Para quem não tem fotografias apaixonadas para partilhar nas redes sociais, entrar no Instagram em pleno Dia dos Namorados pode ser uma viagem dolorosa para recordar a última vez que a sua relação foi por água abaixo. No dia em que os corações e os unicórnios flutuam no ar ao som das músicas mais românticas, o Observador resolveu lançar um desafio (interno). Da última vez que enviou ou recebeu uma mensagem com a mítica frase “Precisamos de falar” o que veio a seguir? Recolhemos doze das frases mais comuns no fim de uma relação. Recorde-as (e tente rir um pouco).

Dás-me carta branca?

No mais profundo do seu significado, pedir uma carta branca a um namorado ou namorada é o mesmo que dizer “apetece-me viver umas aventuras por aí durante uns tempos, mas agradecia que permanecesses cá em casa à minha espera”. É esta a situação, pura e crua: quando alguém pede carta branca quer ter liberdade total, sem ter que dar justificações à pessoa com quem namora (pelo menos por enquanto). É ir para Ibiza com o Jorge e enrolar-se com a miúda que está a fazer olhinhos no bar. É passar a semana inteira no acampamento do festival de verão e poder dar uns mergulhos com o musculado da tenda ao lado. É trair, certamente. Mas com autorização, declaração expressa e selo branco. Curioso é que “carta branca” é também o nome de uma carta do baralho que não tem qualquer conteúdo ou significado.

Conheci alguém.

Se a vida fosse uma novela, este era o momento em que a música dramática começava a tocar com um plano aproximado de uma lágrima no canto do olho. Quando a sinceridade chega aos níveis cortantes de um “conheci alguém”, meio coração fica partido em mil bocados e o outro meio leva o cérebro a fazer perguntas demasiado complicadas para um momento tão tenso. Elas perguntam-se se as outras são mais inteligentes, eles questionam-se se os outros foram mais… digamos, românticos. Também há quem queira saber onde é que o controlo da situação se perdeu ao ponto da outra pessoa ter tido tempo de instalar o Tinder e “conhecer alguém”. E depois há os corajosos, que preferem fazer beicinho a transformar o rosto nas Cataratas do Niágara. Certo é que o “conheci alguém” costuma ser um ponto final bastante definitivo. Levanta é muitas perguntas a seguir.

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É melhor dar um tempo.

É como nos desenhos animados quando o protagonista sai sorrateiramente da sala, mas é apanhado quando ao pisas uma buzina. Não sabemos como, mas nos desenhos animados há sempre uma buzina no chão e, na verdade, a vida real não é muito diferente. É que a ideia de “dar um tempo” ou “dar um espaço” não é mais do que a entrada num período de latência, uma espécie de estágio antes do regresso ao estado de solteiro no Facebook. Enquanto se dá um tempo, é permitido começar a sair mais para as discotecas, mas também mandar uma mensagem ao futuro-ex-namorado nas noites mais frias de inverno. No dia seguinte, basta enviar uma mensagem a pedir desculpa, “estava um pouco tocado e não me lembro do que disse”. E volta-se ao estado de solteiro — ou de compromisso.

És boa demais para mim.

Esta frase vem normalmente acompanhada por outra igualmente famosa: “Não te posso dar a atenção que mereces”. É dar ao outro aquilo que ele quer ouvir: que é superior, que é a perfeição em pessoa, o arquétipo das mulheres ou dos homens, uma autêntica criação dos deuses, uma criatura tão divina que… não lhe chega aos pés. É como por uma almofada no fim da relação, dar umas palmadinhas nas costas e ver se ninguém entala os dedos quando se fecha a porta do namoro. Há dois tipos de reação: quem sai de cabeça erguida e costas direitas com a certeza que, de facto, é bom demais; e quem comece aos gritos porque o estão a tentar fazer de parvo, o que também significa que é bom demais para aquela pessoa. Em certas situações, também pode despertar o sentido mais obscuro de quem foi abandonado: a fome de conquista, porque quem é bom demais devia ter direito a escolher. E assim começa uma bela história de stalking.

Estamos a andar depressa demais.

“Mas tu deste-me esperanças”, responde a barricada contrária. Pois, mas isso era no tempo da fase de lua-de-mel. Agora, imaginar os nomes dos filhos ou começar a ver vestidos de noiva na Internet começa a ser demasiado estranho. Quando as coisas aceleram a um ritmo alucinante, com pais envolvidos e tudo, pode haver alguém que perde o controlo. Alguém trava a tempo e enche a sala de pó, enquanto o outro bate com a cabeça a alta velocidade num muro de betão. São as leis da física e não há como escapar. Pode não ser o fim definitivo da relação, até porque o amor (dizem alguns) foge às regras da Natureza. Mas é com certeza um acertar de passo difícil para quem até já tinha o vestido de casamento encomendado.

Estamos em fases diferentes da nossa vida.

