João Oliveira considera que o PS tem sido “cúmplice” do Governo, nomeadamente através da viabilização do Orçamento do Estado. Ao mesmo tempo, o antigo líder parlamentar comunista, que negociou diretamente com Pedro Nuno Santos durante os tempos da ‘geringonça’, não mostra grande surpresa com o facto de o sucessor de António Costa não ter invertido o caminho. “Só pode ficar desiludido com o PS quem alimenta essas ilusões.”
Em entrevista ao Observador, no XXII Congresso do PCP, João Oliveira chegou mesmo a comparar Pedro Nuno Santos com António José Seguro, que também se absteve violentamente no primeiro Orçamento do Estado de Pedro Passos Coelho.
“A aprovação do Orçamento do Estado com a abstenção socialista revelou o critério oportunista com que o PS se vai posicionando no discurso mais à esquerda, mas contribuindo com opções contrárias. O PS vai pondo e tirando a máscara. A mudança de líderes que se faz para dar a ideia de que o PS é diferente porque tem um secretário-geral diferente é uma das componentes da desilusão”, acusou João Oliveira.
“Não se pode admitir que a disputa presidencial seja uma fogueira de vaidades”
João Oliveira defendeu ainda que “não se pode admitir que a disputa presidencial seja uma fogueira de vaidades”, sublinhando que o Presidente da República “tem uma esfera de atuação identificada na Constituição” e que um candidato tem de dar a conhecer o seu pensamento neste campo.
“Em relação a pré-candidaturas presidenciais ainda não passámos da fogueira de vaidades”, apontou. “Nunca se ouviu de ninguém que se afirme como pré-candidato uma perspetiva concreta relativamente à forma como se propõe exercer essas responsabilidade. É quase uma corrida para ver quem se consegue pôr em bicos dos pés para dar mais nas vistas.”
Sobre convergências à esquerda, nas autárquicas e a nível nacional, Oliveira sacudiu responsabilidades. “A ideia de convergência não pode ser no ar, tem de ser identificada como uma resposta aos problemas das pessoas. Tem de ter um conteúdo e é preciso que se queira falar de convergência e não de conteúdo. Há quem comece a falar de convergência e na prática boicota qualquer perspetiva de abordagem.”
“Ucrânia? Não sei se era possível fazermos diferente”
Confrontado também com a posição assumida pelo PCP sobre a guerra na Ucrânia e com as declarações recentes de Paulo Raimundo — o líder comunista assumiu erros na mensagem —, João Oliveira recusou essa leitura: “Genuinamente, não sei se era possível fazermos diferente do que aquilo que fizemos.”
“Em muitas circunstâncias as pessoas só hoje conseguem entender o que o PCP dizia em 2022. Quando dizíamos que naquela guerra havia quem quisesse sacrificar até ao último ucraniano para que a guerra não acabasse, muita gente não percebia. Hoje, quando há um Presidente americano que decide utilizar o território da Ucrânia como base para o lançamento de mísseis para dentro da Rússia para prolongar a guerra indefinidamente, as pessoas começam a perceber”, argumentou.
Ao mesmo tempo, o eurodeputado comunista recusou qualquer leitura de cumplicidade com a Rússia ou tentativa de colagem ao regime de Vladimir Putin. “Não há justificação nenhuma para a situação de colagem [entre PCP e Rússia] porque sempre fomos muito claro na crítica que fazíamos”, reiterou João Oliveira.