A investigadora Maria Manuel Mota considera curto o aumento de 3% no orçamento para a ciência e pede mais ambição no investimento, para se acabar com o “crónico subfinanciamento” e a precariedade “de uma vez por todas”.

Dando como exemplo países com dimensão parecida com Portugal, a diretora do Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular, conhecida pelo trabalho desenvolvido no campo da malária, aponta a Áustria ou a Bélgica e afirma: “Nós devíamos ter mais 800 milhões de euros em ciência todos os anos”.

“Obviamente, não é apenas despejar dinheiro. É pôr este dinheiro ao serviço de uma estrutura que seja clara”, acrescenta.

Lembra o que se conseguiu nesta área e quanto Portugal cresceu “na transição dos anos 90 para os anos 2000 e depois, até à crise financeira” e recorda: “Muitas vezes parece que estamos satisfeitos com o que temos e isso é o pior, até porque os outros não param de crescer”.

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A cientista diz que o alvo de ter mais de 800 milhões para ciência “não parece assim tanto” e sublinha a necessidade de se escolher onde se aplica esta verba: “Por um lado fortalecer as instituições que são fortes, dão fruto e têm potencial, por outro, [fazer com que essas instituições tenham] carreiras de investigação científica para acabar com a precariedade, de uma vez por todas”.

Questionada sobre a proposta de Orçamento do Estado para 2025, considera que a proposta a que teve acesso aponta para 3% de aumento no financiamento, o que nem cobre a inflação dos últimos anos. “Parece-me bastante insuficiente. É preciso mais ambição”, afirma.

De acordo com a proposta do OE2025, a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), principal entidade, na dependência do Governo, que financia a investigação científica em Portugal, tem uma dotação inicial de 607 milhões de euros, menos 68 milhões de euros face a 2024.

Desde 2018 que o orçamento previsto para a FCT não era tão baixo.

Segundo a nota explicativa da proposta do OE2025 para o setor do ensino superior, ciência e inovação, a redução no orçamento total previsto para a FCT é em parte justificada pela diminuição da parcela de fundos europeus (que totaliza 114 milhões de euros, menos 29 milhões face a 2024).

Por outro lado, nas contas da FCT para o próximo ano não entram as operações extraorçamentais, que nas dotações iniciais para 2024 ascendiam a 65 milhões de euros.

Investigadora defende antecipação de rastreios aos cancros colorretal e da mama

Em entrevista à Agência Lusa, Maria Manuel Mota também defendeu uma antecipação dos rastreios nos cancros colorretal e da mama e alerta que estão a aparecer cada vez mais cedo na população.

“No cancro colorretal, que era um cancro tipicamente de pessoas acima dos 50 anos (…), nós estamos a ver casos muito jovens. E quando estamos a falar de jovens é abaixo dos 40 anos. Já existem pelo mundo inteiro, não é apenas em Portugal, é um fenómeno que está a acontecer em vários tipos de cancro”, afirmou a investigadora.

Numa entrevista à Lusa a propósito do trabalho que o GIMM vai desenvolver, a investigadora diz que os rastreios terão “todos de ser pensados”, e lembra: “Muitas vezes as normas são muito rígidas e os dados que vêm da ciência têm de nos fazer repensar isto”.

O diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Martinho, já tinha alertado para o aumento de casos de cancro da mama, colorretal e do fígado em pessoas mais jovens, apontando a obesidade e o consumo exagerado de álcool e carnes vermelhas como causas para este problema.

Quanto ao cancro da mama, a Direção-Geral da Saúde (DGS) está a atualizar a norma referente ao rastreio, antecipando-o dos 50 para os 45 anos. O documento já deveria ter ficado concluído no verão.

A recomendação da DGS vem cumprir as recomendações da União Europeia emitidas há dois anos para antecipar a primeira mamografia para os 45 anos e estender o rastreio até aos 74 anos.