Duas valas comuns foram descobertas em Sinjar, no Iraque, depois das forças curdas, apoiadas pelos ataques aéreos dos EUA e da Grã-Bretanha, terem libertado a vila, na passada sexta-feira, 13 de novembro. Ao mesmo tempo que o mundo assistia aos atentados que fizeram 129 vítimas em Paris, no Iraque era feita esta descoberta macabra. Numa dessas valas estima-se que estejam cerca de 80 corpos de mulheres, com idades entre os 40 e os 80 anos. Os corpos são de yazidi, assassinadas pelo Estado Islâmico (EI), refere o The Telegraph. Na outra vala, acredita-se que estejam corpos de mulheres, homens e crianças. 

Os Yazidis são uma religião que incorpora diferentes religiões do antigo Médio Oriente. Mas, para o Estado Islâmico, os yazidis adoram o diabo e, por isso, deviam ser mortos ou escravizados. No caso das mulheres, há relatos de terror.

As valas comuns foram encontradas graças a jovens mulheres yazidi que, tendo conseguido escapar aos captores do Estado Islâmico, guiaram os curdos até ao local, após a libertação da vila. Já as mulheres mais velhas, disseram as sobreviventes, foram levadas para trás do Instituto Técnico da área de Solagh – a Este de Sinjar – onde, após uma pausa, se ouviram tiros. Na vala onde se estima estarem cerca de 80 mulheres foram ainda encontrados objetos como tesouras, chaves e bengalas.

“A minha mãe foi levada com outras 70 mulheres mais velhas. Vimos uma escavadora e ouvimos tiros”, testemunhou Noor – nome fictício, já  em julho passado. Noor é uma das jovens que conseguiu escapar ao Estado Islâmico. 

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A atitude do EI foi “clara”, dividindo as yazidis entre as que eram jovens e bonitas para serem violadas e aquelas que não eram, ou seja, as que, aparentemente, já não valiam o preço no mercado sexual, adianta o The Telegragh. Em junho passado, a enviada das Nações Unidas para a violência sexual, Zainab Bangura, afirmou que muitas das raparigas raptadas pelo EI no Iraque e na Síria são vendidas em mercados de escravos “por tão pouco como um maço de tabaco“.

Raparigas que chegam a ter apenas 12 anos. Em 2014, uma rapariga yazidi revelou que esteve em cativeiro num grupo de cerca 40 mulheres, que eram abusadas sexualmente de forma diária por soldados do Estado Islâmico. Ao jornal La Republica, disse estar num edifício com grades e protegido por homens armados. A entrevista foi feita por telemóvel porque, depois de uma primeira fase lhe terem sido retirados os telefones, mais tarde o EI devolveu-os, obrigando as raparigas a ligar aos pais para contarem os horrores por que estavam a passar. “Já pedimos aos nossos carcereiros para nos darem um tiro, mas eles dizem que somos demasiado valiosas. Dizem que somos propriedade deles como uma cabra que compraram no mercado”, disse a jovem yazidi. 

Voltemos a Noor. Ela disse à CNN, no passado mês de outubro, que o militante do EI que a apanhou a violou, mas que primeiro se tentou justificar: “Ele mostrou-me uma carta e disse ‘Isto mostra que qualquer mulher capturada se torna mulçumana se 10 combatentes do ISIS [Estado Islâmico] a violarem’. Havia uma bandeira do ISIS e uma imagem de Abu Bakr Al Baghdadi (o líder)”. Depois de abusar de Noor, passou-a a mais 11 soldados do EI, que também abusaram sexualmente dela. À CNN, Noor acrescentou: “Os soldados do ISIS disseram-nos que ‘isto é uma regra de Abu Bakr al-Baghdadi e nós temos que o fazer. Quem não se converter ao Islão, nós matamos os homens e casamos com as raparigas. São despojos de guerra'”.

Outra das raparigas que conseguiu escapar foi Suzan. Também yazidi, foi raptada e violada, e acabou por ser vendida a um combatente checheno. Os guardas deste combatente violavam-na pelo menos cinco vez por dia e agrediam-na quando se atrevia contrariá-los. Foi numa dessas alturas que teve a oportunidade de fugir, depois de os sequestradores terem sido mortos num confronto com os soldados curdos. 

Além de serem raptadas, violadas e espancadas, se ficarem grávidas, as raparigas são obrigadas a abortar. Bushra – nome fictício, uma outra rapariga que, tal como Noor e Suzan, conseguiu escapar ao EI, revelou à CNN que uma amiga sua estava grávida e “foi levada para outra sala. Havia duas médicas que fizeram o aborto”. Bushra disse, ainda, que o aborto deixou a amiga a sangrar fortemente, e com tantas dores “que ela não podia falar ou andar”. Além disso, Bushra afirmou ter visto médicos a examinar raparigas de forma invasiva, para determinarem se eram, ou não, virgens. 

Noor, Bushra e Suzan são três raparigas que conseguiram fugir. Depois de terem sido raptadas, separadas das famílias e forçadas à escravidão sexual. 

*Texto editado por Filomena Martins