A decisão de participar na comemoração do 25 de Novembro, ainda que apenas de forma parcial, gerou tensões no interior do Bloco de Esquerda. Isto porque o grupo mais relevante, ainda que claramente minoritário, de críticos internos já veio criticar a decisão, acusando o partido de se “juntar à comemoração de forma envergonhada” em vez de “resistir”.

Ao Observador, Pedro Soares, porta voz desta corrente, não poupa críticas à direção. “Não há discurso possível que permita esconder a participação do Bloco naquela comemoração. Essa comemoração não é um mero assinalar da data. Quem a propôs considera que deve ser um comemoração equivalente ao 25 de Abril. É completamente desajustado. Não tem sentido”, afirmou o bloquista.

Num texto publicado no site do movimento Convergência, associado ao grupo de críticos que assinaram a moção alternativa última convenção do Bloco (e têm 13 dos 80 assentos na direção alargada do partido), os críticos acusam o partido de, em vez de optar por “marcar o campo que se opõe e resiste a essa ofensiva”, preferir “adaptar-se, em nome da proximidade e de ansiadas alianças com o centro”. A crítica sobre a vontade do Bloco de construir alianças, nomeadamente com o PS, é recorrente nos críticos da direção de Mariana Mortágua e já vem do tempo da geringonça.

Este grupo, que inclui o histórico Mário Tomé ou o ex-deputado Pedro Soares, há muito defende que o Bloco se devia ter libertado dos acordos com o PS há mais tempo e que ganhou um vício por aquilo que define como “geringoncismo”, passando a definir a sua orientação política à volta da hipótese de chegar a convergências. Essas críticas foram repetidas desde que o Bloco começou a defender que essas convergências se apliquem a algumas candidaturas autárquicas, como Lisboa, assim como para as presidenciais.

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Ora para os críticos um sintoma dessa “adaptação” é a decisão do Bloco de marcar presença, ainda que com apenas uma deputada, na sessão solene do 25 de Novembro, aprovada pelos partidos de direita e nos mesmos moldes que o 25 de Abril, a nível de comemorações parlamentares. O PCP decidiu não comparecer de todo, opção que o grupo de críticos bloquistas considera preferível. No mesmo texto,  os críticos defendem que o 25 de Novembro “bloqueou a revolução que trouxe a democracia” e que, por isso mesmo, participar nesta sessão é uma “farsa”.

“O que esteve em causa foi a revolução democrática do PREC”, defende o texto, que prossegue considerando “uma ideia peregrina” dizer que o 25 de Novembro se tratou de um “golpe intramilitar da direita” ou que não teve “consequências imediatas na estrutura do poder político” — citações retiradas de um texto do fundador e dirigente do Bloco Luís Fazenda publicado esta semana, no qual defende que o “golpe” do 25 de Novembro não constituiu travar uma Constituição “que defendia a transição para uma sociedade sem classes e as muitas nacionalizações dos grupos capitalistas que se confirmaram”.

Para os críticos, essa alegada relativização serve “apenas para justificar a participação do Bloco na comemoração do 25 de Novembro no Parlamento”, “ajudando a minimizar o carácter reacionário do golpe como pretende o centro político”. Mas, para os críticos, “não haverá discurso que consiga esconder o significado público da participação naquele ato que toda a direita e extrema-direita quer que seja equiparável ao do 25 de Abril”, assim como a sua “insistente procura de neutralização da centralidade histórica do PREC para a democracia”.

A direção do Bloco é assim acusada de branquear uma “guerra cultural” alegadamente promovida pela direita. Quando anunciou a decisão de participar na comemoração mas apenas com uma deputada, o líder parlamentar do BE, Fabian Figueiredo, disse que o objetivo passaria por “denunciar a desvalorização do 25 de Abril” e que o Bloco trabalharia para reverter a criação desta sessão solene assim que a esquerda voltasse a ter maioria no Parlamento.

Bloco só leva uma deputada à sessão do 25 de Novembro e promete acabar com cerimónia quando existir outra maioria