Marcellus Williams foi executado esta terça-feira por um crime que remonta a 1998, e que, durante os 23 anos que passou no corredor da morte, negou ter cometido. O procurador do condado de Cole, no estado Missouri, que o condenou, tentou reverter a sua decisão e anular a execução, após resultados de um teste de ADN, em 2016, negarem haver correspondência entre os dados genéticos de Williams e aqueles encontrados na cena do crime.

Marcellus Williams foi condenado à morte, em 2001, pelo assassinato de Felicia Gayle, uma ex-jornalista e filantropa, esfaqueada 43 vezes, durante um roubo à sua casa, nos subúrbios de St. Louis, também no Missouri.

Williams já tinha sido condenado a prisão efetiva por roubo e assalto. A sua condenação por assassinato sustentou-se acima de tudo no testemunho de duas pessoas que já tinham igualmente sido condenadas a penas de prisão. Os contributos de ambos foram providenciadas após a família da vítima ter publicitado uma recompensa de 10 mil dólares para qualquer nova informação sobre o caso, segundo noticia o Innocence Project, associação que segue casos de convicções alegadamente erradas.

Uma das testemunhas foi Henry Cole, que afirmou que Williams lhe confessou a autoria do crime quando estavam no mesmo estabelecimento prisional. O Center on Wrongful Convictions afirma que, em casos de pena de morte, “testemunhos falsos de pessoas incentivadas para o fazer é a maior causa de convicções erradas”. Desde meados dos anos 1970, 49,5% das convicções de pena de morte erradas utilizaram como sustentação testemunhos que se vieram a considerar falsos, segundo a análise.

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A execução de Marcellus Williams já tinha sido adiada duas vezes. Uma primeira em 2015, quando o Supremo Tribunal do Missouri escolheu um especialista em ADN para voltar a fazer uma análise às provas recolhidas. O ADN masculino encontrado na faca, impressões digitais, manchas de sangue, pegadas e cabelos encontrados na cena do crime, que corresponderia ao culpado, não condizia com o do condenado. Contudo, estas descobertas não foram partilhados em qualquer audiência pelo especialista que conduziu os testes e não se chegou a uma conclusão que vinculasse ao caso judicial.

Em 2017, o especialista em causa remeteu o caso para o Supremo Tribunal estadual que remarcou a execução para 22 de agosto desse ano. Após ter comido a sua última refeição, momentos antes de ser executado, Williams viu a sua execução ser suspensa pelo governador do Missouri, o republicano Eric Greitens. Este afirmou ter várias dúvidas sobre a culpa do condenado, devido aos dados apurados pela análise ao ADN.

Foi então criada uma comissão de inquérito com objetivo de clarificar o caso. Segundo a lei do estado, esta decisão garantia igualmente a suspensão da pena até que fossem publicados os resultados da investigação.

Com a demissão de Greitens, em 2018, subiu ao poder um novo governador do estado, o também republicano Mike Parson. O novo governador do Missouri decidiu unilateralmente dissolver a comissão criada pelo seu antecessor, sem pedir qualquer parecer sobre os trabalhos já desenvolvidos e remarcou uma data para a aplicação da sentença. “Esta comissão foi criada há seis anos. É hora de seguir em frente”, disse Parson. Podíamos empatar e adiar por mais seis anos, diferir a justiça, deixar a família da vítima num limbo e resolvendo nada”.

Em agosto, Williams aceitou um acordo Alford  — em que o condenado não admite o crime, mas reconhece que existem provas suficientes para que seja condenado — com os procuradores do condado que o julgou, em 2001, que reduziria a pena de morte para uma pena de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. O procurador-geral do Missouri não aceitou tal acordo. A família da vítima apoiava esta decisão e eram contra a execução de Williams, segundo o Innocence Project.

Na terça-feira, ainda houve uma votação do Supremo Tribunal dos Estados Unidos para adiar a execução. Apenas três dos 12 juízes votaram nesse sentido. Assim, Williams foi executado por injeção letal. A assistir ao processo estiveram dois advogados e o seu filho Marcellus Williams Jr., que em 2017 já pensava ter dito o último adeus ao pai.

“Durante os seus 23 anos na prisão, Marcellus Williams dedicou muito tempo a estudar o Islão e a escrever poesia“, acrescenta a associação. Era conhecido no estabelecimento prisional onde estava encarcerado como “Khaliifah”, que significa líder em árabe. “Viva a Allah em todas as situações”, foram as suas últimas palavras.

No mesmo dia, foi executado Travis Mullis de 38 anos, no Texas. Nos EUA, já foram executadas 16 pessoas, em 2024. Com mais duas execuções marcadas para quinta-feira, serão realizadas um total de cinco em apenas sete dias, entre 20 a 26 de setembro.