Pedro Nuno Santos ficou surpreendido com as reuniões entre o primeiro-ministro e os líderes da Iniciativa liberal e do Chega desta segunda-feira. O líder socialista não se coloca de fora de encontros futuros (e há um marcado para o dia 27) por causa dessas “reuniões secretas” — “tem o direito de as fazer” –, mas avisa que “não se pode continuar a fazer de conta que existe um parceiro preferencial” para a negociação do Orçamento do Estado para o próximo ano.

O socialista aproveitou o momento para retirar de cima dos seus ombros a pressão para a viabilização do Orçamento — que mantém não haver “razão para que seja inviabilizado”, garantindo que “há espaço para se trabalhar”. Pedro Nuno Santos diz mesmo que “hoje se percebe melhor a motivação do comunicado de ontem [domingo]” do Governo: “Com receio de ser apanhado a ter reuniões secretas com o Chega, nomeadamente, tinha a necessidade de mostrar que procurou e tentou e quer reunir com o PS”.

“Foi sendo sempre dito por quem governa que o PS era um parceiro preferencial”, anotou à margem de uma visita a Baião, onde disse que “tal como na semana passada o Governo tentou fazer duas reuniões secretas” com o PS, “fez duas hoje de manhã”, com o Chega e a IL. No entanto, Pedro Nuno Santos diz que essa intenção não é real e que, depois das últimas “declarações e ações” do Governo, conclui que “não está interessado em negociar nem em criar bom ambiente negocial. Toda a ação do Governo parece indiciar a vontade de provocar eleições antecipadas“.

“Precisávamos de um Governo focado do que esteve na origem dos incêndios”, disse o socialista, acrescentando que o tema do OE “não pode servir para que se retire da agenda pública temas tão importantes como os incêndios”. Sobre eventuais pressões do Presidente da República, o socialista disse que não acredita que “o Presidente esteja só a falar para o PS” e que “a pressão tem de ser para quem governa”.

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Só não comentou as declarações de André Ventura sobre as negociações do Orçamento, atacando apenas o líder do Chega por fazer estas críticas ao mesmo tempo que se reúne com o primeiro-ministro sobre o Orçamento.

Ataque à gestão política dos incêndios chega dias depois da trégua com crítica ao “populismo” de Montenegro

O líder socialista fez esta segunda-feira uma visita a municípios atingidos pelos incêndios da última semana e reuniu-se com autarcas socialistas (de Baião, Gondomar, Marco de Canaveses, Paredes, Santo Tirso, Arouca e Oliveira de Azeméis, e aproveitou para atacar a gestão do Governo. “Houve várias coisas que não correram bem”, disse o socialista em declarações aos jornalistas apontando que “vários autarcas se queixam de  falta de coordenação política”.

“Não houve ministra da Administração Interna naqueles dias”, disse Pedro Nuno Santos que quando confrontado com a ação específica do primeiro-ministro também a considerou insuficiente: “Houve primeiro-ministro mas para se focar apenas num factor que é o fogo posto”. “É um elemento de enorme preocupação”, reconheceu, mas “não se pode ficar por aí”. Acusou mesmo Luís Montenegro de “carregar na dimensão mais populista”, mas sem acrescentar “nenhuma reflexão ou manifestação de preocupação sobre a prevenção e o combate”.

Na quinta-feira passada, Pedro Nuno Santos tinha sido comedido na análise à gestão política dos incêndios por o país estar em pleno combate, mas tinha prometido uma avaliação para mais tarde.