Com um comprimento de 112,5 metros e tendo capacidade para transportar até 500 toneladas de carga, o navio russo Novocherkassk era um importante ativo que a Rússia mantinha nas bases no Mar Negro. Esta terça-feira, a Ucrânia surpreendeu o Kremlin e afundou no porto de Feodosia, localizado no leste da Crimeia, aquela embarcação que já passou por Gaza e pela Síria.

Numa publicação nas redes sociais, o Ministério da Defesa ucraniano celebrava a destruição do navio, que levou ainda à morte de uma pessoa e causou danos a vários edifícios nas proximidades: “Os pilotos ucranianos ficaram um trabalho excelente. A Crimeia é a Ucrânia. Não há lugar para a frota do ocupante aqui”.

Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, informou o Presidente da Rússia e comandante supremo das forças armadas da Rússia, Vladimir Putin, que a embarcação tinha sofrido somente “danos”, fornecendo ao Chefe de Estado um relatório “muito detalhado”. Nos canais estatais russos, desvalorizou-se igualmente o assunto, mas a propagandista do Kremlin, Olga Skabeyeva, admitiu que o Chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, “mostrou mais uma vez a sua essência terrorista”.

A Ucrânia dá praticamente como certo que o navio está inoperacional. Citado pela Reuters, o porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yuriy Ihnat, recordou o impacto da explosão para clarificar que “será muito difícil para um navio conseguir sobreviver”. “Não foi apenas um rocket, foi a detonação de munições”, prosseguiu.

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Esta destruição do navio vem na sequência de uma série de ataques ucranianos à frota russa no Mar Negro, enfraquecendo a Rússia na região da Crimeia. O ministro da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, escreveu na sua conta pessoal do X (antigo Twitter) que a “destruição” do Novocherkassk demonstra que não existe qualquer “impasse” na guerra na Ucrânia.

“Aqueles que acreditem num impasse não notaram que, nos últimos quatro meses, 20% da frota russa do Mar Negro foi destruída. O domínio da Rússia no Mar Negro está agora a ser desafiado”, afirmou Grant Shapps, que recordou que o Reino Unido e a Noruega assinaram um acordo para “ajudar a Ucrânia a vencer no mar”.  

A importância de Novocherkassk para a Rússia

Construído em 1987 ainda durante a época da União Soviética na Polónia, o Novocherkassk foi incluído na frota da Crimeia. Mantendo-se sob controlo russo após a dissolução da URSS, a embarcação foi fazendo vários exercícios militares durante a década de 90.

Em 2012, numa altura de tensão entre Israel e o Hamas, a Rússia enviou o Novocherkassk para a costa da Faixa de Gaza, para retirar cidadãos russos da região se houve uma escalada da situação. Mais tarde, em 2020, a embarcação acabou por ser enviada para a Síria, para apoiar as forças lideradas por Bashar al-Assad durante a guerra civil no país, acabando por regressar à Crimeia devido à pandemia de Covid-19.

Desde o início da invasão russa, o navio tornou-se um importante símbolo da força russa no Mar Negro. Tentando desestabilizar o inimigo, a Ucrânia já tinha tentado atacar o Novocherkassk em março de 2022, mas a embarcação apenas ficou com alguns danos.

Atualmente, as Forças Armadas da Ucrânia acreditam que a Rússia utilizava o navio para transportar drones iranianos Shahed, que são utilizados para “atacar cidades ucranianas”. Seria, assim, a presença daqueles equipamentos que acabaram por originar uma forte explosão, como salientou a porta-voz do comando sul da Ucrânia, Nataliya Humenyuk, citada pela BBC. “A mercadoria funcionou como uma espécie de presente de Natal”, atirou a responsável militar.

Para além de ser um golpe para a logística russa, podendo prevenir uma diminuição de ataques com drones à Ucrânia, Moscovo vai deixar de contar com um navio na sua frota no Mar Negro que, segundo o New York Times, podia transportar dez tanques e centenas de militares.