A decisão de Joe Biden de perdoar o filho, Hunter Biden, algo que prometeu nunca fazer, está a causar grande desconforto no Partido Democrata. A polémica chega ao ponto de figuras cimeiras do Partido Democrata estarem a ponderar não contribuir para a biblioteca presidencial de Biden, uma tradição de todos os ex-Presidentes dos Estados Unidos da América (EUA) desde a administração Roosevelt.
As bibliotecas presidenciais — onde se guardam os documentos, livros, fotografias e outros papéis do mandato presidencial — são financiadas de forma pública e privada, através de donativos. Mas segundo o jornal online Axios. há democratas de peso que estão a pensar boicotar por completo o apoio à construção da Biblioteca Presidencial de Biden, o que põe em causa a sua viabilidade. O projeto previsto para o Estado do Delaware está a cargo da vice chefe de gabinete da administração cessante Annie Tomasini e de Anthony Bernal, conselheiro da primeira dama Jill Biden. “Se o quisessem fazer [apoiar a construção] já teriam começado a trabalhar nesse sentido durante o verão, logo depois de Biden ter anunciado que se ia afastar”, disse um desses democratas ao Axios. “Agora, é demasiado tarde. Esperemos que estejam a reduzir as suas expectativas e o seu orçamento”, acrescentou a mesma fonte.
No entanto, uma fonte próxima de Biden negou ter conhecimento de qualquer intenção de não financiar a biblioteca por parte dos democratas. “Não, esse sentimento não surgiu numa única conversa com algum doador, e o trabalho está bem encaminhado”, garantiu ao órgão de comunicação social.
Este é apenas mais um sinal da deterioração da relação entre o Presidente cessante e o seu partido. A relação começou a esfriar quando Biden resistiu a desistir da sua candidatura nas eleições presidenciais, havendo quem atribua a essa demora a derrota de Kamala Harris (que só terá tido três meses para ganhar o voto dos eleitores). E agravou-se esta semana com o indulto de Biden ao filho Hunter.
Alguns senadores e congressistas têm manifestado publicamente o seu descontentamento com a decisão, acusando o Presidente de pôr os seus sentimentos à frente dos interesses do país e de oferecer a Trump uma desculpa para abusar dos poderes presidenciais. Nem mesmo ChuckChumer, o líder dos democratas no senado e figura sempre leal a Biden, veio em sua defesa. Aos jornalistas, no Congresso, respondeu apenas que não “tinha nada a dizer sobre o assunto”, recorda o jornal britânico The Guardian.
Hunter Biden, atualmente com 54 anos, foi condenado por mentir que tinha licença de porte de arma e também em casos separados de fuga ao fisco.
O juiz Mark Scarsi, que teve a seu cargo um dos casos de fuga ao fisco, sublinhou que os crimes foram cometidos após Hunter resolver os seus problemas aditivos e acusou Joe Biden de rescrever a história do caso, ao justificar o indulto como se o filho estivesse a ser perseguido pelos seus problemas pessoais com álcool e drogas.
O correspondente do New York Times na Casa Branca, Peter Baker, escreveu mesmo que Biden teve uma atitude próxima do seu sucessor, ao atribuir intenções políticas aos casos federais que envolviam o seu filho.
Baker salientou que o perdão vem baralhar o debate político sobre a natureza e a imparcialidade da justiça nos Estados Unidos. Ambos os casos que envolviam Trump e Hunter Biden foram entregues a procuradores separados para garantir que estavam livres de influência política. A decisão de Biden dificulta a vida para os democratas, que vão tentar defender que o Departamento de Justiça não seja instrumentalizado pela futura administração Trump.
Aliás, o Presidente-eleito aproveitou o indulto logo para pôr em cima da mesa a hipótese de libertar apoiantes seus presos após o assalto ao Capitólio no dia 6 de Janeiro.
Na opinião de David Axelorod, antigo conselheiro da admnistração Obama citado pelo The Guardian, o indulto dá “carta branca a vários políticos democratas que acham que podem ganhar vantagens politicas” afastando-se de um Presidente impopular que segundo o “site” de sondagens FiveThiryEight, deve terminar o mandato com uma taxa de aprovação de apenas 37%.