Agora sim, está confirmado: ele voltou. Ele, outrora Ele mas para muitos agora apenas ele ou um entre todos os outros, chegou a Istambul para a nova aventura profissional como autêntico herói, não conseguiu a tão desejada entrada no grupo da Champions mas nem por isso perdeu a “aura” junto dos adeptos. Teve sucesso desportivo, teve declarações explosivas, teve uma expulsão, teve críticas ao VAR. Teve um pouco de tudo, sendo que, entre amores e ódios, ninguém passou com indiferença pela sua presença. José Mourinho tem sido José Mourinho também na Turquia, no comando do Fenerbahçe, e isso não faz com que passe ao lado de qualquer assunto que lhe diga respeito. O mais recente, claro, diz respeito ao técnico Pep Guardiola.

Mourinho e uma semana de guerra que acabou em batalha perdida: Fenerbahçe perde com o Besiktas e pode voltar a afastar-se da liderança

Em resposta aos adeptos do Liverpool, o espanhol levantou seis dedos para aludir ao número de ligas ganhas no comando do Manchester City numa imagem já antes utilizada pelo português quando estava no Chelsea. “Imagem semelhante? Ele ganhou três Premier League, eu ganhei seis”, atirou Guardiola após nova derrota dos citizens em Anfield. “Não quero perder a minha essência, vivo no vosso país, tenho de respeitar, aprender e adaptar-me. Quero ganhar mas de forma limpa e justa. Se não conseguir ganhar de forma limpa, prefiro perder. Guardiola disse algo deste género: ganhou seis e eu três [Premier League] mas ganhei de forma justa e limpa. Se perder, quero dar os parabéns ao meu adversário por ser melhor que eu. Não quero ganhar com 150 processos”, respondeu o português, não deixando passar ao lado essa alusão.

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A guerra de palavras continuou nos dias seguintes. “O que eu disse foi apenas uma piada. O José Mourinho é mais um na longa lista de pessoas que nos querem, sei lá, na League One ou na Liga Conferência. Respondo-lhe da mesma forma: estamos inocentes até que provem que somos culpados. Se ofendi Mourinho, peço desculpa mas estava a brincar. Ele tem três, eu tenho seis, isto é um facto, mas não o quis magoar”, frisou Guardiola. “Trabalhámos juntos durante três anos. Eu era adjunto, ele era jogador. Gosto muito dele e ele sabe disso. Ele gosta de mim e eu sei disso. Não há problemas entre nós. Uma coisa são as palavras e outra coisa são os sentimentos profundos. Não é verdade que eu queira que o City seja despromovido, é verdade que gosto de justiça. Mais do que ser um profissional do futebol, sou uma pessoa muito apaixonada pelo futebol. Gosto de justiça no futebol. Mas, para além disso, não há ressentimentos”, atirou Mourinho.

A polémica nasceu, teve desenvolvimentos e acabou em pouco mais de uma semana, sendo que ambos os técnicos olham agora para o trabalho a fazer num momento mais complicado das suas equipas. No caso do português, o melhor momento que o Fenerbahçe atravessava foi travado por uma derrota no dérbi diante do Besiktas de Rafa, João Mário e Gedson Fernandes, permitindo que o Galatasaray ganhasse uma vantagem de seis pontos na frente que retira margem a Mourinho no Campeonato. Agora, havia Liga Europa.

Qualquer resultado que surgisse da receção ao Athl. Bilbao seria importante mas não decisivo para as contas de José Mourinho, que dificilmente poderia chegar ainda ao top 8 para seguir de forma direta para os oitavos mas tinha margem para garantir uma presença no playoff. No entanto, e até pelo último encontro, a entrada foi a pior possível para o Fenerbahçe: sem estar pressionado por nenhum avançado, Akaydin mediu mal um atraso para Livakovic, permitiu de Guruzeta conseguisse a antecipação e Iñaki Williams só teve de empurrar para a baliza deserta (5′). Os adeptos assobiavam, os bascos passavam por completo ao lado do ambiente e foi o guarda-redes croata que evitou males maiores, travando um remate de Guruzeta de novo isolado (28′). Seria em mais um momento em que o Fenerbahçe estava melhor em campo, com Mülder a ficar perto do empate (42′), que surgiria o 2-0, numa “bomba” quase sem ângulo de Iñaki Williams (45′).

Mourinho aplaudia e tentava dar alento aos jogadores em campo mas percebia o peso que era sofrer um segundo golo em cima do intervalo, o que obrigaria a que a equipa se balanceasse mais para o ataque nos 45 minutos finais em busca de resgatar pelo menos um ponto do duelo com os bascos. Houve coração, faltou sempre cabeça e até as bancadas foram deixando cair os braços perante o controlo de jogo do Athl. Bilbao, que ainda apanhou um susto num desvio de cabeça de Dzeko após cruzamento de Tadic para defesa de Agirrezabala (67′) antes da expulsão de Mülder por acumulação de amarelos (69′) que praticamente sentenciou um encontro há muito definido em Istambul quando Iñaki Williams bisou na partida.