A Secretaria da Agricultura, Pescas e Ambiente da Madeira assegurou esta sexta-feira que não existe qualquer atividade de pesca na reserva das Selvagens, contrariando assim a denúncia do ecologista e explorador Enric Sala publicada na revista Nature.

“Não existe atividade de pesca nas Selvagens. Esse artigo […] parte, desde logo, de um erro. Não há pesca nas Selvagens, o que há é uma operação, que é determinada pela lei, que é a captura de indivíduos em todo o mar afeto à Madeira para sabermos qual é a realidade”, disse a secretária da tutela, Rafaela Fernandes.

A reserva natural das Ilhas Selvagens, um subarquipélago da região da Madeira, localizado a cerca de 300 quilómetros a sul do Funchal, foi ampliada em 2021 para 2.677 quilómetros quadrados.

Em declarações aos jornalistas no Funchal, Rafaela Fernandes explicou que a região está apenas a cumprir com a lei relativa ao plano de monitorização, que determina que a Direção Regional de Pescas comunique a situação dos ‘stocks’ marinhos de espécies comerciais em todo o mar da Madeira, incluído na reserva natural das Selvagens.

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“Ou seja, nós estávamos em falta relativamente ao gaiado, que é uma espécie comercial e que é uma espécie migratória, e era preciso perceber, no contexto desse plano de monitorização, este gaiado como circula nos mares da Madeira, incluído o mar das Selvagens, que características é que tem e que abundância tem”, esclareceu.

A governante disse que em vez de optar pela contratação de um navio, a secretaria regional decidiu autorizar três embarcações de pesca do atum a capturar gaiado nas Selvagens, vincando que outro dos objetivos é perceber qual é o impacto da espécie na reserva.

Rafaela Fernandes garante que o processo segue “regras apertadas” do ponto de vista do controlo e inspeção das respetivas embarcações envolvidas no projeto.

Numa carta aberta publicada na revista Nature, o ecologista e explorador Enric Sala denuncia que a área marinha protegida das Ilhas Selvagens está em risco, com pesca comercial de atum dentro da reserva sem avaliação de impacto.

No texto, subscrito por 297 cientistas e personalidades nacionais e internacionais, o ambientalista apela às autoridades locais para prosseguirem o caminho da conservação do oceano.

Em causa está “a maior área totalmente protegida da Europa”, afirma o explorador na carta, subscrita pelo enviado especial das Nações Unidas para o Oceano, Peter Thomson, e pelo diretor da Unidade de Economia das Pescas da Universidade de Colúmbia Britânica (Canadá), Rashid Sumaila, entre outros.

Enric Sala, ‘explorador residente’ da National Geographic, afirma na carta, intitulada “Salvem a maior reserva marinha da Europa”, que está a ser permitida pesca comercial de atum, “sem que tenha sido solicitado qualquer parecer científico ou avaliação de impacto” para sustentar a decisão.

A secretária regional da Agricultura, Pescas e Ambiente refuta as acusações e reitera que “não é uma atividade de pesca comercial”, mas uma “atividade determinada pela lei”.

“Por muito que nós tentemos explicar isto […] há sempre quem não tenha um processo de escuta ativa, infelizmente”, declarou, indicando que a secretaria está disponível para se reunir e prestar esclarecimentos a qualquer associação e organismo ligados ao mar e à conservação da natureza.