O documentário Blackfish pode bem vir a ser o responsável pelo declínio fatal da norte-americana SeaWorld, uma das maiores cadeias de parques aquáticos e temáticos do mundo. As ações da empresa caíram 31% na tarde de quarta-feira. Os investidores estão a perder o interesse na empresa e isso parece ser o resultado de uma inversão da consciência do público: no primeiro semestre deste ano as visitas ao SeaWorld desceram 4.3%.

O documentário foi lançado no ano passado e relata de forma emotiva aspetos relacionados com a captura e cativeiro de grandes mamíferos para fins de espetáculo. Contém relatos impressionantes de trabalhadores que apanhavam as crias de orcas, de veterinários e especialistas em vida animal que declaram, preto no branco, que “os animais enlouquecem dentro daqueles tanques”. Expressões como “imagine o que é ficar preso dentro de uma banheira durante 25 anos” impressionam, se considerarmos que estamos a falar de um dos maiores mamíferos da Terra. As orcas não são baleias mas são o maior membro da família dos golfinhos: um macho adulto pode medir até 9 metros e pesar 10 toneladas.

O documentário ilustra também a forma como as orcas são tratadas logo após a captura, pois ficam mantidas em tanques pequenos completamente às escuras. Anos e anos em ambiente confinado tornam os animais psicóticos e traumatizados. Essa parece ter sido a causa da morte da treinadora Dawn Brancheau em 2010, no aquário da Flórida (EUA). Considerada uma treinadora experiente, foi na altura apontada pela SeaWorld como tendo sido a responsável pelo desastre — mas em sua defesa multiplicaram-se as declarações de especialistas que afirmam que se terá tratado de um ato psicótico do animal, ou seja, que a culpa deveria ser imputada ao aquário. E foi essa a conclusão da justiça.

Apesar de a SeaWorld ter anunciado que prepara a construção de tanques de maior dimensão para acomodar as orcas, os números apontam para um decréscimo e progressiva crise de um modelo de divertimento que estará a comprometer a vida animal. As ações caíram abruptamente na tarde de quarta-feira porque a empresa divulgou os seus resultados do primeiro trimestre, assumindo uma quebra nos lucros de 2014 na ordem dos 6 a 7 por cento. O negócio da SeaWorld vai muito além dos espetáculos com orcas: as lojas e os produtos de marca geram rendimentos de milhões todos os anos. Contudo, o movimento de organizações tais como a The Oceanic Preservation Society e a The DoDo parecem estar a ganhar adeptos. O futuro não é prometedor para a SeaWorld e este pode bem ser o seu último fôlego.

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