Um vídeo que surgiu esta quarta-feira nas redes sociais mostra os rebeldes sírios a entrar naquela que seria, alegadamente, uma das maiores fábricas de captagon da Síria — a droga ilegal que, durante anos, o regime de Bashar al-Assad produziu e exportou em massa para sustentar financeiramente a elite síria, numa economia paralela que, na prática, transformou a Síria num autêntico narco-estado.
De acordo com a CNN, que cita as informações entretanto difundidas nas redes sociais a pretexto da divulgação do vídeo, o armazém-fábrica que surge nestas imagens situar-se-ia nos arredores de Damasco, no quartel de uma unidade militar que seria comandada por Maher al-Assad, irmão do ditador sírio deposto pelos rebeldes no último fim de semana.
Nas imagens, é possível ver os rebeldes a percorrer várias divisões no armazém, onde há comprimidos espalhados pelo chão, várias embalagens empilhadas, botijas e outros equipamentos alegadamente usados na produção do composto químico.
A estação televisiva norte-americana diz que as imagens não foram ainda confirmadas de modo independente. A confirmarem-se, são imagens que dão razão a alegações feitas nos últimos anos por vários países ocidentais de que Assad transformou a Síria num narco-estado, produzindo e vendendo em massa aquela droga que causou fortes problemas sociais em vários países árabes.
O captagon é frequentemente conhecido como a “cocaína dos pobres” ou “coragem química” — e foi nesse composto químico, essencialmente uma anfetamina com o nome químico fenetilina, que Bashar al-Assad encontrou uma fonte de receitas para manter os luxos da elite síria enquanto a economia do país colapsava e a generalidade da população vivia na pobreza. Segundo a CNN, o comércio anual desta droga andará na ordem dos milhares de milhões de dólares, que entravam diretamente nos cofres do regime sírio.
A partir da Síria, a droga era distribuída para países como a Líbia, a Jordânia, a Arábia Saudita ou a Turquia. As próprias forças armadas sírias seriam uma peça fundamental na produção e exportação da droga, designadamente através da força aerotransportada liderada pelo irmão de Assad, que não só mantinha os laboratórios como geria os transportes da droga em missões militares. O Hezbollah, no Líbano, seria uma força envolvida no tráfico internacional.
Já esta semana tinha sido noticiada a descoberta de milhares de comprimidos de captagon numa base aérea no sul de Damasco. Proibida desde a década de 1980, esta droga altamente viciante tem fortes consequências para a saúde — e a Síria e o Líbano eram já o epicentro da produção e distribuição para a sua distribuição.
O captagon era também usado por militares para se tornarem mais resistentes, terem mais energia, ficarem menos cansados e sentirem menos dores. O seu uso era comum entre as forças armadas sírias, mas também em grupos extremistas como o Estado Islâmico.