Luís Mira Amaral, antigo ministro da Indústria de Aníbal Cavaco Silva (esteve dez anos com o então primeiro-ministro) considera que António Costa está a implementar um programa político-económico que é uma “mistura entre o eurocomunismo italiano e socialismo-bolivariano à Venezuela”. “Este PS e este primeiro-ministro são luso-comunistas”, sentenciou.
O ex-governante, um dos oradores-convidados das jornadas parlamentares do PSD, acusou o Executivo socialista de tentar resolver tudo com “mais um subsídio, mais um apoio público e mais um travão ao funcionamento do mercado”, numa visão de país em que as “empresas não são apreciadas, apenas toleradas”. O resultado disso mesmo, continuou, é um país que não cresce, não produz riqueza, e que acaba capturado por quem tem dinheiro, os investidores estrangeiros. “O nosso país está num mix terrível: socialismo e estagnação interna; e, felizmente, a abertura ao exterior”.
Já depois de ter lamentado o “triste fado” de um país que nos últimos 14 anos registou a “mais baixa taxa de crescimento das últimas três décadas”, Mira Amaral passou em revista os problemas estruturais da Educação, do Serviço Nacional de Saúde, mas também na Administração Pública. Criticando a incapacidade do atual Executivo para encontrar respostas e por se limitar a despejar dinheiro em cima dos problemas, o antigo ministro acusou o Governo de António Costa de estar, por ausência de respostas, a “cavar o fosso social” entre os mais ricos e os mais pobres.
Mira Amaral permitiu-se até a comparar o atual e, presumivelmente, o futuro líder do PS, dizendo que António Costa e Pedro Nuno Santos não têm assim tantas diferenças no que à visão de país diz respeito. “António Costa é muito mais pragmático do que Pedro Nuno Santos. [Por outro lado], ambos gostam muito do PCP, mas Pedro Nuno Santos tem paciência para aturar o Bloco de Esquerda.”
PSD acusa Costa de baixar IRS a pensar nas europeias
Antes de Mira Amaral, já Hugo Soares, secretário-geral do PSD, tinha sido particularmente duro em relação ao Orçamento do Estado apresentado por António Costa, acusando o primeiro-ministro de ter deixado cair a “máscara“. Depois de ter passado os últimos meses a dizer que não poderia baixar os impostos sobre o trabalho sob pena de colocar em causa as contas públicas, o Executivo socialista decidiu fazê-lo no momento politicamente mais oportuno, acusou o social-democrata. “Querem mesmo baixar o IRS em ano de eleições europeias.”
“A baixa do IRS é uma espécie de baixar a máscara por parte do partido que governa o país: andavam a dizer que não apoiavam a baixa [proposta pelo PSD] porque não tinham folga. Afinal não era um problema orçamental, era um problema eleitoral: querem é baixar o IRS em ano de eleições europeias, não se preocupando com as questões sociais em 2023”, criticou Soares.
O braço direito de Luís Montenegro recusou depois que o partido tenha qualquer dificuldade em criticar o Orçamento do Estado, deixando, sobretudo, dois argumentos: primeiro, é uma “falácia” argumentar que este documento baixe de facto impostos, uma vez que reduz o IRS e aumenta os impostos indiretos. Nesta matéria, Hugo Soares chegou mesmo a acusar o Governo socialista de “não ter capacidade de falar a verdade aos portugueses” ou mesmo de “mentir descaradamente” em matéria de redução de impostos.
Em segundo lugar, continuou o secretário-geral social-democrata, é um absurdo defender que o PS roubou a narrativa das “contas certas” ao PSD, bastando lembrar duas coisas: a história recente do país e aquilo que deve ser uma absoluta normalidade. “Vamos de aceitar lições de um partido responsável por três bancarrotas? Contas certas é uma prerrogativa de qualquer governação”, defendeu o secretário-geral social-democrata.
No fundo, e recuperando a ideia principal de Luís Montenegro no tal discurso em que se referiu ao Orçamento do Estado como “pipi”, Hugo Soares reeditou a principal crítica do PSD em relação ao documento e à estratégia gizada pelo Executivo de António Costa. “Este é um Orçamento de facto muito bem vestido, mas incapaz de resolver os problemas das pessoas.”
Mesmo a terminar, e à boleia da indefinição que existe em torno do futuro da Efacec e dos possíveis custos da nacionalização da empresa para os contribuintes portugueses, Hugo Soares voltou a pressionar os socialistas a esclarecer quem está a dizer a verdade no dossiê da TAP: afinal, a privatização da companhia aérea era uma condição do plano negociado com Bruxelas, como revelou António Costa; ou, como veio garantir Pedro Nuno Santos, venda da maioria do capital nunca foi uma obrigatoriedade?
“Não há ninguém que se escandalize? Quem é que está a mentir? A banalização da palavra na política não pode ser uma realidade”, lamentou Hugo Soares, antes de rematar: “Quando o PS governa, empobrecemos todos. As famílias, as empresas, as instituições, os serviços públicos. Empobrecemos todos. A marca da governação socialista é o empobrecimento gradual”.