Escreve-se com apenas quatro letras, mas o patamar que atingiu é muito maior do que o seu nome. Nome esse que serviu para propagar a bandeira de um país no estrangeiros. Passou por dez clubes, ganhou 17 troféus, disputou 733 jogos, 112 dos quais ao serviço da Seleção e marcou 154 golos. Esteve em Inglaterra, Turquia, Espanha, Itália, EUA e Austrália, mas não esconde que a sua maior conquista foi alcançada em França, em 2016. Caracterizava-se por ser um extremo desequilibrador, com drible e forte na finalização. Esteve nomeado para a Bola de Ouro e é, indiscutivelmente, um dos melhores jogadores das últimas décadas. Chama-se Luís Carlos Almeida da Cunha, mas será eternamente recordado como Nani, o que marca um golo e dá um mortal.
Nani anunciou no domingo o término da sua carreira no futebol profissional aos 38 anos e poucos meses depois de ter regressado ao Estrela da Amadora. Em entrevista ao Canal 11, o agora ex-internacional português explicou que a decisão estava a ser planeada “há algum tempo”. “Apareceram outras oportunidades e sentia que era a altura de prosseguir outros objetivos. É a altura certa. Não posso estar focado apenas a 50% porque não vou dar o meu melhor. Momento? É sempre difícil. Se lamentar é porque não alcancei nada. Já não é o meu momento. É o momento para outros, mais jovens. Tinha o sonho de abrir uma academia, já abri e está a funcionar. Quero devolver o que o futebol profissional me deu”, começou por referir Nani, acrescentando que “sentia saudades” do seu “habitat“.
“Temos que saber aceitar e eu já não tinha resistência e força nas pernas. Sempre fui muito solidário com a equipa e às vezes até em demasia. Nunca me poupei. O meu jogo era muito vertical e exigia muito do físico. Gostava de apreciar o companheiro do lado, como João Moutinho, Miguel Veloso ou Raul Meireles. Eles tinham características diferentes e eu tinha de saber o que fazer. Isso fez com o meu jogo evoluísse. No Orlando City [2019 a 2021] o meu jogo já não era tão explosivo no espaço. Isso fazia-me desfrutar do jogo, ter a bola no pé. Jogar na Seleção e na Liga dos Campeões fez com que eu melhorasse”, analisou.
The time has come to say goodbye, I have decided to finish my career as a professional player. It’s been an amazing ride and I wanted to thank every single person who has helped me and supported me through the highs and lows during a career which lasted over 20 years and gave me… pic.twitter.com/3ZuSMrPHcR
— Nani (@luisnani) December 8, 2024
Mais à frente, Nani revelou que, ainda em tenra idade, foi disputado por Benfica e Sporting, chegando inclusivamente a treinar nos dois rivais… em simultâneo. “Estava a fazer pela vida. Fui ao treino no Sporting e queria mostrar que era bom, só que peguei demasiado na bola e não estava a sair nada. No final, o treinador João Couto disse-me: ‘Não vai dar para ficares porque já temos jogadores de segundo ano e de primeiro, que são da tua idade, e estamos cheios. O máximo que podemos fazer é deixar-te fazer a pré-época e depois continuarmos a acompanhar-te’. Como não quis ser mal-educado disse: ‘Sim mister, pode ser’. Também estava a treinar com o Benfica, só que o Benfica não me dizia nada e acabou a época. Não gostava muito da logística e estava melhor no Sporting. Durante as férias recebi uma chamada do Sporting a confirmar o treino e, uns minutos depois, ligou-me o Benfica. Disse ‘sim’ aos dois. Estive um mês no Sporting e, no fim, o mister João Couto disse-me: ‘Eu sabia que ias ficar. Já temos tudo acertado. Vais ficar’. Foi espectacular”, revelou, dizendo que chegou a ser recusado por ser “muito pequeno e magro”.
