Ainda não é Presidente da República, mas mais parece. Em entrevista ao semanário Expresso, publicada este sábado, Marcelo Rebelo de Sousa mostra-se confiante na vitória e nem assume outro cenário. Diz que é um “absurdo” equacionar não passar à segunda volta e sublinha que lhe parece “uma evidência” vir a ganhar a primeira volta, assim como ganhar a segunda, se for caso disso. “Agora sou candidato presidencial, daqui a semanas sou Presidente da República”, garante.

Num constante afastamento da sua anterior pele de comentador e analista político, garante que “Belém não vai ser um centro de intrigas” e que não espera crises daqui a seis meses ou um ano. “A função do Presidente não é agravar riscos, é ajudar a evitá-los. Se não houver crise como é que o Presidente usa poderes de crise? Não usa”, afirma, rejeitando a ideia de que o facto de a sua imagem ser associada a uma personalidade de “intriga” não é problema para o país.

“Tudo na vida tem um preço”, começa por dizer, referindo-se ao facto de se ter afastado da sua família política da direita para não dar argumentos à esquerda. Com o Parlamento profundamente polarizado entre direita e esquerda, Marcelo afirma que o desafio do Presidente é não estar “de um lado ou do outro”, mas sim ao centro. “Quem for Presidente vai ter de estar rigorosamente numa posição central e neutral, ser um fator de equilíbrio e abrir para a inclusão de todos, e para isso não pode estar de um lado ou do outro. Se estiver, perde a capacidade de fazer pontes”, diz.

Sobre a campanha, garante que vai ser “muito barata” porque “Portugal não é a América nem sequer a França e não se pode gastar dois ou três milhões à saída da crise num país que é pobre”. Sobre a sua estadia em Belém, avança que não vai morar para o Palácio e que quer aumentar os mecanismos de “proximidade” do Presidente (será um chefe de Estado “mais de rua” e menos de palácio, afirma).

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Marcelo avança ainda que, além das habituais reuniões semanais do Presidente com o primeiro-ministro, haverá “muitos mais contactos com todos os partidos e parceiros”, assim como mais reuniões do Conselho de Estado. “Não pode ser só em situações de crise, deve ser trimestral, quatro por ano”, diz.

As relações com o PCP e a boa amizade com o PS

Já com o apoio (indicação de voto) do PSD e do CDS, e após a publicação de uma sondagem que lhe dá vitória esmagadora na primeira volta, a entrevista a Marcelo Rebelo de Sousa que o Expresso vai publicar na íntegra este sábado passa em revista não só a atualidade política nacional como também o passado do agora candidato presidencial. Marcelo volta a garantir que tudo fará “para evitar crises políticas” e que se empenhará em “criar consensos de regime de consensos sociais”, indo ao seu baú de memórias para recordar como, enquanto líder do PSD, reatou as relações do partido com o PCP, que tinha na altura Carlos Carvalhas como secretário-geral.

Na entrevista publicada este sábado, Marcelo lembra esse processo para se mostrar como o homem, o futuro Presidente, habilitado a fazer as pontes políticas que forem necessárias para manter a estabilidade. “Quando eu entrei em funções como líder do PSD, o partido estava de relações cortadas com o PCP há 20 anos e eu reatei-as”, recorda, sublinhando que as suas boas relações políticas vão da esquerda à direita. “Naquela altura, eu além de ter um relacionamento institucional francamente bom com o PS no Governo — o que não nos impediu de fazer forte oposição em dois referendos, mas permitiu que fizéssemos uma revisão constitucional — tinha um bom relacionamento com o CDS e o Partido Comunista”.

Marcelo, no entanto, diz entender as reações atuais do PSD ao Governo do PS, formado — com o apoio da esquerda — apesar da derrota eleitoral dos socialistas. “À saída de um processo que deixou feridas, há muitas reações emocionais, e fazer prevalecer a razão sobre a emoção exige tempo”, diz, frisando contudo que isso não implica a saída de Passos da liderança do partido.