A União Internacional das Telecomunicações (UIT) anunciou, esta sexta-feira, a criação, em conjunto com outra agência da ONU, de um organismo para reforçar a proteção de cabos submarinos, que será presidido pela portuguesa Sandra Maximiano.

O chamado Órgão Consultivo para a Resiliência dos Cabos Submarinos, composto por cerca de 40 especialistas de vários governos, empresas e outras instituições, vai tentar encontrar “boas práticas e respostas” para combater os cerca de 150 a 200 incidentes que estas estruturas registam por ano, sublinhou, em conferência de imprensa, o secretário-geral adjunto da UIT, Tomas Lamanauskas.

O novo organismo será co-presidido pela portuguesa Sandra Maximiano, presidente da entidade reguladora das comunicações, e pelo ministro das Telecomunicações da Nigéria, Bosun Tijani.

Lamanauskas garantiu, no entanto, que o novo organismo não vai investigar casos como os recentes no mar Báltico, um dos quais levantou a suspeita de que um cargueiro chinês possa ter provocado uma rotura de um cabo de fibra ótica entre a Finlândia e a Alemanha, e um outro que se acredita ter sido sabotagem ao ser quebrado um cabo entre a Suécia e a Lituânia.

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“Isto continuará a ser da responsabilidade de autoridades nacionais específicas”, sublinhou o “número dois” da UIT.

A Nigéria, que se situa numa zona especialmente afetada nos últimos tempos por este tipo de cortes nas comunicações subaquáticas, acolherá, no próximo mês de fevereiro, a cimeira inaugural da organização, sublinhou Lamanauskas.

A UIT recorda que 99% dos dados internacionais viajam através destes cabos submarinos, que sofrem danos tanto por causas naturais (maremotos ou tsunamis) como por atividades humanas, desde a pesca à navegação comercial, até aos danos provocados por razões estratégicas.

Do total, 7% dos incidentes são causados pelo Homem, disse o secretário-geral adjunto da UIT, admitindo que os consumidores não costumam ser afetados, uma vez que o tráfego pode ser redirecionado para outras rotas.

No entanto, se os acidentes danificarem elos muito estratégicos, por exemplo no Mediterrâneo ou no Mar Vermelho, recentemente muito afetados por este tipo de problemas, o tráfego de dados pode ser interrompido, esclareceu Lamanauskas.

Um caso extremo ocorreu em 2022, em Tonga, quando erupções vulcânicas e tsunamis no Oceano Pacífico deixaram a ilha-Estado de Tonga “isolada” da internet durante várias semanas, tendo sido necessários cerca de 18 meses para reparar os danos então sofridos.

Nos últimos dias, as autoridades da Finlândia, Suécia e Lituânia têm estado a investigar danos sofridos quase em simultâneo nos seus cabos submarinos.

A principal suspeita é que os danos tenham sido causados pela âncora do cargueiro chinês “Yi Peng 3”, até porque os dados de tráfego marítimo mostram o navio nas proximidades de ambos os cabos no momento em que foram detetadas as roturas.

O “Yi Peng 3” está ancorado há dias no estreito de Kattegat, em águas internacionais, entre a Dinamarca e a Suécia, escoltado por vários navios patrulha dinamarqueses, suecos e alemães para evitar que continue a navegar e saia do Báltico.