Com um comprimento de 112,5 metros e tendo capacidade para transportar até 500 toneladas de carga, o navio russo Novocherkassk era um importante ativo que a Rússia mantinha nas bases no Mar Negro. Esta terça-feira, a Ucrânia surpreendeu o Kremlin e afundou no porto de Feodosia, localizado no leste da Crimeia, aquela embarcação que já passou por Gaza e pela Síria.
Numa publicação nas redes sociais, o Ministério da Defesa ucraniano celebrava a destruição do navio, que levou ainda à morte de uma pessoa e causou danos a vários edifícios nas proximidades: “Os pilotos ucranianos ficaram um trabalho excelente. A Crimeia é a Ucrânia. Não há lugar para a frota do ocupante aqui”.
Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, informou o Presidente da Rússia e comandante supremo das forças armadas da Rússia, Vladimir Putin, que a embarcação tinha sofrido somente “danos”, fornecendo ao Chefe de Estado um relatório “muito detalhado”. Nos canais estatais russos, desvalorizou-se igualmente o assunto, mas a propagandista do Kremlin, Olga Skabeyeva, admitiu que o Chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, “mostrou mais uma vez a sua essência terrorista”.
Today's attack on the Novocherkassk was too significant for Russian state TV to ignore entirely
But if you hadn’t seen the explosion footage on social media, you would probably get the impression from presenter Olga Skabeyeva here that nothing serious had actually happened pic.twitter.com/M0YuhtQBQd
— Francis Scarr (@francis_scarr) December 26, 2023
A Ucrânia dá praticamente como certo que o navio está inoperacional. Citado pela Reuters, o porta-voz da Força Aérea ucraniana, Yuriy Ihnat, recordou o impacto da explosão para clarificar que “será muito difícil para um navio conseguir sobreviver”. “Não foi apenas um rocket, foi a detonação de munições”, prosseguiu.
Esta destruição do navio vem na sequência de uma série de ataques ucranianos à frota russa no Mar Negro, enfraquecendo a Rússia na região da Crimeia. O ministro da Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, escreveu na sua conta pessoal do X (antigo Twitter) que a “destruição” do Novocherkassk demonstra que não existe qualquer “impasse” na guerra na Ucrânia.
“Aqueles que acreditem num impasse não notaram que, nos últimos quatro meses, 20% da frota russa do Mar Negro foi destruída. O domínio da Rússia no Mar Negro está agora a ser desafiado”, afirmou Grant Shapps, que recordou que o Reino Unido e a Noruega assinaram um acordo para “ajudar a Ucrânia a vencer no mar”.
This latest destruction of Putin's navy demonstrates that those who believe there's a stalemate in the Ukraine war are wrong!
They haven't noticed that over the past 4 months 20% of Russia's Black Sea Fleet has been destroyed.
Russia's dominance in the Black Sea is now… https://t.co/F6zRmA9Kwx
— Rt Hon Grant Shapps MP (@grantshapps) December 26, 2023
A importância de Novocherkassk para a Rússia
Construído em 1987 ainda durante a época da União Soviética na Polónia, o Novocherkassk foi incluído na frota da Crimeia. Mantendo-se sob controlo russo após a dissolução da URSS, a embarcação foi fazendo vários exercícios militares durante a década de 90.
Em 2012, numa altura de tensão entre Israel e o Hamas, a Rússia enviou o Novocherkassk para a costa da Faixa de Gaza, para retirar cidadãos russos da região se houve uma escalada da situação. Mais tarde, em 2020, a embarcação acabou por ser enviada para a Síria, para apoiar as forças lideradas por Bashar al-Assad durante a guerra civil no país, acabando por regressar à Crimeia devido à pandemia de Covid-19.
Desde o início da invasão russa, o navio tornou-se um importante símbolo da força russa no Mar Negro. Tentando desestabilizar o inimigo, a Ucrânia já tinha tentado atacar o Novocherkassk em março de 2022, mas a embarcação apenas ficou com alguns danos.
???? The first satellite images showing the port of Feodosiya after the Ukrainian attack on the night of December 26.
???? In addition to the large landing ship "Novocherkassk", another ship partially sank as a result of the "impact". pic.twitter.com/Fw6a6iys19
— MAKS 23 ???????????? (@Maks_NAFO_FELLA) December 26, 2023
Atualmente, as Forças Armadas da Ucrânia acreditam que a Rússia utilizava o navio para transportar drones iranianos Shahed, que são utilizados para “atacar cidades ucranianas”. Seria, assim, a presença daqueles equipamentos que acabaram por originar uma forte explosão, como salientou a porta-voz do comando sul da Ucrânia, Nataliya Humenyuk, citada pela BBC. “A mercadoria funcionou como uma espécie de presente de Natal”, atirou a responsável militar.
Para além de ser um golpe para a logística russa, podendo prevenir uma diminuição de ataques com drones à Ucrânia, Moscovo vai deixar de contar com um navio na sua frota no Mar Negro que, segundo o New York Times, podia transportar dez tanques e centenas de militares.