Anos mais tarde, ainda antes de regressar aos leões, Nani voltou a ser cogitado por dois rivais do futebol português, desta feita o Benfica e o FC Porto. “Tive conversas. Se fosse convites podia ter acontecido. Estive sentado com o presidente do Benfica [Luís Filipe Vieira], em Londres, e outra vez com o Sérgio Conceição, que tinha interesse em levar-me para o FC Porto, mas optei pelo Sporting [em 2018], por lealdade. Não ia ser bom porque cresci no Sporting. Não podia desiludir os adeptos, mesmo recebendo mais ou com a hipótese de jogar a Liga dos Campeões. O Sérgio percebeu, é um grande homem. A conversa com o Benfica foi no mesmo sentido”.
???????????????????????? ???? Um Leão que marca gerações ???? @luisnani pic.twitter.com/TmSQeOKttK
— Sporting CP (@SportingCP) December 8, 2024
“Acabar a carreira no Sporting? Gostava. Foi um clube que me deu muito. Respeito o facto de não ter acontecido porque foi numa altura em que não havia condições. Já não sou o mesmo jogador, o clube está noutro patamar e se calhar já não encaixava no perfil. Há outros objetivos e respeito a decisão”, sublinhou o ex-futebolista, ainda que o último jogo da sua carreira tenha acontecido precisamente em Alvalade, no primeiro dia de novembro. Ainda sobre os leões, Nani revelou que Paulo Bento “foi um dos treinadores muito importantes” na sua carreira, já que se cruzou com o atual técnico da seleção dos EAU nos juniores dos verde e brancos e, mais tarde, na equipa principal.
O início em Manchester, o “sucessor” Amorim e o “excelente profissional” João Pereira
Na entrevista ao Canal 11, Nani aproveitou ainda para explicar como chegou a Manchester e falar da atualidade de dois clubes que considera muitos especiais: o United e o Sporting. Quanto aos red devils e recuando uns anos, o extremo confidenciou que era adorado pelos adeptos e que “tudo o que fazia era fantástico”. “No Sporting tinha uma vontade de fazer golos de fora da área, só que não saía. Quando fui para Manchester queria fazer golos de fora da área. No primeiro jogo em Old Trafford entrei cheio de vontade, comecei a driblar e fiquei perto de marcar. Quando fui titular pela primeira vez, contra o Tottenham, aproveitei uma bola de fora da área para marcar”.
A partir daí, apanhou-lhe “o gosto” e apontou alguns daqueles que são os melhores golos da sua carreira… e do clube. A técnica dos remates de longe foi algo que Nani foi aprimorando nos treinos e com o contributo de dois companheiros: Cristiano Ronaldo e Anderson. “Tínhamos uma competição danada, mas muito boa. Não saía de um treino sem um buraco nos tornozelos”. Ainda assim, o momento mais marcante aconteceu ainda em tenra idade: “Um dia fui visitar o Manchester United com o Paulo Bento, nos juniores do Sporting, e conheci o balneário. Sentei-me no lugar do Ryan Giggs e disse aos meus companheiros: ‘Este vai ser o meu lugar’. Tudo o que falei aconteceu muito rápido”, partilhou.
Simply sublime.
Which of these @LuisNani efforts is your favourite? ????#MUFC pic.twitter.com/XmNpydTcKK
— Manchester United (@ManUtd) December 9, 2024
Ruben Amorim é, atualmente, um dos portugueses que representa o Manchester United e, apesar de o início não estar a correr bem para o treinador, Nani confia na sua qualidade, mediante determinadas condições. “Tem uma tarefa difícil, ainda para mais na Premier League. O clube tem uma expectativa, mas ele precisa de ter os seus jogadores para cumprir. Como jogador era ‘certinho’ taticamente. Entendia o jogo maravilhosamente”.
Já João Pereira, que fez o caminho inverso a Amorim e é agora o treinador principal do Sporting, é capaz de “dar a volta” ao momento negativo. “Era de esperar que o Sporting ganhasse os primeiros jogos, mas temos de dar tempo ao João. É uma grande oportunidade para ele. Perfil? Não posso falar como treinador. Como jogador era um excelente profissional, tinha muita garra, nervo e vontade de vencer e não se abalava com pouco. Se como treinador tiver essa personalidade, tem a possibilidade de fazer um excelente trabalho”, concluiu.