A Rússia e a Turquia prometeram não entrar em guerra por causa da decisão das forças armadas turcas de abater um avião militar russo que terá, alegadamente, invadido espaço aéreo turco e ignorado vários avisos dos militares, mas a Rússia parece empenhada em fazer a vida negra à Turquia: agora vai reforçar o controlo sobre as importações turcas.

Em mais um episódio de uma novela que promete durar, o ministro da Agricultura da Rússia avisou esta manhã que a agência responsável pelo controlo de qualidade dos alimentos vai reforçar o controlo dos produtos turcos importados pela Rússia.

Segundo o governante, esta decisão deve-se à repetida violação das regras pelos produtores turcos. Por isso, “o governo russo encarregou a Rosselkhoznadzor [agência de segurança alimentar] de reforçar o controlo sobre o fornecimento de produtos agrícolas e alimentares da Turquia, assim como fazer controlos adicionais na fronteira e nos locais de produção na Turquia”.

Isto acontece numa altura em que a relação entre os dois países se encontra especialmente tensa. As autoridades russas e turcas continuam a disputar os acontecimentos que levaram à queda do avião russo na Síria.

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A Turquia defende que o avião militar entrou em espaço aéreo turco e que ignorou repetidos avisos – 10 em cinco minutos -, enquanto os russos defendem que este nunca entrou em espaço aéreo turco, que esteve sempre em território sírio, onde estaria a combater o Estado Islâmico.

Depois de uma dura troca de palavras, em especial do lado russo, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, colocou água na fervura, garantindo que os dois países não vão entrar em guerra por causa do incidente. Ainda assim, a Rússia insiste que este incidente foi premeditado e questiona a liderança do país, que Vladimir Putin diz ser cúmplice do Estado Islâmico.

O primeiro-ministro da Turquia, que tem defendido a decisão turca de abater o avião com as regras relativas ao seu espaço aéreo, mantém que a força aérea não conhecia a nacionalidade do avião até à confirmação do governo russo.

Disputas antigas

Este não foi o primeiro incidente entre Turquia e Rússia no que diz respeito a invasões do espaço aéreo. A Turquia mandou chamar o embaixador russo várias vezes para protestar contra as invasões do seu espaço aéreo, mas a questão é mais profunda.

A Rússia decidiu entrar no conflito sírio no final de setembro, altura em que começou a bombardear posições que o Kremlin dizia serem do Estado Islâmico, mas que os aliados acusavam de ser contra os rebeldes que se opõem ao regime de Bashar al-Assad.

A Turquia tem defendido que Bashar al-Assad tem de abandonar o poder na Síria e, com a entrada da Rússia no conflito, a influência que tinha nas negociações sobre o futuro do seu vizinho diminui significativamente.

Os russos decidiram também estabelecer a sua principal base na Síria perto da fronteira com a Turquia, em Latakia, o que deixou incomodados os restantes elementos da NATO, já que se trata da base russa mais próxima de um país da Aliança.

E, finalmente, parte dos bombardeamentos russos terão tido como alvo aldeias de turcomenos, sírios com ascendência turca, na fronteira entre os dois países, algo que Ancara tem protestado várias vezes.