O mercado chinês de futebol está longe dos tempos em que se tornou um verdadeiro El Dorado para alguns jogadores das principais ligas europeias. Aliás, nesse particular foi ultrapassado há muito por países como a Arábia Saudita, sendo que essa queda chegou mesmo a envolver a extinção de clubes como o Jiangsu Suning, que se sagrara campeão pouco antes, ou o Chongqing FC, que na altura da dissolução apresentava dívidas a alguns atletas e funcionários de 16 meses de atraso. Apesar disso, a liga mantém-se e continua sempre com uma particular atenção a Portugal, com o veterano avançado André Luís, do Moreirense, a reforçar agora em janeiro o Shanghai Shenhua (onde está também João Carlos Teixeira) e Guga, médio internacional nas camadas jovens do Rio Ave, a ser cobiçado pelo Beijing Guoan do técnico Ricardo Soares.

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Foi quase como se existisse um regresso ao período pré-El Dorado em que as autoridades abriram os cordões à bolsa para trazerem os melhores para a China no sentido de criar bases para um futuro mais próspero a nível de seleção que nunca aconteceu. Não é uma ideia deixada de parte, até pelo potencial que todos ainda reconhecem no país para poder ser um dos conjuntos mais fortes da Ásia, mas os métodos e as ambições mudaram de direção para uma via um pouco mais “inusitada” que não demorou a tornar-se notícia. E tudo a propósito de um documentário onde um antigo selecionador admitiu que pagou para ficar com a vaga.

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Assim, a Associação Chinesa de Futebol vai exigir a todos os seus funcionários que vejam a série em formato de documentário “Promover de maneira integrada os Três Imortais”, que acabou de ser transmitida com o quarto e último capítulo pelo canal estatal CCTV, e façam depois um resumo de pelo menos 1.500 palavras sobre o mesmo. Esta quinta-feira era a data limite para que fossem apresentadas essas reflexões por escrito, segundo vários meios locais, estando apenas dispensados do texto mas não da visualização os jogadores da seleção principal e dos Sub-20, concentrados para as respetivas participações na Taça Asiática.

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E o que tem o documentário, produzido pela Comissão Central de Inspeção da Disciplina (o órgão contra a corrupção do Partido Comunista da China) e pela Comissão Nacional de Supervisão (principal autoridade nacional nesta matéria)? Em resumo, a explicação de uma série de casos de corrupção no setor do futebol do país colocando como protagonistas o antigo diretor adjunto da Administração Geral do Desporto da China (Du Zhaocai), o ex-líder da Associação de Futebol Chinesa (Chen Xuyuan) e um antigo selecionador da equipa principal masculina (Li Tie). “É uma série em forma de advertência educativa”, explica-se.

Tudo começou com uma investigação a Li Tie em novembro de 2022, que foi aumentando e aumentando até destapar muitos mais casos de corrupção e subornos no futebol chinês. Mais de um ano depois, o caso já atingiu mais de 20 altos cargos da modalidade no país – e não deverá ficar por aqui, sendo que Li Tie, que antes foi jogador e internacional com passagens por Inglaterra (Everton e Sheffield United), continua a ser o centro de tudo pelas confissões que fez de atividades não apenas como treinador mas antes como atleta.

“Estou muito arrependido. Devia ter mantido a cabeça baixa e seguido o caminho certo. Há certas coisas que, na altura, eram prática comum nos círculos do futebol”, explica Li Tie no documentário sobre aquilo que define como “erros” cometidos ao longo dos anos. Entre as confissões, o antigo médio e agora treinador admite que pagou quase 400 mil euros para se tornar selecionador em 2019, entre os subornos ao então líder da Associação Chinesa de Futebol, bem como ao secretário-geral. Além de ter falhado os objetivos que tinha pela frente, nomeadamente apurar a China para o Campeonato do Mundo do Qatar, Li Tie terá também chamado jogadores do Wuhan Zall que não teriam qualidade para representar a formação nacional.