Marcelo Rebelo de Sousa destacou, numa entrevista ao ex-primeiro-ministro António Costa, o momento em que o antigo Presidente Costa Gomes chamou Álvaro Cunhal a Belém, para procurar evitar uma guerra civil.
“Hoje a noção que há é que foi uma conversa duríssima, porque o dr. Cunhal era muito duro, mas o presidente Costa Gomes duro era”, observou Marcelo Rebelo de Sousa a propósito de um dos momentos mais sensíveis da construção da democracia portuguesa, em 1975.
No programa “Conversas de Excelência”, no canal News Now, o ex-primeiro-ministro António Costa conduziu o actual chefe de Estado numa incursão pelos percursos dos seus seis antecessores no cargo.
No episódio transmitido hoje, disse que Costa Gomes (que ocupou a Presidência da República de setembro de 1974 a junho de 1976) era “uma cabeça” que teve sempre “20 a Matemática” mas “muito tímido” e que se apaixonou pela mulher com quem viria a casar, Estela Costa Gomes, por a ter visto retratada numa pintura de Henrique de Medina, trajada de minhota.
Neste primeiro episódio, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o “papel determinante” de Costa Gomes em “evitar uma guerra civil” e do histórico líder do PCP Álvaro Cunhal no 25 de Novembro de 1975: “o presidente Costa Gomes convence o dr. Cunhal a fazer refrear o que era porventura um ímpeto de base do partido, para evitar uma guerra civil”.
“Quando se chega ao 25 de Novembro, a esquerda radical é derrotada. O Partido Comunista Português, aparentemente, num primeiro momento acha que ainda pode travar a caminhada para a direita. O que é facto é que o Presidente Costa Gomes chama a Belém os responsáveis militares e vai gerindo em Belém o que se está a passar e chama o dr. Cunhal”, diz Marcelo.
Neste ponto, António Costa nota que “há quem entenda” que uma das razões pelas quais o Partido Comunista “saiu fora do 25 de Novembro e, no fundo, no 25 de Novembro a revolução acabou”, foi porque “o que estava verdadeiramente em causa era condicionar o país até à conclusão do processo de descolonização”.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “as duas versões não são incompatíveis”.
“Eu limito-me a dizer, penso que tem razão [quem afirma] que o papel do presidente Costa Gomes foi de moderador duro em relação à teimosia do Partido Comunista”.
Por outro lado, acrescentou, “o dr. Álvaro Cunhal no fundo também tinha a noção dos riscos que corria porque é preciso ver que imediatamente depois houve movimentos mais à direita que quiseram proibir o Partido Comunista”.