Benjamin Netanyahu garante que, regra geral, trabalha “17 ou 18 horas por dia” e toma as suas refeições “à secretária – e não é cordon bleu. O soundbyte surgiu, nesta terça-feira, no depoimento do primeiro-ministro israelita perante o tribunal onde foi acusado de corrupção e outros crimes. Netanyahu, que garantiu ser “simplesmente ridículo” alegar que alguém o subornou, dando-lhe produtos como champanhe e charutos, recusou ter movido influências dentro do Governo para beneficiar uma empresa de telecomunicações, em troca de “boa imprensa”.

Isto são mentiras. Eu trabalho 17, 18 horas por dia. Nem consigo ver os meus filhos, o que é um grande preço a pagar [pelo cargo]. Toda a gente que me conhece sabe disto”, afirmou Netanyahu, acrescentando: “são assim os meus dias de trabalho, tomo as minhas refeições à secretária – e não é cordon bleu, não tenho empregados a virem trazer-me comida com luvinhas brancas”, acrescentou.

Sobre as alegadas garrafas de champanhe que é acusado de ter pedido? Netanyahu diz que nem sequer gosta dessa bebida alcoólica. “Por vezes sento-me a fumar um charuto, sim, mas nem consigo fumar o charuto inteiro porque não tenho tempo, entre tantas reuniões, de conseguir fumar um inteiro”, acrescentou o primeiro-ministro. Netanyahu considera que as alegações do Ministério Público, que o retratam como alguém que gosta de “lazer e dos prazeres da vida” é “simplesmente ridícula”.

Uma das principais acusações em julgamento, há quase cinco anos, é a que ficou conhecida como o “Caso 4000“, onde se alega que Netanyahu terá prometido a um empresário certas vantagens regulatórias em troca de garantir cobertura positiva num jornal de que esse empresário era acionista, o Walla. O empresário em causa é o então acionista maioritário da empresa de telecomunicações Bezeq, Shaul Elovitch, a tal que receberia os benefícios públicos e regulatórios. Neste caso, Netanyahu é acusado de suborno e fraude, bem como de abuso de confiança.

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Netanyhau afirmou que o Walla, meio de comunicação que alegadamente corrompeu, é uma fonte noticiosa “sem importância”. “O Walla é um website de cães e gatos, de onde encontrar o melhor corte de cabelo – vocês percebem…”, disse em referência ao conteúdo que disse que se encontra neste portal noticioso.

O advogado do primeiro-ministro afirmou que nunca houve qualquer acordo entre Netanyahu e Elovitch, neste sentido, e acrescentou que a acusação nem sequer alega que tal acordo foi, de facto, feito, mas apenas suspeita de um “entendimento informal”. O mesmo advogado acrescentou que as alegações de suborno, fraude e abuso de confiança relacionado com cobertura mediática positiva são “uma nova construção”, alegando que “não existe suborno envolvendo cobertura mediática”.

Quase cinco anos após o início do julgamento por crimes de corrupção, o primeiro-ministro israelita foi ouvido num tribunal de Telavive para responder a perguntas sobre as acusações criminais contra si em três casos diferentes. O principal advogado de defesa de Benjamin Netanyahu, Amit Hadad, disse no discurso de abertura que existem “numerosas lacunas e aspetos invulgares” na acusação em todos os três casos apresentados contra o primeiro-ministro.

Nas alegações iniciais, perante os juízes do Tribunal Distrital de Jerusalém, o advogado disse que o primeiro-ministro está satisfeito por ter a oportunidade de apresentar a sua versão dos factos, relatando os acontecimentos “como eles aconteceram, em tempo real e sem filtros”. Porém, como explicou o The Times of Israel, nos últimos meses Netanyahu tentou adiar este testemunho por várias vezes. Após esgotadas todas as possibilidades, o seu depoimento foi mesmo prestado nesta terça-feira.

Netanyahu também se insurgiu contra as alegações de que teria tentado influenciar a imprensa em seu favor (e em desfavor de adversários seus). Ainda assim, desferiu algumas críticas ao setor dos meios de comunicação social em Israel, afirmando que não são independentes e não são um bom reflexo da sociedade.

O primeiro-ministro israelita diz que, “dantes, nos primeiros anos do Estado, Israel era mais livre em termos de opiniões”, afirmou Netanyahu, acrescentando que, “gradualmente, a diversidade de opiniões foi sendo reduzida”.

“A maioria dos editores e jornalistas vieram do campo de esquerda e partilharam opiniões de esquerda”, rematou Netanyahu, que diz acreditar num “mercado livre para opiniões” mas estranhar que “dois terços do público judeu israelita se defina como de direita… mas 90% dos meios de comunicação são de esquerda”.