Anastácio Alves foi condenado por quatro crimes de abuso sexual de crianças e um crime de atos sexuais com adolescente, em junho deste ano. Quatro meses depois, o ex-padre madeirense pede agora desculpa publicamente “à vítima, à família e à Igreja”, numa entrevista com a TVI, transmitida esta sexta-feira. Ainda assim, garante que não é “um pedófilo” e insiste que não deve ir preso, motivo pelo qual recorreu da decisão do Tribunal da Relação de Lisboa.
“Gostaria de pedir publicamente perdão. Em primeiro lugar à vítima, aos familiares, que foram pessoas minhas amigas, me fizeram privar com a sua amizade, a sua confiança, até o seu amor e eu traí-os. Perdão pelo meu comportamento à Igreja, pelo mal que causei à Igreja“. Foi assim que o ex-padre Anastácio Alves começou a sua conversa com o canal, naquela que foi a sua primeira declaração pública desta natureza.
Continua explicando que o seu propósito não é a “absolvição”, mas ser “condenado pelo ato que realmente praticou, o de agosto de 2016”. “Tenho consciência que causei muito sofrimento ao jovem. Isso perturba a minha paz”, afirma, negando repetidamente as outras quatro acusações.
Relação chumba recurso do ex-padre Anastácio Alves e mantém pena de seis anos e meio na prisão
Esta defesa, que Anastácio Alves apresentou em tribunal, não convenceu o coletivo de juízes da Relação, que manteve a pena de seis anos e seis meses de prisão efetiva. O ex-padre argumenta que a sua vítima “foi sugestionada” pela juíza e que os restantes abusos nunca aconteceram. E o abuso que admite, traça-lhe outros contornos, tal como tem feito até aqui. Agora, espera uma resposta do recurso no Supremo Tribunal de Justiça, considerando que deve ficar com a pena suspensa.
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O antigo sacerdote do Funchal acrescenta que não sabia que o jovem tinha apenas 13 anos, achou “que era mais velho”. Não responde se isso faria alguma diferença, mas mais à frente explica o que diz sentir: “Sente-se um pedófilo?”. “Não, sinto-me uma pessoa com uma pulsão [por menores], como o meu psiquiatra recorda, principalmente a nível do meu imaginário”, responde, dizendo que não passa, contudo, aos atos. “[Pulsão] com crianças?”, insiste a jornalista. “Não, com adolescentes, a partir dos 14, 15, 16”, responde rapidamente.
Padre Anastácio confessa abuso sexual de menores, tenta entregar-se à PGR, mas não consegue
Anastácio Alves afirma ainda que recebeu um pedido de desculpas de uma outra alegada vítima, que diz ter sido abusada na sacristia em 2005. A vítima, ouvida pela TVI, garante que nunca fez isso e que ele é que merece um pedido de desculpas. “O fundamental é que ele admita e que seja feita justiça”, remata essa vítima, que quis manter o anonimato.
O antigo padre do Funchal desapareceu em 2018 sem deixar rasto, depois de uma queixa por abuso sexual de menor. Em janeiro de 2023, foi formalmente acusado de cinco crimes de abuso sexual de criança e adolescente e estava a ser procurado internacionalmente.
Em fevereiro de 2023, o padre madeirense tentou entregar-se na Procuradoria-Geral da República (PGR). Como o Observador noticiou, não teve sucesso na intenção, mas confessou ter abusado de menores e estar pronto para “assumir as suas responsabilidades”.
Anastácio Alves já tinha sido investigado em dois processos semelhantes, cerca de dez anos antes, mas o Ministério Público arquivou ambos os casos, tal como o Observador noticiou em 2019, e o padre continuou no ativo. A vítima, à data com 13 anos, era neto de amigos que Anastácio visitou no Funchal, já depois de a Igreja o ter colocado ao serviço de uma paróquia perto de Paris.