O presidente da Iniciativa Liberal (IL) disse este sábado não ter ficado surpreendido com a posição sobre a Venezuela do PCP, partido que está “sempre ao lado” das versões “piores possíveis do poder que oprime”.
Na sexta-feira, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, apelou à “responsabilidade do Governo português” para não reconhecer “um autoproclamado Presidente venezuelano”, aludindo a Edmundo González Urrutia.
Questionado sobre esta posição, Rui Rocha afirmou que “do PCP isso não surpreende”.
Venezuela. PCP apela ao Governo para não reconhecer um autoproclamado Presidente
“Nós estamos habituados a que o PCP ali onde está um ditador, onde está um Estado totalitário, desde que seja da cor que o PCP reconhece, está sempre ao lado dessas versões, das piores possíveis do poder que oprime”, afirmou o líder da IL, que falava aos jornalistas à margem da manifestação organizada pela associação Venexos, que juntou na noite deste sábado algumas dezenas de pessoas na Praça dos Restauradores, em Lisboa, pela mudança da Venezuela.
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Admitindo que a posição do PCP não surpreende, Rui Rocha considerou, contudo, que “é a posição errada, é uma posição que define o PCP como partido que está do lado errado da história”.
Portanto, “o Governo português andaria muito mal se desse ouvidos a essa pretensão do PCP”, acrescentou, considerando que o executivo não o fará.
“Percebo que há um caminho da diplomacia para trilhar, que é importante depois” que “estes movimentos se façam também no quadro internacional da União Europeia, nomeadamente, mas é um caminho que o Governo português – até porque temos uma comunidade luso-venezuelana muito grande – deve trilhar e deve promover também, junto dos seus parceiros europeus”, defendeu.
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Rui Rocha disse ainda esperar “firmeza” do Governo português no caso dos luso-venezuelanos detidos na Venezuela e que haja “veemência” nos contactos diplomáticos com o regime de Nicolás Maduro.
“É como digo, nós respeitamos os processos diplomáticos, mas sim”, afirmou, elencando a violação dos direitos humanos, a perseguição, a falta de transparência e de democracia no país.
“Quando estão em causa membros da nossa comunidade, a comunidade luso-venezuelana, aquilo que se exige ao Governo português é firmeza”, sublinhou o líder da IL.
Rui Rocha disse ainda ter ouvido as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e esperar “que a veemência que foi posta no discurso seja a veemência que é posta nos contactos diplomáticos com o regime de Nicolás Maduro”.
“É absolutamente inaceitável que tenhamos membros da comunidade luso-portuguesa sujeitos a prisão, desaparecidos”, tal “como é inaceitável que um povo inteiro, o povo venezuelano, esteja refém de Nicolás Maduro”, que classificou de “ditador sanguinário”.
Na sexta-feira, o Governo português exigiu às autoridades venezuelanas “a libertação imediata e incondicional de Williams Dávila Barrios, político da oposição e ex-governador do Estado de Merida, com nacionalidade portuguesa”. Numa declaração na rede social X, o ministro dos Negócios Estrangeiros português afirmou que “Portugal insiste na libertação dos opositores políticos detidos, na garantia da liberdade de manifestação política e na transparência democrática, em contacto estreito com os Estados da região e com os parceiros da UE”.
No texto, Paulo Rangel salientou que Dávila Barrios foi detido quinta-feira, “de modo arbitrário e com saúde precária”.
A Venezuela, país que conta com uma expressiva comunidade de portugueses e de lusodescendentes, vive uma crise eleitoral após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ter atribuído a vitória a Maduro, com pouco mais de 51% dos votos, enquanto a oposição afirma que o seu candidato, o antigo diplomata Edmundo González Urrutia, obteve quase 70% dos votos.
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A oposição venezuelana e diversos países da comunidade internacional denunciaram uma fraude eleitoral e exigiram que sejam apresentadas as atas de votação para uma verificação independente, o que o CNE diz ser inviável devido a um “ciberataque” de que alegadamente foi alvo.
Os resultados eleitorais têm sido contestados nas ruas, com manifestações reprimidas pelas forças de segurança, com o registo de cerca de duas mil detenções e de mais de duas dezenas de vítimas mortais.
(Atualizada às 23h02 com mais informação)