O novo primeiro-ministro francês, o conservador Michel Barnier, disse este domingo que a sua política “não será só de direita”, tem intenção de “ouvir toda a gente” e aprendeu “a cultura do compromisso” ao longo da sua carreira.
Em várias entrevistas publicadas nos jornais La Tribune e Le Journal du Dimanche, citadas pela agência Efe, Barnier tenta dar uma imagem de abertura e de atenção aos franceses desinteressado da política, que “estão fartos que tudo venha decidido de cima”.
“Eu venho de baixo, não há nenhuma ambiguidade sobre essa questão”, sublinhou, referindo-se ao facto de a sua mãe ser uma “militante associativa” e de o seu pai ter sido um “pequeno empresário”.
Ainda que não detalhe concretamente o seu programa político nestas entrevistas, afirma que tem intenção de encarnar “uma esperança para França” e “elevar a linha do horizonte individual e coletivo para França”.
Sobre qual será a sua relação com o presidente Emmanuel Macron, que o elegeu para formar Governo, o primeiro-ministro assegura que não lhe assinalou qual terá de ser o seu programa. “O Presidente deixou as coisas claras comigo. Dá-me liberdade para formar governo e definir a minha linha política. Tenho uma grande liberdade”, assinalou.
Esta foi uma resposta a quem, sobretudo à esquerda, considera que Macron optou por este veterano político (73 anos) membro do partido Os Republicanos (que obteve 6% nas eleições antecipadas de junho e julho) porque irá seguir políticas de continuidade.
As críticas são também recusadas pelo Palácio do Eliseu, que sustenta que Macron se guiou unicamente pelo imperativo constitucional de procurar um primeiro-ministro que garantisse estabilidade política, ou seja, uma pessoa não suscetível de ser rejeitada rapidamente por uma moção de censura.
Michel Barnier continua este domingo com consultas e entrevistas para formar o seu governo, nomeadamente com Édouard Phillipe, primeiro-ministro de Macron entre maio de 2017 e julho de 2020.
Quando formar o seu governo, um dos primeiros desafios será a elaboração do Orçamento do Estado para 2025, antes de 1 de outubro, num contexto de grande dificuldade pelo aumento do défice público a níveis preocupantes.
A Comissão Europeia abriu, no final de julho, um Procedimento por Défice Excessivo a França, após Paris ter superado os 5,5% de défice, e a tendência será continuar, a menos que haja cortes ou aumentos de impostos.
O presidente do Tribunal de Contas francês, o antigo comissário europeu Pierre Moscovici, pediu ao primeiro-ministro que atue “de maneira rápida e decisiva contra o défice”, porque “se nada mudar, França chegará este ano a um défice de 5,6% do PIB, em vez do 5,1% previsto, e a 6,2% em 2025”. O Ministério das Finanças já pediu a Bruxelas um prazo adicional para apresentar um programa de redução do défice, que deverá ter de enviar até 20 de setembro.