Carlos Tavares admite estar a acompanhar atentamente o dossier da TAP e menciona um “apelo patriótico” que o empurra para a corrida à privatização da companhia aérea de bandeira portuguesa. O empresário, que deixou a presidência da Stellantis reentemente, admite, em entrevista ao Expresso, chegar à administração da TAP quando esta for vendida, mas exclui assumir um cargo executivo.

Afinal de contas, foi com uma vida mais calma em mente que o, até agora “homem dos carros”, projetou a sua reforma, que tinha planeada para 2026. A perspetiva de uma retirada da vida profissional acabou por se precipitar depois de, em setembro, a Stellantis ter feito uma inédita mudança de projeções em termos de resultados e a porta de saída se ter aberto para Carlos Tavares.

Agora, ao Expresso, o ex-presidente da gigante automóvel diz que, mesmo sem ter tomado qualquer decisão definitiva, tem sido incentivado por um grupo de amigos a marcar presença na privatização da transportadora aérea. “O que interessa é encontrar a melhor solução para Portugal. E, portanto, obviamente, com as solicitações todas que recebi, da parte de muitos amigos, o que me parece óbvio é que, primeiro, tem de se refletir no interesse estratégico“, afirmou. Diz “não querer fazer parte do executivo da empresa” e que o caminho pode ser “a nível com conselho de administração, pode ser a nível de investidor”. E assume mesmo que “pode ser” acionista: “Tudo isso é possível”.

O empresário diz que o “apelo patriótico não se explica”, já que é uma “dimensão emocional”. Mas apresenta como explicação factual a de estar a “observar que os resultados da empresa estão a melhorar imenso”. “Acho que devemos agradecer e felicitar a equipa de gestão atual da TAP. Portugal está a fazer um excelente trabalho, e isso prova que a empresa pode ter viabilidade e acho que o Governo está focado numa perspetiva de mais longo prazo e tem toda a razão”, admite ainda.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já sobre a venda da empresa, Carlos Tavares entende que, apesar de fazer sentido que “haja sinergias com uma outra empresa de transporte aéreo”, tal “não tem necessariamente que acabar por ser uma transmissão do controlo da empresa para um concorrente estrangeiro”. “Essa necessidade não existe do ponto de vista da gestão“, garante, admitindo, no entanto, que quem define isso é o Estado, que terá a cargo a privatização a empresa. Nega, no entanto, que tenha discutido, até ao momento, esta questão com o atual Governo.

Como a corrida de Carlos Tavares na Stellantis chegou ao fim. “Quando perdemos o controlo do veículo não digam que é por culpa da mecânica”

Carlos Tavares admite ainda que manter uma liderança portuguesa na TAP, é uma decisão que pode “considerar-se estratégica”.

O empresário entende que para que a TAP tenha sucesso no futuro é necessário “alinhar os interesses de muitos atores”, sendo estes “o Estado, os cidadãos, obviamente, os empregados da empresa, mas também os gestores e os investidores”. Além disso, partindo do princípio de que a TAP é uma “ferramenta estratégica do desenvolvimento do turismo em Portugal”, e ainda mais “no contexto de um segundo aeroporto em Lisboa”, o empresário entende ser essencial “fazer com que não seja vendida a uma companhia de um país que é concorrente turístico de Portugal“.