A organização Frente Animal (FA) acusou, esta sexta-feira, a cadeia de super e hipermercados Pingo Doce de recorrer a fornecedores responsáveis por maus-tratos a frangos, exortando-a a “mudar as suas políticas e práticas de bem-estar animal”.

Em comunicado, a FA diz ter recebido “imagens chocantes de maus-tratos em explorações que fornecem o Pingo Doce”, de “galinhas deformadas, aves incapazes de se mexerem, apinhadas entre cadáveres e manuseadas com violência”.

“Estas imagens são uma evidência clara de que o Pingo Doce não prioriza o bem-estar destes animais, nem responde às preocupações dos seus consumidores. A crueldade animal permeia todo o processo de produção. É urgente que o Pingo Doce resolva esses problemas, ouça os seus clientes e seja transparente nas suas práticas”, afirma Joana Machado, gestora de campanhas corporativas da Frente Animal, citada no comunicado.

Segundo a organização não-governamental (ONG), as imagens, captadas em explorações portuguesas por fotojornalistas, “evidenciam práticas alarmantes dentro da indústria da carne de frango, incluindo o manuseamento agressivo dos animais, aves doentes e deformadas misturadas com animais mortos, e até mesmo atropeladas deliberadamente pelos camiões de transporte”.

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“O Pingo Doce rejeita de forma categórica as acusações da Frente Animal”, indicou a empresa numa resposta enviada à agência Lusa.

De acordo com a nota da empresa, “as companhias do Grupo Jerónimo Martins, em que se inclui o Pingo Doce, fazem regularmente auditorias de qualidade e segurança alimentar, tanto nos processos de seleção de novos fornecedores de perecíveis e marca própria, como também para monitorizar os atuais fornecedores nas fases de desenvolvimento e produção”.

As auditorias “incluem critérios de bem-estar animal” e “em nenhuma (…) foram identificadas situações como as descritas pela Frente Animal”, adianta.

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A cadeia de super e hipermercados afirma que tem dialogado com a FA e “pedido de forma veemente a identificação dos eventuais fornecedores que estariam associados às alegadas más práticas”, acrescentando: “Nunca nos foi facultada esta informação”.

A FA, constituída em junho deste ano (sendo anteriormente denominada Abrir De Asas), indica ter tido acesso às fotografias após ter lançado a campanha Fim do Doce, um apelo “à revisão das diretrizes de bem-estar animal na cadeia de abastecimento da empresa da Jerónimo Martins”.

A ideia seria o Pingo Doce aderir ao European Chicken Commitment (ECC), uma iniciativa de ONG europeias lançada em 2016 para reforçar os padrões de bem-estar animal na produção de frangos.

As empresas signatárias comprometem-se a cumprir todas as leis e regulamentos de bem-estar animal da União Europeia, independentemente do país de produção.

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Devem ainda garantir padrões elevados em relação ao espaço nos aviários, ao acesso a luz natural e à qualidade do ar, bem como recorrer a “raças de crescimento mais lento”, para minimizar “o sofrimento inerente ao rápido crescimento genético que resulta em doenças e compromete o bem-estar”, refere a Frente Animal.

“A FA, (…) em conjunto com outras organizações, exorta o Pingo Doce e outros supermercados a implementar mudanças significativas nas suas políticas e práticas de bem-estar animal”.

Segundo o Pingo Doce, os critérios avaliados nas auditorias que realiza “têm por base o referencial da Global G.A.P. (Good Agricultural Practices) e a legislação em vigor” e a empresa está a promover junto dos seus fornecedores de frango “a certificação em bem-estar animal de acordo com o selo Welfair(TM) (baseado no referencial internacional Welfare Quality)”.