Joana é uma mulher emancipada e com um toque de feminismo no sangue, quer concentrar-se na vida profissional e aproveitar bem o início dos trinta com margaritas e amigas em seu redor. João é um homem à antiga, farta-se de levar na cabeça para dar netos aos pais e preferia substituir as margaritas por biberões. Se estas duas almas não se cruzassem, talvez Joana encontrasse um Manuel sem pressa e João se apaixonasse por uma Maria com o relógio biológico aos berros. Mas Joana e João partilham uma relação. Na verdade partilham também a casa, o quarto e as despesas com o carro. Mas estão em “fases diferentes” das suas vidas e não podem perder tempo de costas voltadas quando vão para a cama e ela toma a pílula. Sabe como é: “Não vejo um futuro entre nós” e cada um vai para o seu lado.

Eu contigo não me sinto “eu”.

Aqui há uns dias um anúncio de uma famosa marca de chocolates dizia: “Tu não és tu quando tens fome”. É precisamente o que se passa com estes casais: um deles sente fome de alguma coisa que ficou pelo caminho quando decidiu embarcar na aventura do amor. Pode ser que já não seja uma pessoa tão engraçada como antes ou tenha ganho mais cabelos brancos do que desejava. De qualquer modo, o segredo é não deixar escapar o conselho desse mesmo anúncio de chocolate: “get some nuts” ou, em português muito simpático, ganhar coragem para tomar uma atitude e embarcar numa segunda aventura de redescoberta. Sigmund Freud que regresse à vida: alguém ficará com o “ego” magoado.

Não és tu, sou eu.

É a mais típica estratégia para dar um pontapé em alguém sem amolgar demasiado o sapato. A pessoa que está de saída faz olhinhos de Gato das Botas, põe a voz mais doce que conseguir fazer e pode até chegar ao ponto de dar umas festinhas no cabelo da pessoa que está a despachar. Não é agradável: é uma frase tão batida que já não convence ninguém, embora toda a gente a tente pelo menos uma vez na vida (vá, confesse lá). É porque é “demasiado imaturo” para uma mente tão brilhante como a do companheiro ou “demasiado instável” para alguém tão angelical. Quanto mais adjetivos se conseguir juntar na frase, mais palmadinhas psicológicas nas costas atenuam o fim do namoro. O problema: continua a ser uma queda livre. Mesmo depois da mítica frase: “Podemos continuar a ser amigos”.

Tu nunca me compreendes.

E quando a culpa não é sua e é mesmo da outra pessoa? Se há muitos sapos engolidos e raiva acumulada, certos desapaixonados não têm medo de apontar o dedo aos defeitos alheios. Não conseguem esquecer as noites em branco preocupados com o que o namorado ou namorada foi fazer fora na noite de sábado. Não conseguem ultrapassar aquela vez em que o outro o deixou à espera no Dia dos Namorados porque se “distraiu a conversar” com “os colegas de trabalho”. E — cuidado com esta — há quem não perceba que o namorado ou namorada prefira ir ver o Benfica-Dortmund em vez de um jantar à luz das velas. Quando a relação entra num silêncio onde ninguém se ouve é porque ninguém se compreende. Está dado o mote.

Não estou preparado para assumir um compromisso.

Algumas pessoas têm alergia a alianças, a “regimes de exclusividade” e a mensagem de “bom dia, ‘mor <3”. Há duas estratégias. Ou se justificam com amores passados demasiado traumatizantes, que são muito novos para assentarem e nunca vão conseguir entregar o coração a ninguém; ou então viram o bico ao prego e dizem a intemporal expressão: “Tu sufocas-me”. Resumo da história: fogem a sete pés do namoro como os gatos fogem da água e deixam a pessoa perdidamente apaixonada no altar da sua imaginação. Depois seguem de leito em leito com uma relação aberta aqui e ali.

Quem é ela?

Alerta vermelho! Deixou o telemóvel ligado em cima da bancada, não silenciou as notificações do Tinder, a sua namorada atendeu a chamada do Nuno — sabe, aquele colega de trabalho com quem troca mensagens a toda a hora — ou foi demasiado simpático para a rapariga no café. Não há desculpa rebuscada que apague as labaredas raivosas do olhar da sua namorada nem ramo de rosas que apazigue a falta de confiança que se abriu. “Ela” é cova que escavou para si mesmo. E a sua relação vai atrás.

Vou comprar tabaco. Já venho.

Estava à espera desta, não estava? Há quem saia de casa para comprar tabaco e desapareça qual D. Sebastião perdido em guerra. Não há manhã de nevoeiro que salve este fim: o fumo do cigarro nem sequer deixou rasto e o indivíduo pode demorar uma eternidade — literalmente uma eternidade — a regressar a casa. E não, não é porque não havia Camel e nunca gostou do aroma do Marlboro. É simplesmente porque conheceu uma senhora ou um cavalheiro demasiado interessante da última vez que foi passear o cão e há paixões que só acontecem uma vez. Se acha a versão do “vou comprar tabaco” muito antiquada, não desespere: a modernidade já trouxe novas alternativas, como o “vou dormir, até amanhã” e nunca mais dizer nada. “Porque é que não me respondes?”, pergunta o abandonado. A resposta normalmente nunca chega.