nos, no ano passado, que achava que fazia todo o sentido o Ministério da Cultura apoiar um evento desta natureza. Ao enviarmos um ofício, estaríamos à espera de um apoio ou, pelo menos, de uma resposta; pelos vistos o ministro não teve conhecimento”, disse.

Em todo o caso, o autarca fez questão de salientar que o papel-chave cabe à câmara municipal. “[O apoio estatal] diluía naturalmente aquele que é um esforço substancial da câmara. (…) Mas se quisermos ter um território mais rico, com um elevador cultural, temos de apostar e financiar, a bem da comunidade e do território”.

Festival literário Folio 2023: escritores, músicos, debates e homenagens a José Pinho na edição deste ano

Nome incontornável do Folio e da divulgação literária, José Pinho está presente em cada canto desta edição. Desde o mural aos eventos dedicados à sua memória e às fotografias e memórias nas paredes da vila literária, o livreiro fundador do festival, que morreu em maio deste ano, está bem presente nesta que é a primeira vez que o festival se realiza sem si.

“O José foi uma figura muito forte, foi de facto quem começou tudo isto”, referiu Raquel Santos, da Ler Devagar. “Com alguma naturalidade os vários parceiros foram-se juntando para fazer várias homenagens, sem o querer ser em bandeira, para não acrescentar um peso bastante grande àquilo que, por si só, já é pesado. (…) O que se quer é manter viva a justiça do perfil daquela pessoa, de quem ela era. O José era uma pessoa bastante otimista, e queremos lembrá-lo da forma como ele era”, acrescentou.

Esta sexta-feira, teve lugar o primeiro desses atos de lembrança, uma conversa no Hotel Literary Man com vários dos curadores responsáveis pelo Folio bem como nomes como Nuno Artur Silva. Para sábado está ainda agendada, na Casa Abysmo, o evento “Começar a Casa Pelo Telhado”, programado no âmbito do Folio Mais e que girará em torno de uma conversa sobre os vários projetos de José Pinho, com a participação de figuras como Jorge Silva e Sérgio Godinho.

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