Cavaco Silva defende que o discurso orçamental em torno do mantra das “contas certas” serviu para o PS “desviar a atenção dos órgãos de comunicação social e dos analistas e cronistas políticos dos graves problemas do país, que são da sua inteira responsabilidade, e condicionar a atitude dos agentes do espaço político em relação ao debate do Orçamento”. Essa “armadilha”, como a define o antigo Presidente da República num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no jornal Público, serviu também para tentar “esconder a incompetência e a baixa qualidade moral de alguns ministros”.
Cavaco recorda como, durante a discussão do Orçamento do Estado para 2023, a defesa do princípio das “contas certas” marcou todo o processo. “É assim normal”, escreve o antigo Chefe de Estado, “que os cidadãos não especialistas na matéria tenham colhido a ideia de que ‘contas certas’ é um objetivo primordial da política orçamental. Tratou-se, no entanto, de uma armadilha do poder socialista para iludir os portugueses, em que caíram vários agentes do espaço político e mediático bem-intencionados”.
Ao centrar toda a discussão na lógica de que o Orçamento deve respeitar esse princípio das “contas certas”, o PS, continua Cavaco, procurou “condicionar o debate orçamental e o comentário político, desviar as atenções e abafar as consequências negativas da sua política”.
Como exemplos dessas consequências negativas da governação socialista, o antigo Presidente da República — que participou, de surpresa, no último congresso do PSD, em Almada, onde deixou avisos semelhantes — refere “o desperdício dos dinheiros públicos, evidenciado pelo crescimento acentuado da despesa pública”, a “degradação do Serviço Nacional de Saúde”, com enfoque no encerramento de serviços de urgência hospitalar, a “crise da habitação” e a “crise da escola pública”, a existência de um “sistema fiscal caótico”, os “baixos salários” e o “empobrecimento relativo do país”.