Bernardino Soares, antigo presidente da Câmara Municipal de Loures e membro do Comité Central do PCP, mostra grandes reservas sobre a possibilidade de o partido contribuir para qualquer tipo de convergência à esquerda e aponta o dedo diretamente aos socialistas, que nunca se desligou, a nível nacional e local,  verdadeiramente do parceiro natural de governação, o PSD.

Em entrevista ao Observador, durante o XXII Congresso do PCP, em Almada, falou concretamente sobre Pedro Nuno Santos, reconhecendo que o secretário-geral socialista, que sempre assumiu vontade de reeditar a ‘geringonça’, disse umas “coisas interessantes” no passado, mas nunca passou da teoria à prática. “Foi ministro de Costa na maioria absoluta e antes disso. E é a prática que conta”, assinalou o comunista.

Para Bernardino, aliás, o tempo da ‘geringonça’ foi “muito específico e irrepetível” e que, mesmo admitindo que Pedro Nuno Santos tinha boas intenções, “quando tocou a decidir se era preciso apoiar ou não grupos económicos, a banca e tomar medidas para romper com a especulação na habitação, o PS esteve sempre do lado do PSD e Pedro Nuno Santos esteve sempre com o PS”.

“Tenho estima por Pedro Nuno Santos, mas o PS viabilizou o Orçamento da baixa do IRC e permitiu que dois partidos que estariam completamente de acordo com as orientações desse Orçamento, a IL e o Chega, não tivessem que votar Orçamento, dando-lhes a possibilidade de ficarem como opositores, em vez desse campo ficar para os partidos à esquerda do Governo”, lamentou.

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“PS nem sequer se desligou” de Moedas

No que diz respeito às eleições próximas eleições autárquicas, Bernardino Soares assumiu que o objetivo é mesmo “manter as câmaras” que o PCP tem atualmente e “reforçar com novas presidências” e com maior “presença em órgãos autárquicos, em todos eles, em todo o país”.

O comunista não esconde que o momento do partido não é o melhor — o PCP está numa trajetória clara de perda eleitoral autárquica —, mas recusa fatalismos. “Já tivemos momentos em que perdemos e depois recuperámos essas ou outras câmaras”, sublinhou Bernardino Soares.

Nestas eleições concretas, o antigo presidente da Câmara de Loures acredita que o PCP pode beneficiar do facto de não haver um “PS em grande crescimento” nas zonas em que ambos os partidos têm disputas autárquicas, e onde o PS é o “principal adversário” do PCP.

Bernardino Soares falou ainda sobre possíveis entendimentos pré-eleitorais à esquerda, em concreto no caso de Lisboa, mas manteve a posição do partido: “Temos o melhor candidato, João Ferreira. O PS nem sequer se desligou da atual legislação de Moedas, tem viabilizado todos os orçamentos.”

Gouveia e Melo “está sempre a falar”

Com as eleições presidenciais a marcarem grande parte da agenda política e mediática, Bernardino Soares defendeu que “o PCP vai intervir com voz própria” nesse ato eleitoral, mas preferiu não se precipitar sobre possíveis soluções. “Se vai ser com um candidato ou não, depois veremos.”

Bernardino Soares não deixou, mesmo assim, de comentar a trajetória de Gouveia e Melo, apontado como favorito à sucessão de Marcelo Rebelo de Sousa. Para o comunista, o almirante tem exorbitado as funções de chefe-militar em função da sua “pré-candidatura presidencial”. Além da polémica sobre a Revista da Armada, o comunista recordou o “televisionamento de uma reprimenda dos marinheiros no Funchal” ou o “anúncio de que havia navios russos e que era uma situação sensível”.

“É talvez o chefe-militar que mais entrevistas, mais declarações e depoimentos tem dado. Disse há uns dias que está em função militar e que não fala. Mas está sempre a falar”, criticou Bernardino Soares, defendendo que esse “não é o posicionamento mais correto”.