Mohamed Al-Fayed terá fingido demência para evitar ser formalmente acusado de crimes de violação e abuso sexual. Para tal, terá tido ajuda de vários “facilitadores” sob investigação das autoridades. As revelações foram feitas por um dos seus filhos, Omar Al-Fayed, numa entrevista ao tabloide britânico Mail on Sunday.

Falecido em agosto de 2023, aos 94 anos, Mohamed Al-Fayed era o proprietário dos armazéns de luxo Harrods e pai de cinco filhos, o mais velho dos quais, Dodi, era o namorado da princesa Diana aquando do desastre que os vitimou aos dois a 31 de agosto de 1997. Omar, o mais novo, esteve na calha para herdar o império do pai, mas enveredou por uma carreira no empreendedorismo tecnológico.

Segundo Omar, Al-Fayed esteve próximo de ser acusado em vida, em 2017, quando a polícia começou a encarar mais seriamente as alegações de abuso sexual e violação de que foi alvo. No entanto, afirma — sem indicar nomes — de que houve quem tenha livrado o pai de ser formalmente acusado “com o argumento de que estava mentalmente incapacitado”.

No entanto, após o caso passar, “tudo voltou ao normal e ele estava completamente lúcido”, afirma, acrescentando que a idade avançada do pai nunca deveria ter sido um impeditivo, fazendo a seguinte comparação: “Se se descobrir que um general nazi esteve escondido no Algarve nos últimos 50 anos, é claro que deve ser julgado”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Uma queixa na polícia, uma biografia, uma investigação jornalística. Indícios contra Al-Fayed remontam aos anos 90 mas acusação nunca surgiu

O escândalo sexual envolvendo Al-Fayed explodiu em setembro deste ano, após a emissão de Al-Fayed: Predator At Harrods (Al- Fayed: Predador no Harrods), um documentário da BBC. Desde então, já mais de 400 mulheres contactaram a equipa legal a tratar das acusações póstumas ao magnata falecido. Já a Polícia Metropolitana de Londres cifra o número de vítimas de violação e abuso sexual em 111, a mais nova das quais uma menina de 13 anos.

No entanto, os rumores e as alegações em redor de Al-Fayed estendem-se para trás no tempo, até aos anos 90, sendo que começaram a ser encarados com maior seriedade em 2013, quando foi detido devido a uma alegação de violação, não chegando a ser acusado.

As revelações de Omar, no entanto, parecem aludir ao período entre 2017 e 2018. De acordo com o The Guardian, foi nessa altura que uma mulher fez uma queixa à polícia, tendo-lhe sido dito que o dono do Harrods era demasiado velho para ser acusado e que não estava em condições de ir a tribunal devido a sofrer de demência.

O mesmo jornal recorda que Al-Fayed e a sua equipa legal tentaram também impedir o canal Channel 4 de emitir um documentário com acusações de assediar sexualmente jovens funcionárias, usando o mesmo argumento de que estava mentalmente incapacitado.

Harrods em negociações com mais de 250 alegadas vítimas de abuso sexual por Al-Fayed

Confrontada com estas revelações, a polícia escusa-se a fazer comentários, recorrendo a uma declaração já feita aquando do anúncio de uma nova investigação quanto às pessoas que poderão ter facilitado os crimes de Al-Fayed. “Não foi intentada qualquer ação penal contra Al Fayed enquanto era vivo e reconhecemos o impacto que este facto teve em muitas vítimas”, lamentam as autoridades, adiantando que após um processo de revisão é que será apurado “o que poderia ter sido feito de forma diferente”.

De acordo com o Mail on Sunday, em causa estão alegações de corrupção e de que funcionários da polícia ou do Crown Prosecution Service — o equivalente britânico ao Ministério Público português — podem ter aceitado subornos para permitir que Al-Fayed se mantivesse livre de acusações.