A partir um cenário ingovernável no pós-eleições, Pedro Sánchez vai ter agora de formar um Governo estável. O líder do PSOE disse esta tarde ao Rei que estava pronto a tentar e nas próximas semanas vai ter de encontrar apoio parlamentar para o seu executivo. De um lado o PP, que dificilmente cederá a apoiar um Governo do PSOE que não o apoiou, do outro lado o Podemos e alguns partidos nacionalistas, sendo que a vice-presidência do executivo iria para Iglesias.

Negociar é a palavra de ordem do PSOE daqui para a frente. Apesar de já ter ouvido as exigências e condições dos restantes partidos que conseguiram eleger deputados nas eleições de 20 de dezembro, Pedro Sánchez está agora em posição oficial para negociar. No entanto, a matemática não ajuda. O PSOE precisa de 176 deputados para perfazer uma maioria absoluta, mas só elegeu 90. Necessita agora de procurar alianças.

    1. (Tentar) Negociar com o PP

Esta seria a hipótese mais simples, mas ao mesmo tempo é uma das mais remotas. Mariano Rajoy disse esta tarde que só falaria com Pedro Sánchez se este apoiasse o Governo do PP, o partido que conseguiu eleger mais deputados nas eleições – 123 mandatos. Com esta opção agora afastada, caberá a Sánchez tentar manter o diálogo aberto com a direita, tendo em consideração que mesmo na hipótese remota de Rajoy se sentar à mesma mesa do socialista, muito do programa do PSOE teria de se acomodar às propostas do PP. Se um governo de coligação entre estes dois partidos está fora de consideração, um acordo parlamentar parece também muito improvável.

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    2.  Podemos é possível, mas não chega

O partido de Pablo Iglesias conseguiu eleger 69 deputados, mas não chega para perfazer uma maioria com o PSOE. Em troca do apoio dos seus eleitos, Iglesias já  impôs algumas condições a Sánchez, nomeadamente que o seu partido integrasse o executivo, com o líder como número dois de Sánchez. Outra exigência era a realização do referendo sobre a autodeterminação da Catalunha, proposta a que os socialistas se opõem, mas que Iglesias também já deu sinais de deixar cair ao afirmar que não é tempo de manter “linhas vermelhas”. O Podemos sabe que está em posição privilegiada para negociar com o PSOE, já que sem o PP, Sánchez está dependente deste apoio. No entanto, não é suficiente. Iglesias já terá iniciado conversações com a Izquierda Unida (IU), que elegeu dois deputados, para um apoio parlamentar e esta combinação PSOE+Podemos+IU, necessitaria ainda e sempre da abstenção dos nacionalistas ou do Cuidadanos.

     3. Ciudadanos também não chega

Com apenas 40 deputados eleitos, o Cuidadanos não é a solução  para o problema de Sánchez, mas pode facilitar um Governo entre PSOE e Podemos. Só há um problema: o antagonismo total entre o Podemos e o Cuidadanos. Os problemas entre estes dois partidos tornam difícil conseguir que um apoie ou se abstenha face a uma proposta que venha do outro lado. Pablo Iglesias já avisou Sánchez que teria sempre de escolher entre um ou ou outro. E do outro lado, o discurso não muda muito. No fim-de-semana, Albert Rivera lembrou que Sánchez tinha de escolher entre a social-democracia “ou concorrer com o populismo do Podemos”, uma clara indicação que não haverá um acordo a três, embora um entendimento parlamentar seja mais fácil de sustentar para o Ciudadanos caso o Podemos não esteja coligado no Governo com o PSOE.

     4. O problema dos nacionalistas

Mesmo conseguindo um acordo com o Podemos, sem a garantia da abstenção do Ciudadanos, Sánchez poderá ficar refém dos partidos nacionalistas. Todos com menos de 10 deputados, há cinco partidos que podem apoiar uma solução de Governo à esquerda, mas que em troca pedirão referendos de independência e regalias para as suas regiões, pontos em que Sánchez pode não estar pronto a ceder. O PSOE não lho permitiria. Nem com o referendo interno sobre coligações de poder, o trunfo que jogou para contrariar as críticas dos barões do partido.