Sempre se disse que o CDS era um partido de um homem só, apesar de os centristas sempre se terem esforçado por negá-lo. Sem o homem, o que importa agora é mostrar que o partido não está só – e que não vai passar a ser, por associação, o partido de uma mulher só. Assunção Cristas é para já a única candidata à sucessão de Paulo Portas e foi isso mesmo que fez questão de dizer esta noite, na sede do CDS, quando anunciou formalmente a sua candidatura: “O CDS nunca foi o partido de um homem só e não será garantidamente o partido de uma única mulher”. Cristas quer o partido unido e “preparado para governar”.

Depois de uma semana de incerteza, mesmo para o núcleo duro, sem se saber se Nuno Melo e Assunção Cristas avançariam (se avançaria só um ou se haveria duas candidaturas), a palavra de ordem agora é união. “O CDS precisa de todos, de todos os que já cá estão e de todos os que em conjunto pudermos trazer”, disse a ex-ministra da Agricultura na declaração que fez esta noite aos jornalistas para formalizar a sua candidatura. Falou ainda em “trabalho de equipa” e pediu o “empenho de todos” – porque, “em política, nada se faz sozinho”.

Antes, e para a união fazer mesmo a força, uma palavra especial para o eurodeputado Nuno Melo, “cujas qualidades continuará a revelar com brilhantismo na linha da frente de combate político do CDS”. Defendendo ser a pessoa certa para “agregar pessoas”, “construir laços fortes, incluir e acrescentar”, Assunção Cristas deixou claro que sozinha “não faz o CDS”. Unir para conquistar, defendeu.

“Eu sozinha não faço o CDS. Serei eu própria na liderança do CDS, agregando, somando, puxando pelos talentos de cada um para o partido se afirmar como um partido de centro direita credível e ambicioso”, disse.

Apesar das repetidas conversas e reuniões que houve ao longo dos últimos dias entre Cristas e Melo, a agora candidata à presidência do partido afirma que a sua decisão já estava tomada “há muito tempo” e que apenas dependeu de si, da “família”, e das “condições” que viu no partido. “Sou uma pessoa de diálogos e de pontes, não sou alguém que divide”, disse, admitindo que houve desde o início “coordenação” com Nuno Melo.

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Relação com o PSD? Amizade à distância

Sobre o seu projeto político para o CDS e a sua visão para o futuro do partido, o mote foi “crescer”, crescer. E crescer sozinho. Numa altura em que o CDS se “libertou do fantasma do voto útil”, Cristas assume que é o tempo de o CDS se afirmar no terreno do centro-direita e aparecer aos olhos dos eleitores portugueses como “uma alternativa ambiciosa e credível”, assim como pragmática, focando-se na “resolução concreta dos problemas dos portugueses”. “O CDS é o partido mais bem posicionado para protagonizar esse crescimento”, declarou.

Admitindo que o “fantasma do voto útil tolheu o CDS na reta final das eleições”, Cristas afirma que passada essa fase é hora de virar o jogo – e se for preciso roubar votos aos antigos parceiros de coligação. “É nosso dever tudo fazer para sermos uma parte cada vez mais robusta de uma alternativa à governação apoiada pelas esquerdas radicais”, disse. O objetivo político, admitiu, é, primeiro, tornar o CDS num partido “forte na oposição”, sem demagogia – “fundado em argumentos válidos e focado em alternativas construtivas” – para depois, “quando chegar o momento”, tornar o CDS no partido certo para governar.

Isso implica um corte com o PSD? Cristas é pragmática na resposta. “O CDS e o PSD são partidos separados, têm projetos autónomos e ambos precisam de crescer”. Mas crescer separados, com a amizade à distância. “Certamente que continuaremos a ter uma relação próxima de diálogo com o PSD, mas o que nos preocupa é podermos crescer e ser uma alternativa robusta ao Governo de esquerda”, sublinhou.

No final, uma palavra de agradecimento a Paulo Portas que “continuará a inspirar o CDS”. Inspirar, mas sem cópias. “Cada um é como é” e Assunção não quer ser a versão número dois do homem que liderou o partido nos últimos 16 anos e que até lhe pôs as suas iniciais: PP.